Capitúlo único

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POV'S Sharkboy
Meus olhos abriram-se com certa lentidão,
acompanhando o ritmo em que minha consciência retornava a mim. Levando em consideração a velocidade amena com a qual acordei, seria comum imaginar que o fiz com tristeza, ou mesmo que não tinha vontade de o fazer, mas, para minha própria surpresa, essa teoria não condizia com a realidade;
estranhamente, uma chama de repentina alegria
e motivação acendeu sem aviso prévio dentro de
meu coração que a muito estava se afundando em uma fria desesperança. Não havia nenhum motivo aparente para tal renovação de forças, mas algo me dizia que as buscas por meu pai, que sempre me levavam a lugar nenhum, poderiam obter algum resultado; ou quem sabe, a boa sensação que me consumia tivesse relação descoberta...bom, com
outra descoberta, independentemente do que sejam essas relaxantes, mas ao mesmo tempo, enigmáticas borboletas em meu estômago, não posso ficar aqui parado esperando que elas tragam algum significado místico. Não há nada a fazer se não o que faço todos os dias, no final das contas.
"Sharkboy?" A voz de Therry, um dos tubarões que a muito salvaram-me da tempestade que me separou de meu pai, diz enquanto o mesmo aproximava-se da limitada faixa de terra em que eu já estava acostumado a passar minhas noites.
"Já está acordado? Podemos dizer que esse é um novo recorde seu"
"É tão cedo assim?" Questionei, abrindo um pequeno sorriso enquanto sentava-me, esticando os músculos rígidos de meu corpo.
"Tratando de você, estamos praticamente na madrugada" Ele diz, mas ao julgar pelos raios solares que adentravam as poucas rachaduras da caverna que eu tinha como lar, a madrugada já se despedira a muito tempo. Deixei que uma risadinha escapasse de meus lábios enquanto atirava meu corpo em direção a fria água do oceano. Ter a vasta
imensidão dos mares tão perto de mim era extremamente reconfortante e, de certa forma,
renovador. E por isso, me permiti perder alguns
minutos que poderiam ser gastado com o início de minhas buscas com um descontraído nado calmo.
Retornei a superfície cerca de dez minutos
depois, tempo em que era perfeitamente capaz de permanecer submerso, graças aos atributos de tubarão que havia adquirido com o tempo.
"Pretende começar suas buscas agora?" Sae, a tubarão fêmea que também fazia parte do
grupo que eu agora tinha como família, disse,
aproximando-se de mim com um nado calmo,
seu tom de voz fazendo suas palavras soarem
como uma repreensão.
"A-Ah, claro" Disse, tentando passar a ideia de que meu momento de relaxamento era, na realidade, um momento de aquecimento. "Eu só estava esticando os músculos, você sabe como é"
"Não cobre tanto dele, Sae" Therry se pronuncia novamente. Sae lança um "que seja" um pouco
impaciente antes de nos deixar a sós mais uma vez.
"Você sabe como ela é" O tubarão ao meu lado diz, com uma breve risadinha.
"E como não saber?" Rebati, sorrindo. "Mas ela está certa, eu devo me apressar"
"Certo, vou chamar o resto do grupo para
que possamos seguir, então"
"A-Ah, Therry..." chamei, com certa hesitação. "Será que eu poderia ir sozinho na frente? Sei que vocês me alcançarão sem dificuldades"
Os próximos dois minutos foram preenchidos por olhares sendo trocados, sendo esses receosos por minha parte e enigmáticos da parte dele; por mais que eu tentasse descobrir, não fazia a mínima ideia do que tal gesto significava. E então, quando o silêncio já começava a se tornar incômodo e até mesmo assustador, Therry finalmente o quebra
"Certo, vá. Apenas tome cuidado, sim? Ache um bom lugar para descansar quando a noite estiver chegando, iremos te alcançar"
"Tudo bem. Cuidem-se também" Respondi, sendo incapaz de conter um sorriso. Ao ter meu corpo seguindo na direção oposta de onde o restante de minha família se encontrava, um pensamento insistia em ficar em minha mente: eu era amado.
Lembro-me como se fosse ontem de quando eu era apenas uma inocente criança, que passava horas e horas apenas observando com fascínio o comportamento dos tubarões que constantemente estavam lá. Eu fazia o possível para que se sentissem bem; desde aquela distante época, eu os amava. Quando eu mais precisei deles, mostraram-se solidários. Eles cuidaram de mim, foram minha família e são até hoje o meu apoio, a única coisa que me sustém em meio ao desespero
proporcionado pela perda de meu pai e pelo completo isolamento de outros humanos como eu. Eu não costumo pensar muito sobre isso,mas eu realmente os amo; provavelmente não estaria vivo se não fosse por eles.
"Arg, isso é meloso demais, pare com isso!" ordenei a mim mesmo. Eu definitivamente não era sentimental; aliás, era uma pessoa extremamente cabeça quente e um tanto quanto teimoso demais. Mas hoje, em específico... não sei, algo parecia diferente. E foi assim, completamente fora da
realidade e preso em meus próprios pensamentos, que acabei esbarrando com certa força demais em uma enorme rocha que parecia estrategicamente plantada ali para que eu a acertasse. Devo confessar que, caso não estivesse vestindo minha tradicional roupa que era feita de um material extremamente resistente, poderia ter tido problemas reais com esse contato um tanto quanto violento com essa maldita pedra. Uma dor excruciante em meu ombro esquerdo fora a consequência mais amena que consegui ter. Mas, afinal, o que uma pedra estúpida fazia no meio do oceano? A realidade é que não, ela não estava no meio do oceano. Eu, imerso em meus longínquos devaneios, acabei por não notar que a rota de meu nado encontrava-se na direção que aproximava-se da terra firme e agora eu estava a poucos metros de uma praia.
Felizmente, essa não parecia ter visitantes
principalmente pelo fato de ser cercada por uma
floresta muito provavelmente desabitada porque continuar a nadar com meu ombro nesse estado era simplesmente impensável. Eu ficaria ali, esperando até que meu grupo me encontrasse, o que eu imaginava e esperava que não levasse muito tempo. "Coisas desse tipo só acontecem comigo?"
resmunguei de maneira impaciente enquanto massageava meu ombro dolorido, nadando apenas com os pés até a areia quente da paradisíaca praia que parecia se localizar no meio do nada. Já arfando devido ao esforço, permiti que meu corpo desabasse na areia aquecida pelo sol, que mostrava-se implacável. Foi uma questão de segundos até que eu levantasse em um pulo, o calor sendo de uma intensidade tão grande que tornava impossível o descanso ali. Então, mesmo
com o ombro doendo, forcei-me a realizar uma
corrida rápida até a parte do solo coberta com a
proteção térmica das sombras das intermináveis
árvores que formavam a cobertura vegetal do
local. Não que eu tivesse muita experiência com
a temperatura da areia exposta ao sol, mas eu diria que aquele calor não era o resultado de tal exposição. Algo a mais estava aquecendo o solo
daquele lugar, pois mesmo estando embaixo da
proteção das sombras, as solas de meus pés estavam anormalmente aquecidas, mesmo levando em conta que eu estava calçado, de modo que subi em uma raíz que encontrava-se exposta.
E então, antes que pudesse pensar no que
faria a seguir, uma forte e extremamente quente luz surgiu do que pareceu ser o centro da floresta, eu diria que a cerca de um quilômetro de onde me encontrava pelo modo como destacou o ambiente de onde vinha, mas a julgar pela imensidão desse local, duvido muito que essa tal luz estivesse realmente em seu centro.
Após cerca de dez segundos, ela simplesmente desapareceu, mas o resquício de sua presença fez com que estrelinhas dançassem na frente de meus olhos.
"Arg..." reclamei, apoiando-me com o ombro bom na árvore que me emprestava suas raízes como chão. "Tão forte..." Deixei escapar enquanto tentava recuperar-me da forte tontura que se apossara de mim.

started with a dream (COMPLETA)Where stories live. Discover now