Capítulo 12

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Haydée queria respostas, mas não as encontraria em qualquer lugar e nem podia perguntar a qualquer pessoa. Ela sabia, porém, que havia um lugar em específico onde perguntas secretas conseguiam respostas igualmente secretas – ou talvez mais.

Já era noite, mas havia várias pessoas que se revezavam para cuidar da biblioteca e mantê-la em pleno funcionamento. Todavia, guardas não ficavam ali. Não havia armas lá, era o que diziam. Eles estavam errados, no entanto. As bibliotecas são os lugares mais perigosos do mundo pois lá dentro estão pensamentos. Pensamentos, por sua vez, destroem tudo o que tocam se usadas da maneira correta.

Ela caminhava pelos corredores com cheiro de folhas de papel velhas e repleto de poeira examinando as estantes em busca de algo útil. Depois de muito andar e de não achar nada, Haydée ficou frustrada e socou uma prateleira, de onde caíram quatro livros grossos – pelo menos para ela, que não era afeiçoada a leitura. Conferindo pelo canto do olho se alguém tinha visto alguma coisa, a mercenária saiu furtivamente com as obras.


- Malditos! Completos inúteis! Tantas palavras e nenhuma que me traga algo de útil! – Haydée chutou os livros com raiva. Estes, voaram para a parede e, com o impacto, algumas folhas acabaram por se soltarem e saírem voando. Vendo isso, Haydée as pegou do chão ainda mais irritada. Acontece que elas acabaram por chamar a atenção da jovem.

- Olha só – ela pensou em voz alta – Parece que tem coisas interessantes por aqui. - Ela se acomodou na cama, tirou os sapatos e começou a ler.

"Hoje é o solstício de inverno, dia do ritual, e eu não me sinto preparada o suficiente.

As Anciãs disseram que eu preciso fazer isso para ficar mais forte e ajudar nosso povo. Tenho plena consciência da importância do ritual, mas... não sei o que me tornarei depois. Uma máquina de combate? Uma arma de guerra?

Eles querem nos dominar usando a violência extrema e cruel, mas às vezes tenho a sensação que meu povo se tornará parecido demais com eles pelo jeito como as coisas estão prosseguindo.

Ou talvez eu esteja errada e essa realmente seja a coisa certa a fazer.

Espero que essas não sejam minhas últimas anotações nesse diário. Caso sejam, espero que saibam que eu fiz o que pude."

- Fez o que pôde? – Haydée se perguntou – Mas quem diabos é você?

Levantando-se, ela pegou os livros jogados na parede e os folheou para saber em quais partes as páginas soltas se encaixavam.

"Os experimentos estão mais lentos do que o esperado, mas estão prosseguindo" dizia uma mulher com o nome de Elescia no escrito com capa púrpura cujo título estava praticamente ilegível, talvez mal cuidado ou só desgastado pelo tempo. Haydée olhou ao redor quando ouviu passos. Rapidamente, pôs no lugar alguns livros na estante e outros, nas dobras das vestes que usava, para examinar com mais tempo, e foi embora da biblioteca.

Como se descobre algo que não pode ser descoberto? Algo que deveria estar escondido a, pelo menos, sete palmos abaixo da terra? E se esse algo, que pode arriscar a sua vida, vier à tona e chegar aos ouvidos de quem não deveria saber?

Obviamente, a mercenária número um da imperatriz e antiga líder do Trio tinha uma vasta experiência com isso, mas todas envolviam coisas que nada tinham a ver com sua vida pessoal. Claro, ela poderia cortar algumas gargantas, esfolar rostos e decepar braços para manter os segredos da imperatriz a salvo ou conseguir benefícios, também para a imperatriz, de outros lugares aos escavar seus podres – certas coisas foram feitas para nunca ver a luz do dia, mas... Ops! Talvez alguém tenha sido descuidado. A questão é que, quando se trata dos seus próprios segredos é possível contar nos dedos em quem se pode confiar e, geralmente, é só você.

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