Solitário | AZRIEL

capítulo 1

— Você tem certeza disso irmão?

— Tenho, é a coisa mais certa que faço nos últimos tempos. Esse tempo sozinho vai me ajudar a colocar meus pensamentos nos lugares certos.

— Se isso vai te fazer feliz te dou todo o meu apoio.

Quando olho para Rhys tudo o que vejo é amor, o que  me dá coragem para continuar.

Durante anos estive tão obcecado por Mor e o amor que ela supostamente poderia me dar que comecei a acreditar que a amava, mentindo para mim mesmo dizendo que ela estava confusa sobre os seus sentimentos e que quando estivesse certa sobre o que sentia iria a minha procura. Então aconteceu, dois anos atrás no solstício de inverno ela anunciou seu relacionamento com Gwinneth Berdara. Foi um choque para mim, esperei anos por ela para perceber de um dia para outro que tudo o que sentia era carência.

Então tinha Elain, a Archeron do meio era tão gentil e solicita, estava sempre disposta a me escutar ou apenas me fazer companhia. Eu a queria, mas ela tinha um parceiro, um que a merecia mas do que eu, um idiota que não via o quão a preciosa garota estava rendida por seu parceiro mas estava com medo. Elain era jovem, ainda muito imatura apesar do que passou.
Após a morte do seu noivo humano ela havia ficado tão frágil que se agarrou a pessoa mais próxima dela que demonstrou o mínimo de cuidado, essa pessoa fui eu e é claro que me aproveitei disso.

Mas não podia mais, não quando via que minha presença só atrapalhava a todos. Eu via os olhares de pena oferecidos a mim. Odiava quando nos jantares em família Morrigan me olhava com culpa e Gwin ficava envergonhada por estar com sua parceira, odiava estar sempre entre Elain e Lucien assim como Cassian ficou entre mim e Mor durante anos.

Uma ilusão da minha cabeça.

Me despedi de Rhys e fui para fora do escritório me sentindo comprimido dentro daquelas paredes. Voei até a casa do vento, a procura da pessoa que eu poderia despejar todas as minhas merdas sem me sentir um lixo.

Encontrei Nestha na biblioteca privada da casa, esparramada em uma poltrona lendo um livro e completamente relaxada.

— Estava me perguntando quando você chegaria.- disse sem tirar os olhos de seu livro.

— Demorou mais do que eu esperava.

— Então você vai mesmo.- seus olhos gélido se encontram com os meus.

Não sei em que momento eu e Nestha nos tornamos tão próximos, se foi quando comecei a treinar as Valquírias, ou quando fomos em um karaoke em Velaris e fizemos um dueto, ou talvez tenha sido quando eu roubei algumas garrafas de vinho do Rhys e passei a noite inteira me embebedando e me afundando na minha própria tristeza e Nestha me encontrou, não que eu estivesse realmente me escondendo, e me escutou calada chorar sobre como era um idiota carente.

Ela é minha amiga. Nos últimos anos se tornou uma das mais valiosas amizades.

— Sim. Vim me despedir.

— Quando disse pra você dar um tempo de tudo não tava falando de aposentadoria, você é velho mas nem tanto morcego.- falou em tom bem humorado.

— Não estou me aposentando só... Tirando férias.- é, acho que esse é o termo.
"Férias", um tempo só pra mim.- Eu vou voltar não precisa sentir saudade.

Me sentei em uma poltrona ao seu lado pegando um livro da pilha de romance deixados pela casa.

— Esse você já leu, pega esse é sobre um capitão pirata e uma princesa fugitiva.

Olho para capa vendo que realmente já tinha lido e aceito o livro que estendeu para mim.

— Para onde vai primeiro?

Penso sobre sua pergunta e realmente não faço ideia, quando pensei em tirar férias e sair um pouco de casa não tinha um destino em mente.

— Não faço ideia.- admito, me sentindo um pouco idiota.- A verdade e que com mais de quinhentos anos não há muito lugares em Prithyan que eu não conheça.

— E aí está meu caro, em Prithyan, há muito mais do que  Prithyan no mundo e há muitos outro mundos para se conhecer. - Nestha fala animada, se levantando e procurando algo entre as muitas pratileiras, ela se movia entre os livros com uma fluidez que era como se estivesse voando. - Se estiver pensando em outros mundos posso ver com a harpa se consigo abrir um portal para você, mas se quiser algo mais perto...

Ela joga um pesado livro na mesinha de centro fazendo subir uma nuvem de fumaça.

— Encontrei esse livro á alguns meses, Fala sobre as cortes e reinos de todos os lugares, não só desse continente.

Fico curioso sobre o livro. Durante meu trabalho como o espião da corte noturna estive em muitos lugares dentro e fora de Prithyan  mas nunca a passeio ou como uma forma de lazer.

— Fale.

— Há um reino em especial que sempre me deixou curiosa, a pouca informação sobre mas as que tem são... surpreendentes. - Abre em uma página específica do livro onde á imagens de criaturas aladas, parecidas com enormes largatos, em destaque o nome Enora aparece em dourado no topo da página. - Fica no continente ao leste de Prythian, é um reino mais afastado, das informações que temos diz que eles estavam em guerra a vinte anos atrás, uma guerra civil, e isso mudou as fronteiras do reino. Pelo que diz no livro, durante está guerra criaturas a muito adormecidas acordaram e uma delas é o dragão. Criatura sagrada pra eles que a séculos não era vista, achava-se que estavam perdidos para sempre.

— E o povo de lá, como são?- perguntei interessado neste reino, me inclinei para mais perto do livro.

— São um povo diversificado, à humanos, feéricos e um povo chamado Crow blues. Eles levam esse nome por conta das suas asas muito semelhantes a de um corvo e por conta de seu sangue ser azul, aqui no livro diz que os guerreiros fazem tinta com o sangue do inimigo.

Um lugar encantador de fato.

— Acho que já tenho meu destino, preciso ir para não me atrasar.- me levanto ao som das sombras me dizendo que para mim chegar ao meu destino teria que ir de barco. - Não sinta a minha falta Nestha, isso vai acabar com a sua reputação.

— Digo o mesmo mestre espião.

Sinto o seu cheiro antes mesmo de o vê-lo.

— Estava achando mesmo que iria ir embora sem se despedir de mim? Idiota.- Cassiam me abraça tão apertado que sinto meus músculos rígidos.

— É bom te ver também irmão.

— indo embora nas sombras Az, não esperava nada diferente de você.

— Não sou bom com despedidas.

— Seu velho idiota, não acredito que você realmente tá se aposentando.- me aperta novamente.

— É temporário. - dou um último abraço em Cassian antes de me dirigir a Nestha. Repouso minha mão em sua barriga tomando cuidado com a força.- Prometo que volto antes do pequeno nascer.
Até logo.

Vou para o terraço e voo em direção fora as proteções de Velaris.
Sinto que uma nova jornada me espera longe de Prhytian, em Enora.