The witch.

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No primeiro momento, ninguém soube ao certo de onde vinha a batida.
Entretanto, logo veio outra, mais ruidosa. Alguém estava às portas dos Nunca.

“O Circo está fechado!”, rugiu o lobo.
Mais duas batidas.

“Achei que os professores estivessem trancados em seus quartos”, sussurrou Agatha.

“Então não é um professor, obviamente”, sussurrou Kiko, com os olhos colados em Tristan.

O olhar de Carina cruzou com o de Hester, do outro lado do corredor. Assustadas, as duas garotas viraram-se para trás, na direção das portas, que tremiam com as batidas.

“Você não terá permissão para entrar!”, esbravejou o lobo.

As batidas cessaram.

Carina suspirou.

Então as portas rangeram, abrindo-se vagarosa e magicamente.

Uma figura encoberta por um capuz preto esgueirou-se pelo Teatro das Fábulas. Centenas de olhos observaram-na deslizar pelo corredor em passos silenciosos, com uma capa de pele de cobra arrastando-se por trás, como um véu de noiva. Lenta e
silenciosamente, a sombra preta subiu até o palco, e ficou em pé abaixo da Coroa do Circo, com as escamas da pele de cobra reluzindo sob a luz das chamas e o queixo colado ao peito, como um morcego.

As portas bateram, fechando-se.
Dedos claros deslizaram para fora da capa e puxaram o capuz para trás.

Sophie ficou olhando para baixo, para a sua plateia, com seu nariz e queixo
marcados por verrugas. Mechas brancas entremeavam seus cabelos pintados de preto. Seus olhos cor de esmeralda eram agora de um cinza turvo, sua pele estava tão fina que era possível enxergar suas veias.

Lentamente ela observou a multidão, assimilando os rostos assustados com um sorriso de escárnio. Então ela viu Carina, em sua realeza, de verde, perdeu o sorriso.

Sophie encarou-a, com as pupilas cinzentas enevoadas de pavor.

“Vejo que temos uma nova princesa”, disse, baixinho. “Bonita, não?”

Carina encarou-a também, já não sentindo mais pena nem desejo de agradar.

“Mas olhem mais atentamente, crianças, e vejam a vampira que ela é, vindo sugar nossas almas”, Sophie disse, debochada. “Já que ela não tem uma.”

Por baixo do vestido, Carina tremeu, mas resistiu ao olhar fulminante, até que Sophie subitamente virou-se para Tedros e sorriu.

“Meu querido Teddy! Que bom vê-lo aqui. Acredito que ainda temos nossa
competição para terminar.”

“O Circo acabou”, Tedros vociferou. “Uma vencedora já foi coroada.”

“Entendo”, disse Sophie. “Então o que é aquilo?”

Ela apontou seu dedo ossudo para o ar, e todos olharam para cima, para a Coroa pendurada, ainda completamente intacta.

“Isso é ruim”, Hester disse a Anadil.

“Isso é muito ruim.”

Tedros levantou-se, do outro lado do corredor.

“Apenas vá embora”, rugiu para Sophie. “Antes que faça papel de tola.”

Sophie sorriu.

“Com medo, é?”

Tedros estufou o peito, tentando se conter. Sentia os olhos dos Sempre sobre ele, como sentiu na Clareira, quando Sophie expôs sua promessa.

“Mostre-nos, Teddy”, Sophie disse, com doçura. “Mostre-me algo que eu não possa igualar.”

Tedros cerrou os dentes, lutando com seu orgulho.

Vex subitamente notou um estandarte queimado no chão, escrito EQUIPE DO
MAL. Seus olhos cintilaram de esperança.

“MOSTRA!”, ele gritou, e deu um soco em Brone, que aderiu. “MOSTRA!
MOSTRA!” Num ímpeto de tentar arrebatar a vitória das garras da derrota, os Nunca.entraram no coro. “MOSTRA! MOSTRA!”

“Não! Parem!”, Hester gritou, conforme ela e Anadil viraram...

Os vilões rosnaram para elas como se fossem traidoras, e as duas bruxas rapidamente ingressaram no canto.
Contudo, enquanto a torcida dos Nunca tomava vulto, Tedros mantinha-se imóvel.

Os Sempre remexiam-se em seus lugares, impacientes para que seu Capitão aceitasse o desafio. Todos, exceto Carina, que fechou os olhos.
Não faça isso. Isso é o que ela quer.
Rugidos ecoavam pelo ar. Os olhos de Carina rapidamente se abriram...

Tedros estava atravessando rumo ao palco.

“Não!”, ela gritou, mas os vivas de ambos os lados abafaram seu grito.
Separada de Tedros por dois metros, Sophie sorria deliciosamente, e o príncipe a encarava, furioso. Nenhum dos dois disse uma palavra, enquanto os Nunca gritavam

“É DO MAL! É DO MAL! É DO MAL”, e os Sempre, “É DO BEM! É DO BEM! É DO
BEM!”. Trovões ressoaram a distância, e os vivas aumentaram, engolindo o barulho da tempestade.

Os músculos de Tedros contraíram-se, as maçãs de seu rosto salientaram-se, e o sorriso de Sophie se alargou. Carina tremia com mais força, com medo, olhando o sorriso de Sophie, agora provocador, debochado, até que o príncipe finalmente ficou vermelho de fúria, com o dedo reluzindo em dourado, e quando pareceu que ele
atacaria...

Ele caiu de joelhos.

O salão silenciou, em choque.
Os Nunca vibraram, vitoriosos. Carina ficou branca.

Com um suspiro de pesar, Sophie caminhou em direção ao príncipe ajoelhado. Ela tocou delicadamente em seus cabelos louros e fitou seus olhos azuis amedrontados.

“Finalmente estou fazendo o meu dever de casa, Teddy. Quer ver?”

Tedros retesou-se. “Ainda é a minha vez.”

Ele desembainhou a espada e Sophie recuou. Entretanto, em vez de golpeá-la, Tedros agachou-se em um dos joelhos, virou-se para o corredor, empunhou a espada em direção à multidão...

“Carina do País das Maravilhas.”
Ele baixou a espada. “Quer ser minha princesa para o Baile?”

Sophie congelou. Os Nunca pararam de vibrar.

No silêncio mortal, Carina tentou respirar. Então viu o rosto de Sophie, o choque se fundindo à dor. Fitando os olhos fundos e assustados de Sophie, Carina caiu na velha cova da escuridão e da dúvida...

Até que um garoto a trouxe de volta.
Um garoto apoiado em um dos joelhos, olhando para ela do jeito que olhara através de goblins e caixões. Um garoto que a escolhera muito antes que os dois soubessem. Um garoto que agora pedia que ela o escolhesse.

Carina olhou de volta para seu príncipe.

“Sim.”

“Não!”, gritou Beatrix, ficando em pé.
Chaddick caiu de joelhos à sua frente.

“Beatrix, você quer ser minha princesa para o Baile?”

Um a um, os garotos Sempre foram caindo de joelhos.

“Reena, você quer ser minha princesa para o Baile?”, disse Nicholas.

“Giselle, quer ser minha princesa para o Baile?”, disse Tarquin.

“Ava, quer ser minha princesa para o Baile?”

Os meninos ajoelharam-se em um ritmo glorioso, com as mãos estendidas. Cada
menina ouviu seu nome, cada menina suspirou, até que sobrou somente uma sem ninguém para amar. As lágrimas cegaram Kiko e ela limpou-as, sabendo que fracassaria – mas então viu Greggor à sua frente, sobre um dos joelhos.

“Quer ser minha princesa para o Baile?”

“Sim!”, Kika gritou.

“Sim!”, disse Reena.

“Sim!”, disse Giselle.

Pelo Teatro emanavam ondas de êxtase – “Sim!” “Sim!” “Sim!” – até que o mar de amor envolveu até mesmo Beatrix, que esboçou seu melhor sorriso e pegou a mão de Chaddick.

“Sim!”

The Queen of Your Heart - SGENơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ