A TURBULENCIA ESTÁ AQUI

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Barcelona, agosto de 2022. Oito horas antes da turbulência.

Terceiro verão de Olívia em Barcelona. Às 06h30 o zunir do alarme do celular despertou Olívia. Se arrastando chegou ao banheiro. Sem nem olhar para o espelho, vestiu a primeira coisa que encontrou e se lançou pelas ruas para enfrentar aquela manhã de terça-feira como qualquer outro dia de verão em Barcelona: ensolarado e suado. As duas Barcelonas do verão, a de acima da avenida Diagonal, abandonada por seus moradores que estavam a veranear na Costa Brava; e a Barcelona de baixo da Diagonal, lotada, a dos turistas.

— Não há maneira de eu me acostumar ao verão barcelonês e seus dias intermináveis! — resmungou ao entrar na galeria. Ligou o computador e foi para a copa preparar um café — Onde que é justo, às nove horas da noite ainda estar claro e as pessoas nas ruas? Como se pode ter paz de espírito em um lugar que me faz sentir culpada por querer estar de pijama tomando um chá e assistindo uma série, ao invés de estar bebendo vermut com as pernas bronzeadas expostas num short branco na carrer Enric Granados?

Jorge abriu a boca para comentar quando Fernando chegou com seu caminhar descompromissado, passando a mão pelos cabelos e olhando com curiosidade ao redor.

— Bom dia Dona Encrenca!

O El Baú repetiria a parceria, dessa vez em Málaga. Fernando iria antes para Málaga e queria dar uma olhada. Embora não estivesse envolvido diretamente no evento.

—Não sei se te agradeci. Srta. Sampaio: você foi estupenda! Muito obrigado! Conseguimos alcançar a meta e temos um bom dinheiro para trabalhar nesse trimestre. — Se acomodou sentando-se sobre a mesa de Olívia depois de cumprimentar o restante do pessoal.

Não havia sarcasmo na voz dele e Olívia se sentiu lisonjeada.

— Vindo de você, é um elogio e tanto! Parece que fazemos uma boa parceria.

— Não sei por que vocês não são um casal.

Comentou Jorge com ar afetado passando perto deles. Algo em suas insinuava a esperança de que Fernando dissesse algo como "— Prefiro alguém com mais pelo".

— Porque a gente não acredita em "casal". — Olívia respondeu sem levantar os olhos da folha com os dados do inventário na qual marcava pequenos 'x'.

— Fale por você, Srta. Sampaio. — Fernando inchou ao perceber o interesse de Jorge. Encenando o papel de mal compreendido. — A mocinha aqui não quis namorar comigo porque, segundo ela, eu vivo em Madri 'd'.

— O problema é o seu apego evitativo Fernando.

—Apego o quê? — perguntaram os dois ao mesmo tempo.

Olívia mostrou a língua e pegou na impressora buscar o inventário que seguiria com o material para Málaga.

— Olha Fernando — Jorge com o celular na mão. Acabara de adicionar Fernando na rede social —, se com mais de quatro mil seguidoras, você ainda não achou a ideal. Não acha que talvez seja hora de diversificar? — piscou tentando ser sedutor, mas passando bem longe disso.

Fernando sorriu disfarçando o desconcerto e apontando para o próprio celular, falou:

— Já saí com a maioria dessas amigas. Todas as histórias tiveram algum problema. Ou não tinham nada. Nada que me fizesse olhar para ela e pensar: com essa mulher quero rir de piadas ruins, discutir por bobagem e enfrentar todos os problemas da vida. — Deu de ombros, desinteressado— No dia que alguma me fizer sentir assim me rendo à um relacionamento. Ouviram um burburinho vindo da sala onde estavam as caixas com o material para a exposição que preparavam. Fernando foi para lá.

A RESPOSTA DE ALINAOnde histórias criam vida. Descubra agora