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Capítulo 40

Wangji

O silêncio tomou conta da Wuxian tremia em um canto e não conseguia parar de chorar. Peng estava olhando para o pai, e os olhos de Rouhan estavam fixos em Wuxian .

— O que você acabou de dizer? — perguntou Peng, confuso.

Wuxian pressionou as mãos nos ouvidos, e eu quase conseguia sentir seu medo. Ele abriu a boca para falar, mas nenhum som saiu.

— Olha só, não sei o que está acontecendo, mas é melhor vocês irem embora — sugeriu Rouhan, com um suspiro pesado. Ele foi até Wuxian e tentou levantá-lo.

Ele começou a tremer ainda mais, encolhendo-se todo.

— Não! Por favor, não! — gritou.

Corri até ele e afastei Rouhan.

— Por favor, afaste-se dele.

— O que está acontecendo? — perguntou Peng com o cenho franzido. — Há algum problema com ele? Devo chamar ajuda?

— Não — respondeu Rouhan. — Acho que é melhor eles simplesmente irem embora. É óbvio que ele está tendo algum tipo de colapso nervoso.

— Não é um colapso nervoso! — exclamei, irritado.

— Ele só está... — Faltaram-me palavras, e voltei a atenção para Wuxian. — Wuxian, o que está acontecendo?

— Ele a matou. Era ele que estava na floresta.

Eu me virei para Rouhan e, em um milésimo de segundo, vi o medo em seus olhos.

— Ele a afogou no lago — continuou ele. — Eu vi. Vi quando você a afogou.

— Não sei do que está falando, garoto, então é melhor calar a boca.

— Você matou a sua mulher — afirmou Wuxian, levantando-se. — Eu te vi. Eu estava lá.

— Pai? — sussurrou Peng com voz trêmula.

— Do que ele está falando?

— Como é que eu vou saber? É óbvio que ele é doido. Precisa de tratamento. Sinto muito, Wangji, mas você tem que ir agora. Não sei o que despertou esse ataque de pânico, mas precisa ir atrás de ajuda para esse ômega. Vou cancelar a cobrança pelo barco. Só leve esse garoto embora para que ele possa ser tratado.

— Diga a verdade — ordenou Wuxian, mais firme a cada segundo. — Conte a verdade. Conte o que fez.

Rouhan foi até a mesa e se sentou na cadeira. Ergueu o telefone e o balançou no ar.

— Já chega. Vou chamar a polícia. Isso está fugindo do controle.

Wuxian não disse nada. Cruzou os braços e, mesmo trêmulo, não cedeu.

— Tudo bem. Ligue para eles. Se não fez o que eu estou dizendo, então, ligue para eles.

A mão de Rouhan começou a tremer, e Peng arregalou os olhos, horrorizado.

— Pai, ligue para eles. Disque o número.

Rouhan lentamente largou o telefone na mesa. Peng quase caiu no chão.

— Não, não…

Rouhan olhou para Wuxian, derrotado, surpreso.

— Como? Como você sabe?

— Eu sou aquele garotinho que viu tudo.

— Meu Deus! — Rouhan começou a chorar, cobrindo os olhos com as palmas das mãos.
— Foi um acidente. Um acidente. Eu não queria que…

— Não. — Peng negou com a cabeça.
— Não, a mamãe nos deixou. Lembra? Ela fugiu com um cara. Foi isso que você me contou! Você jurou que foi isso que aconteceu.

— Ela fugiu. Bem, ia fugir. Ela ia nos deixar, Peng. Eu sabia que ela ia embora. Encontrei as ligações de um cara no telefone dela, e ela confirmou. Tivemos uma briga, e ela foi para a floresta. Meu Deus, eu não tive a intenção... Você precisa acreditar em mim, Peng. Eu a amava. Eu a amava muito.

Posicionei-me na frente de Wuxian, sem saber o que Rouhan poderia fazer com ele. Ele parecia desnorteado; andava de um lado para o outro, passando os dedos pelo cabelo. Ele foi até a mesa, destrancou algumas gavetas e puxou alguns papéis.

— Pai, o que está fazendo? — perguntou Peng, espantado.

— Temos que ir, Peng. Precisamos sumir por um tempo. Você e eu, tá bom? Podemos recomeçar tudo. Cometi um erro, mas lidei com a culpa. Vivi cada dia com a culpa pelo que fiz. Nós temos que ir agora.

— Pai, se acalme.

— Não! — O rosto de Rouhan estava vermelho; sua respiração, entrecortada. — Precisamos ir embora, Peng. Temos que... — Sua voz falhou quando ele passou a chorar incontrolavelmente. — Eu a abracei, Peng. Eu a segurei nos meus braços. Eu não queria…

He Peng se aproximou do pai com as mãos erguidas.

— Tudo bem, pai. Venha cá. Venha cá. Nós vamos embora. — Ele abraçou o pai e o puxou para si. — Está tudo bem, pai. Você está bem.

He Rouhan continuou chorando na camisa do filho, falando coisas incompreensíveis.

Quando Peng olhou para mim, fez um gesto para o telefone na mesa e moveu os lábios: “Ligue para a polícia.”

Quando Rouhan percebeu o que estava acontecendo, já era tarde demais. Seu filho o segurou em um abraço de urso e não o soltou mais. A polícia chegou e, depois de algumas explicações,

Rouhan foi preso. O tempo todo, Wuxian se manteve firme. Falou com os policiais de forma contida e forte. Suas palavras eram claras, e sua voz sequer tremeu.

Quando a viatura levou Rouhan embora, ele soltou um grande suspiro.

— Ele foi embora? — perguntou.

— Sim. Ele já foi.

Ele quase desabou no chão, chorando, mas eu o segurei. Eu o abracei, ciente de que suas lágrimas não eram mais de medo.

Eram as lágrimas da liberdade.

Depois desses acontecimentos, a polícia mandou uma equipe de busca para o lago . Levaram cinco dias para encontrar o corpo de Amy. A descoberta teve impacto na vida de muita gente, por todo o lugar. A família de Wuxian lidou com a revelação da melhor forma que podia, ou seja, ficando um ao lado do outro. Eu não fiquei muito preocupado com eles — eles se tornavam mais fortes nos dias mais sombrios.

A pessoa de quem senti mais pena foi o filho. Ele havia acreditado que a mãe o tinha abandonado. Ele viveu todos esses anos ao lado de um pai que, em um piscar de olhos, se transformou em um monstro. Peng tinha um longo caminho pela frente, e eu não sabia como ele ia lidar com as verdades que se desdobravam diante dos seus olhos.

Rezei para que ele encontrasse a paz em meio à tempestade.

(...)

O silêncio das águas Where stories live. Discover now