001| a caixa.

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01.

Um solavanco forte. Dois. Somente o terceiro é capaz de arrancar a garota da inconsciência pós-anestesia. O cubo feito de grades metálicas sobe com tanta velocidade que o corpo enfraquecido é arremessado para cima, antes de a gravidade puxá-lo de volta para a base de metal com violência. O gosto ferroso de sangue inunda sua boca, mas ele não é tão incômodo quanto a dor lancinante na base de suas costas, que faz lágrimas raivosas brotarem no canto de seus olhos em conjunto com um grito rouco de agonia.

Não há tempo para questionamentos. Quando os pensamentos de dúvida começam a apontar em sua mente, e perguntas como "onde eu estou" passam a pairar em sua cabeça, o barulho de metal batendo contra metal a arrancam brutalmente do torpor da confusão. Grasnidos enlouquecidos fazem com que ela tenha que se levantar através da dor. Firmando os coturnos gastos nas grades inseguras abaixo de si, os olhos buscam localizar a fonte dos ruídos animalescos, mas não há o que enxergar na escuridão da caixa, e a pouca luz vermelha que advém aleatoriamente de uma lâmpada fluorescente não é o bastante. Aquela coisa está vindo.

O que é aquela coisa?

Como se respondendo sua pergunta, a besta se atirou contra as grades de maneira alucinada, como se pudesse alcançá-la ali dentro. Arranhando. Grunhindo. Se debatendo. Não havia maneira de controlar o grito agudo apavorado que escapa de sua garganta de maneira involuntária. Não existia maneira de se defender. Dentro daquela caixa, ela era uma presa fácil. A vítima. E aquela coisa, o seu algoz.

O suor frio fez suas roupas grudarem, e algum líquido quente desceu pelos jeans claros envelhecidos e rasgados na base do joelho. Isso quase a faz lembrar de algo, mas não existiam mais memórias. Só havia essa coceira irritante no fundo do cérebro, onde algo devia existir naquele vazio incômodo, e a vibração forte de seu coração batendo vigoroso no peito abaixo da regata preta, bombeando sangue inundado de adrenalina por suas veias.

Mais um solavanco antes da caixa voltar a subir à toda velocidade. Outro baque. Ela podia escutar a criatura se afastar com ruídos de descontentamento, mas isso não gerou nenhum alívio. Tudo que havia era aquele maldito silêncio torturante. Ela poderia contar as batidas do próprio coração se quisesse. Onde eu estou?

Um som estridente e ensurdecedor preencheu a quietude, arrancando outro grito agonizante, mas dessa vez, ela sequer pôde ouvir a própria voz. Ou os próprios pensamentos. A sirene era tão alta que fez com que seu corpo se encolhesse, as mãos espalmadas nos próprios ouvidos visando abafar aquele alarme infernal. Como um arranhão em uma lousa. Um incômodo crescente. A firmeza em seus pés desapareceu como se estivesse afundando em areia movediça, a medida que seu corpo começou a pesar como se fosse feito de alguma substância mole. Primeiro, os ombros. Os braços tremeram, como se subitamente não houvesse força para sustentá-los. E então, as pernas. Até que a inconsciência voltou a ameaçar abater seu corpo. Não apague.

Aquela coisa vai te pegar.

Tarde demais. 

O cheiro de terra úmida, carvão e grama viva era o primeiro sinal de que a garota estava viva, de fato. Ela inspirou com força, como se aquele fosse o melhor aroma que ela havia sentido há muito tempo. Havia algo humano naquela essência — quase familiar —, que emanava o calor de casa, embora ela não tivesse uma. Seus dedos estavam adormecidos, e embora ela não pudesse sentir a ponta deles, sabia que segurava algo com força como se sua vida dependesse disso. Quase como se estivesse se segurando para não se afogar. A textura em seus dedos soava como tecido. Algo fino, talvez de algodão, com um cheiro que parecia tão tremendamente familiar que fazia sua mente sem memórias queimar.

RISE | the maze runner.Where stories live. Discover now