Shakespeare

40 9 0
                                    


Após isso Izana ficou por muito tempo no celular, meia hora depois entregaram sacolas na porta que o homem pôs para dentro sozinho.

— O que é tudo isso, Zana? — Perguntei vendo as marcas nas sacolas, pareciam ser de lojas bem caras.

— Não sei se é do seu agrado, mas achei melhor mandar comprar para você poder descansar um pouco, minha rainha —  Ele diz isso com bastante simplicidade.

— Então esse bando de coisa... É pra mim? — meus olhos podiam brilhar, eu nunca tive tanta coisa a vida toda.

— É pouco comparado com o que você merece — Ele sorri e meu coração acelera como se eu estivesse prestes a ter um ataque.

— Eu nem tenho onde ficar, Zana... Isso é tanto... — simplesmente tinha desprendido como se falava.

— Minha casa é sua, minha rainha, pode não ser perfeita para você mas vai ficar, eu garanto — ele diz isso enquanto me entregava uma bolsa cheia de acessórios para banho — Quer que eu ligue a banheira para você?

Fiquei de pé na hora.

— Você tem uma banheira? — seguro em seu braço, mas assim que posso sentir efetivamente o toque de sua pele, me afasto como se feito de brasa fosse o seu tato — E... Não precisa se incomodar em fazer bagunça por minha causa.

Meu rosto deve ter ficado vermelho, pois ele me olhou de um jeito engraçado e logo o próprio começou a rir.

— Você precisa aprender a ser menos modesta, Haru — ele fala agarrando minha mão — Você é uma rainha, nunca ouviu que rainhas precisam esbanjar? É algo que elas fazem.

Ele leva coisas que leu em livros muito a sério.

— desde que ninguém vá parar na guilhotina, tudo bem — Dou uma risadinha, recebendo um olhar sombrio que faz minha espinha ficar congelada.

— Apenas os que se oporem — A voz dele foi um sibilo venenoso pior do que qualquer cascavel, para logo em seguida ter uma mudança enorme em seu rosto e voz — espero que goste do perfume de rosas e pinho.

Ele fala enquanto abre kites e mais kites de banho sobre a bancada, todos com cheiros e cores capazes de deixar alguém mais sensível tonto.

— Eu acho que é muito para mim... Eu sou mais discreta, Zana — Coço meu próprio cotovelo, sentindo certa agonia.

Eu percebi que se os sabonetes já são espalhafatoso e nada sutis, fico pensando nas roupas escolhidas por ele.

— Olha aqui — Izana segura meu queixo com um cuidado sem igual — Você foi a sombra a vida toda, minha rainha, eu preciso que todos te vejam... Eu preciso te ver.

Seus olhos violetas encantadores como as flores de íris me hipnotizam com o leve tremor que o albinismo acaba causando pela sensibilidade a luz.

— Mas... Eu não sou muito útil se todos me verem — Eu ainda penso em colaborar com as atividades dele! Não posso ser uma sanguessuga enquanto minha irmã está sob seus cuidados  também.

— Quando for a hora sim, permito que desapareça, vou precisar do meu Yokai das sombras... Mas até lá, eu quero que você possa ser admirada — seu rosto se aproxima demais, tomando um rumo até que ele bruscamente se direciona pra cima e beija minha testa delicadamente — bom banho.

O homem de pele morena se afasta a passos ágeis para fora do banheiro, me deixando sozinha com aquele mar perfumado.

— Bem... O que me resta é usar — seguro um sabonete em formato de flor, seu cheiro especifico havia me conquistado.

A banheira era sultuosa pra mim, deveria caber duas pessoas tranquilamente, tinha lugares por onde a água saia com mais pressão.

— É uma hidromassagem — Falei ao me ajoelhar do lado da banheira, eu coloquei sais de banho dentro... Parecia um sonho.

Enquanto eu me despia, sentia como se o mundo de antes não fizesse mais parte de mim, como se minha pele estivesse livre dos tormentos que me seguiram por anos sem sorrisos e acalento.

A espuma de tom arroxeado toca a minha pele, um perfume que eu gostaria que se impregnasse para sempre nas minhas fibras, tinha certeza que nunca enjoaria de cheirar a flores.
Foi assim que, completamente entorpecida pela sensação de finalmente estar limpa, que me assustei com o Izana de volta no banheiro.

— Aaah! — eu gritei... E admito que foi ridículo tentar me esconder com espuma.

— Desculpa, minha rainha — O homem diz olhando para o chão, acho difícil que ele até mesmo tenha se atrevido a me olhar quando entrou — Eu só queria pegar essas roupas velhas.

Ele levanta um saco plástico que, aparentemente, minhas roupas foram parar.

— O que vai fazer com as minhas roupas? — Tombo minha cabeça, ainda bem retraída na banheira.

— Queimar — Finalmente ele levanta o rosto, nossos olhares se encontrando com a mesma simplicidade que ele falava — Não quero que se lembre dessas coisas nunca mais.

Não recebo um espaço para protestar, e também não queria.

Izana não voltou ao banheiro, eu quem sai depois de usar uma dúzia de cremes que eu nem sabia da existência antes.

O roupão que envolveu a minha pele era tão macio que eu nem queria tirar, mas precisava encontrar onde o Zana tinha deixado as sacolas com as roupas, já que não encontrei nem ele e nem elas na sala.

— Zana? Zana? Cadê você? — chamo enquanto subia para o segundo andar, não tinha nenhum quarto encontravel no primeiro.

Ao chegar lá, encontrei Izana segurando um livro de capa vermelha, enquanto estava sentado em um divã próximo a cama repleta de sacolas.

— Ah... Desculpa, não ouvi você daqui, minha rainha — Ele sorri com a maciez de um campo de algodão em sonhos.

Quando seus dedos se relaxam ao redor do livro vejo o que ele estava lendo

Há quem diga que todas as noites são de sonhos.
Mas há também quem garanta que nem todas, só as de verão. No fundo, isto não tem muita importância.
O que interessa mesmo não é a noite em si, são os sonhos. Sonhos que o homem sonha sempre, em todos os lugares, em todas as épocas do ano, dormindo ou acordado.

Reconheci por saber que esse trecho era justamente de Sonhos de Uma noite de Verão.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Nov 30, 2023 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

O Coelho e a Cobra - Izana Kurokawa Onde histórias criam vida. Descubra agora