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Faltava poucos minutos para o nascer do sol quando Adonis deixou sua amante, ou melhor, namorada, na varanda do quarto dela e seguiu voo para sua casa, não queria acordar sua família, então pousou na varanda de seu quarto e abriu a porta adentrando no ambiente escuro, mas o que ele não percebeu era que já tinha alguém o esperando lá dentro. 

Raphael estava sentado na beira da cama, a mão de metal e a outra de carne apoiadas no colhão, cabeça baixa, mas Adonis podia ver as olheiras debaixo dos olhos azuis feito o mar raso do irmão.

— Aconteceu alguma coisa? — o ruivo perguntou e o gêmeo apenas soltou um riso cansado nasalado.

— Eu e Lissa brigamos — ele disse. — Achei melhor vir para cá.

— E o quarto de hospedes não era o bastante?

— Não teria alguém para conversar lá — ele disse erguendo o rosto e olhando para Adonis. — Você é meu gêmeo, sei que já esta na cidade desde o meio da noite.

— Laço de sangue — diz Adonis indo até o irmão e se sentando ao lado deste. — Qual foi o motivo da briga?

O gêmeo de cabelos negros respirou profundamente.

— Crianças — disse ele fazendo Adonis erguer as sobrancelhas. — Lissa tem estado... Diferente.

— Diferente?

— Quando ela olha para fêmeas com filhos pequenos... — disse Rapha olhando para o irmão. — Ontem na hora do jantar ela começou a falar sobre isso, sobre como estamos casados faz anos e quase nunca tocamos no assunto bebê.

— E você?

— Eu disse... Disse que ainda tínhamos tempo — o macho suspirou. — E ela perguntou por que esperar tanto, por que todas as vezes que ela veio tocando no assunto eu desconversei. E eu disse que não poderíamos ter filhos.

— Como assim, Raphael?

Rapha apenas olhou de canto de olho para as enormes asas negras de Adonis que olhou para elas também e ele entendeu.

— Ah... — ofegou baixinho.

— Eu não vou arrisca-la — disse o moreno. — Se a criança vier com asas é o fim, a minha parceira morre e a criança também, como aconteceu com Nyx.

— Ou você poderia se jogar no Caldeirão para mudar isso — Adonis disse propositalmente afiado e o irmão o olhou com desdém. — Mas, você se esquece que somos mestiços, se você e Lissa terem uma criança há a probabilidade de não vir com asas.

— Como eu disse, prefiro não arriscar... — ia dizendo Raphael até que a porta do quarto de Adonis se abriu e os dois olharam para ali vendo a mãe deles parada com uma mão na maçaneta e a outra no batente da porta.

— Alguma coisa aconteceu — ela diz e ambos erguem as sobrancelhas.

— Como assim isso foi uma afirmação e não uma pergunta, mãe? — disse Adonis e a ruiva semicerrou os olhos.

— Eu conheço as minhas crias — ela diz entrando no quarto e os dois machos reviraram os olhos. — Primeiro, meu filho que é casado, mora fora, está aqui aparentando não dormir a noite toda — chegou aos dois e os fez abrir espaço para que se sentasse entre eles. — Segundo, meu outro filho que chegou durante a noite não veio para casa direto.

— Como você sabe? — Raphael perguntou.

— Sua cara e o pai de vocês sabe exatamente quando Adonis vai e volta das missões — ela diz colocando uma mão em cada joelho dos filhos que se entreolharam.

— Raphael está com problemas conjugais e eu fui ver uma pessoa — Adonis diz deixando Gwyn surpresa.

— Ei! — exclamou Rapha.

— Você e Lissa brigaram? — perguntou ela olhando para Raphael. — E que pessoa? — olhou para Adonis.

— Ele não vai contar — disse o moreno. — Ele nunca conta nada.

— Não preciso ficar espalhando a minha intimidade — retrucou Adonis e Gwyn fechou os olhos os revirando e voltou a atenção a Raphael.

— O que aconteceu? — perguntou Gwyn e Raphael suspirou profundamente.

— Lissa quer... Quer um bebê — ele diz e Gwyn rapidamente arrumou a postura e Adonis viu os olhos da mãe estatelarem e brilharem como gemas preciosas. — Mas eu disse que não vamos ter por que é arriscado para ela.

O brilho de entusiasmo da genitora dos gêmeos fora sumindo e ela olhou para Adonis e para as asas dele.

— É... Eu sei — ela disse e pegou na mão dos dois. — Eu tive uma tremenda sorte em ter uma anatomia mais flexível... Mas foi bem doloroso.

— Mesmo que nascemos prematuros? — Raphael pergunta e Gwyn assente dando um longo suspiro.

— Seu pai não gosta de falar, mas o parto de vocês foi complicado — ela disse. — Doze horas de trabalho de parto, o nascimento de vocês foi até tranquilo, mas sofri dilaceração por dentro na hora de vocês saírem, por conta das asas e tive uma hemorragia.

— Pelos deuses, mãe... — disse Adonis apertando a mão dela e Raphael engoliu em seco.

— Mas não me arrependo — disse Gwyn. — Se tivesse que passar de novo por aquilo, eu passaria... Por que... — um sorriso bobo surgiu nos lábios dela. — Quando eu vi vocês toda aquela dor e sofrimento foi insignificante, por que vocês estavam bem e só aquilo importava e o amor que senti quando peguei vocês pela primeira vez nos meus braços... — ela olhou de um para o outro, bochechas coradas e olhos marejados. — Foi maior do que qualquer coisa.

Raphael deu um sorriso doce para a mãe e Adonis não evitou em dar o mesmo sorriso, os gêmeos então juntaram suas testas nas laterais da cabeça da mãe que fechou os olhos com um sorriso no rosto e suspirou profundamente.

— Obrigado, mãe — disse Raphael e Adonis acenou com a cabeça um vez em concordância.

— Mamãe... — a voz manhosa de Kaya chegou ao trio que olhou e direção a porta vendo a menina descabelada e sonolenta de pé segurando um coelho de pelúcia com o pequeno cachorrinho de estimação sentado no chão ao lado dela.

Mas logo uma sombra muito maior que a garota surgiu atrás dela e do pequeno animal, as sombras de do pai se enrolando nela e o próprio apareceu atrás dela.

— Volta pra cama, mamãe, hoje é dia de dormir — disse Kaya fazendo Gwyn e os irmãos dela rirem e o pai deu um pequeno sorriso se abaixando pegando-a nos braços.

Azriel entrou no quarto se aproximando do restante da família.

— Estamos fora da reunião de família? — ele pergunta e Gwyn se levanta.

— Apenas um momento entre mãe e filhos — a ruiva diz indo até Kaya que se inclinou até ela tocando os narizes.

— Fazia tempo que isso não acontecia — disse Raphael se levantando e Adonis em seguida. — Sabe, eu adoraria aquelas panquecas da mamãe nesse exato momento.

— Eu também... Estou morrendo de fome — disse Adonis levando a mão sobre o estomago.

— Quero também... — disse Kaya agarrada em Azriel que soltou uma baixa risada.

— A mamãe vai fazer — ele disse a dando um beijo na cabeça, a entregou para Gwyn que a pegou no colo e se retirou do quarto em direção as escadas para desder com Fluffy, o cachorrinho, as seguindo. O mestre-espião olhou para os filhos.

— Vocês eram pequenos — disse Azriel deixando ambos surpresos. — Cabiam nas minhas duas mãos juntas... Eu tinha medo de quebrar vocês... — ele olhou para Raphael. — Eu também tive medo, Raphael.

Os olhos do irmão brilharam em compreensão e ele assentiu com a cabeça uma vez, Adonis bateu com a mão amigavelmente nas costas do gêmeo. Sabia que não poderia entender os medos do irmão naquela fase da vida dele, mas ao menos poderia estar com ele no que precisasse. 

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