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Conforme os dias foram se passando, a mente de Sana ainda ficava se remoendo sobre um assunto em específico que tinha nome e sobrenome: Chou Tzuyu.

Havia tirado um mês de férias da agência de modelos em que trabalhava, e passava o dia sem fazer nada, apenas comendo besteiras — Coisa que ela definitivamente não podia fazer, pois para ser modelo, seu corpo deveria estar sempre em boa forma.

Foi em uma dessas tardes sem fazer nada, que Sana recebeu uma ligação de seu pai, informando que como eles haviam investido todo o dinheiro em novas máquinas e produtos para a empresa, agora dos Chou e Minatozaki, não havia jeito de pagar alguém para limpar o apartamento que Sana infelizmente moraria com Tzuyu.

Na visão de Sana, aquilo era totalmente improvável de dar certo, elas provavelmente se matariam em menos de uma semana morando juntas.

— Será que dá para sair desse seu mundinho imaginário? Eu não vou limpar isso sozinha, Sana. — A voz de Tzuyu preencheu o ambiente até então silencioso.

Seu pai lhe disse que as duas teriam que limpar o apartamento em que iriam conviver pelos próximos meses, e que os pais das mesmas não iriam poder ajudar em tal tarefa pois estariam ocupados demais.

Sana suspeitava que isso era uma pequena armação de seus pais para que as duas mulheres se aproximassem, mas preferia pensar que eles estavam realmente ocupados.

Sana sentiu um espirro correr em seu nariz e se amaldiçoou por não trazer seu antialérgico, ja que não sabia que o apartamento estaria tão empoeirado e sua rinite atacaria.

Aquele apartamento se encontrava em uma situação precária, onde teriam que ficar o dia inteiro ali, naquele mundo de poeira, mofo e insetos, fora o odor horripilante do local.

Sana sentia que estava cheirando a boca de um mendigo.

Na medida em que varria todo o local em que Tzuyu jogaria água, como se fosse algum tipo de sócia de alguma empresa de água, ela sentia os espirros rasgando sua garganta e lhe dava a sensação de que suas narinas queimavam em um fogo ardente feito o inferno.

Tinha varrido quase o apartamento todo, e ainda tinha que suportar as piadinhas infantis de Tzuyu, do tipo "Se continuar irritada desse jeito, tenho medo de que você vá montar nessa vassoura e sair destruindo o mundo." E se acabando de rir, aumentando gradativamente o seu estresse.

Sana achava que com o tempo, Tzuyu criaria maturidade, mas Tzuyu desceu ladeira abaixo quando teve uma viagem para o Brasil, para desfilar em um evento importante de moda, e voltou pior que antes.

Ela definitivamente nunca iria para lugares como aquele, pois odiaria ficar como Tzuyu, uma criança no corpo de uma adulta.

Sana percebia sim que todos os seus pensamentos, de repente, se voltavam para Tzuyu, seja um assunto bom ou ruim, mas ela nunca ia admitir tal coisa.

Sana bufou baixo e coçou o nariz agressivamente sentindo-o arder e coçar mais ainda. A poeira era insuportável, ela se segurava não surtar e abandonar tudo aquilo.

Se praguejou por ser tão burra a ponto de esquecer algo que seria tão essencial para realizar aquela limpeza sem nenhum problema e seria impossível fazer algo com a rinite atacada naquele ponto.

Sentiu uma estranha queimação em suas costas e percebeu que havia alguém lhe observando, esse alguém era alto e tinha grandes olhos confusos em sua direção.

— Perdeu algo em mim? — Acusou irritada, tanto pela coceira de seu nariz quanto ao par de olhos que se tornaram risonhos.

A modelo Taiwanesa passou o peso de uma perna para a outra e se escorou na vassoura antes de falar:

— Você está tão inquieta que confesso que estou com medo que você bote um ovo nesse chão. — Riu de sua própria piada.

— Esse chão não vai se limpar sozinho, Tzuyu. — A expressão da modelo prodígio se transformou em uma careta azeda.

— Machista opressora.

Sana mesmo não querendo, tinha de admitir que não achava Tzuyu uma pessoa ruim, muito pelo contrário, seu coração achava Tzuyu uma pessoa maravilhosa, que mesmo com sua personalidade "fria" ou "vazia" conseguia sempre tirar um sorriso de alguém e sempre tentava ajudar todos que precisavam, alguém muito esforçado que batalhou muito para conseguir fazer sua carreira como modelo.

Seu cérebro, como modo de defesa, tinha ódio de Tzuyu e qualquer outra coisa que se referia a Taiwanesa, repudiava tudo que ela fazia, sentia ranço, desgosto, repulsão. Seu cérebro odiava Tzuyu como modo de defesa, e usava sua racionalidade para que não permitisse que Sana caísse nos encantos daquela modelo barata.

Um espirro cortou toda a sua linha de pensamentos, que com certeza, ficou presa neles por alguns minutos.

Novamente, o cheiro do perfume da Chou se fez presente no cômodo que ela estava "limpando" se misturando com a poeira e a fazendo espirrar outra vez. Ouviu a risada baixa de Tzuyu, que provavelmente estava rindo de seu espirro, já que a modelo prodígio sempre achou aquele espirro uma graça.

Tzuyu parou em sua frente e lhe ofereceu uma garrafa d'água com alguma coisa por baixo, e Sana a encarou como se tivesse cinco cabeças. Pensava em quantos componentes tóxicos para a raça humana poderiam caber dentro daquela pequena garrafa sem que ela explodisse.

Talvez Tzuyu estivesse tentando lhe envenenar, mas logo descartou a possibilidade, pois elas estavam sem carro e definitivamente não havia como esconder o corpo de uma mulher adulta naquele apartamento.

— O que é isso, Chou? — Viu a modelo taiwanesa estender ainda mais o braço.

— Eu sei o quanto você é tapada e esqueceria o antialérgico, então eu resolvi fazer uma caridade para essa pobre camponesa indefesa, trazendo o seu remédio e facilitando sua vida. — Dramatizou.

— E por quê você não avisou antes?! — Disse exasperada.

— Vou ser sincera e dizer que talvez eu quisesse ver você sofrendo um pouco, mas o importante é que eu trouxe, não é? E pega logo essa merda que meu braço tá' doendo, inferno.

— Eu não vou beber essa água sabendo que você poderia facilmente cuspir nela. — Sentiu vontade de rir quando viu a expressão de Tzuyu "Droga, porque eu não pensei nisso antes?"

Sana pegou dois comprimidos e com dificuldade, engoliu no seco, vendo a expressão de Tzuyu se transformar rapidamente em indignada.

— Mas eu acho um caralho mesmo eu ter trago esse inferno de remédio para você fazer essa desfeita. — Saiu pela porta marchando feito um general, mas com uma vassoura na mão.

Sana estava prestes a retornar para sua faxina quando viu Tzuyu voltando para o cômodo resmungando palavras que não dava para entender.

— E me devolve minha água. — Pegou com uma "falsa" agressividade da mão de Sana, e saiu resmungando novamente feito uma velha rabugenta.

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Cap mais curtinho hoje pq eh meu aniversário 🙅

Inefável. | Satzu. Where stories live. Discover now