[01] but I don't give a fuck about being a cool kid

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— Acorda, peste — senti um tapa na minha nuca, que fez minha cabeça voar para a frente e quase se afundar no meu pote de leite com cereais. Travando a mandíbula, levantei o rosto e encarei o menino sentado na outra ponta da mesa. Ele devia estar testando minha paciência.

Uma péssima ideia, porque eu sabia que meu humor tinha amanhecido horrendo, e ele não ia querer lidar com as consequências depois.

— Pare com isso, pestinha — grunhi, vendo Chris empurrar para cima do nariz seus óculos, dando um sorriso provocador. Em seguida, senti minhas bochechas sendo terrivelmente esmagadas, e sequer me dei ao trabalho de apalpar elas ou me livrar do aperto. Não tinha nada físico ali.

Mas esse era o maldito poder de Chris. Gerar sensações físicas. Inútil. Ridículo como ele. Ter um irmão mais novo já pode ser uma experiência infernal, agora ter um irmão mais novo em uma família de super-heróis e ele ter descoberto os próprios poderes muito antes de você, era intolerável, insuportável, demoniânico, maquiavélico, satânico, terrível e qualquer outro sinônimo de infernal que você possa achar para somar nessa conta.

— Me diga no que está pensando — ele disse, afundando a colher no próprio cereal e enchendo a boca. Dessa vez não resisti a tentação de esfregar as bochechas com as palmas como se aquilo pudesse fazer passar.

— Chris, pare, por favor.

— Você está pensando que você me inveja porque eu tenho meus super-poderes e você vai morrer velhinha sem os seus — ele disse, e eu o fitei. Acho que Chris sentiu algo no meu olhar, porque pouco depois ele largou minhas bochechas.

Queria acreditar que o que ele viu foi algo que o intimidou, mas no fundo sabia que foi algo que o fez sentir pena.

— Não te invejo, Chris. Sabe o motivo?

— Hm? — Ele grunhiu, como se eu fosse ter uma conversa muito séria com ele. Peguei o pestinha.

— Porque não preciso de poderes para ser notada e conseguir ser alguém na vida. Ao contrário de você — sua cara ofendida voltou, e eu lhe ofereci um sorriso. Dessa vez, eu estava por cima, ele não tinha resposta. — Você tem cinco minutos para estar no carro ou vai a pé até a escola.

Anunciei e me levantei da mesa, deixando meu café da manhã para trás. Quero fingir que não, mas perdi o apetite. Esse assunto sempre me tirava o apetite, então evitava ao máximo pensar nele. Chris me deixou sair da sala sem mais provocações, e não sabia se era porque ele baixou a bola ou porque a essa distância ele não tinha mais poder sobre mim.

Peguei minha mochila jogada no sofá e alcancei a chave do carro pendurada ao lado da porta. Entrei nele e, enquanto esperava Chris, não consegui conter minha mente de voar. 17 anos.

17 anos e eu não tinha descoberto nada que deveria me dar poderes ainda. Chris tinha 14. Achou a fonte dele muito mais novo. E eu não. Era inevitável me sentir um fracasso. Se eu fosse apenas a droga de uma adolescente normal, teria apenas a pressão de terminar o ensino médio e ser aceita em alguma faculdade, fazer parte de algum ciclo-social, equilibrar estudos e uma mente saudável. Mas não era. Nasci uma Jauregui, e graças a isso, tinha tudo isso e ainda o adicional de precisar ser uma super-heroína.

Coisa que, de fato, estava longe de ser. Era só uma adolescente. Como qualquer outra. Não tinha absolutamente nada de especial.

Estava prestes a descer do carro e arrastar Chris quando ele abriu a porta e se joga no banco, jogando os longos cabelos para o lado com uma moda completamente passada de Justin Bieber. Acho que ele não sabia que isso não fazia mais sucesso desde que ele nasceu.

— Cheguei, peste.

Antes de dar a partida no carro, estiquei a mão entre nós dois, a palma virada para cima. Ele bufou.

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⏰ Last updated: Aug 08, 2023 ⏰

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