𝔰𝔢 𝔞𝔣𝔬𝔤𝔲𝔢 𝔢𝔪 𝔱𝔦 𝔰𝔬𝔷𝔦𝔫𝔥𝔬.

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envolvida por seu encantamento adornado de belas palavras e juras tão lindas, eu não imaginava estar prestes a beijar a boca do diabo

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envolvida por seu encantamento adornado de belas palavras e juras tão lindas, eu não imaginava estar prestes a beijar a boca do diabo.

você me fez sua, narciso, mas não ao amor, não porque me amava. fui sua súdita, reduzida à submissão de estar na plateia do seu show de horrores, aplaudindo seu ego tão escorregadio quanto aquelas correntes que me prendiam a ti. inocência minha ao acreditar no que você dizia, engolindo do adocicado sabor da malícia de tuas falsas promessas que me viciaram numa amarga ilusão destrutiva.

no seu reino, narciso, eu não existia. e, tão tola, eu permaneci ali, me afundando no seu mar venenoso. os tentáculos de seus monstros me aprisionaram no seu calabouço, me obrigando a te assistir admirar a si mesmo no reflexo daquelas águas com meu coração na mão, o triturando com seus anéis de espinho a cada esboço de um sorriso ácido que corroía aqueles lábios que um dia sussurraram sobre me amar. o eco de minhas súplicas parecia não chegar perto do seu coração de gelo onde eu nunca estive.

você nunca me amou, narciso. você amava ser amado, amava me ter aos seus pés, amava estar no pedestal onde te coloquei.

o meu amor valioso, envolto a prata, diamantes e cristais, para ti, não valia nada mais do que um simples prêmio para acariciar sua arrogância a par de seu egoísmo, tão grande que, por um segundo, pareceu me cegar. no entanto, você não conseguiu arrancar meus olhos.

se você quer se afogar em ti, narciso, vá em frente, mas não estarei ao teu lado para que você me leve junto para seu inferno.

adornada em arames farpados, me liberto das garras de sua prisão corrosiva, escapando de suas armadilhas afiadas que tentavam me acorrentar mais uma vez a ti. se contemple mais, narciso, mas não conte comigo para isso. as feridas estão abertas, sangrando perante a batalha. estou quebrada, livre, mas quebrada. junto os cacos e os remendo de volta, tarefa árdua, que vale a pena, porque sou eu.

diante do teu mar que te afoga, narciso, sou impermeável.


🖤

NARCISO ♥︎Where stories live. Discover now