Portas fechadas

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— Ouch! — O homem reclamou alto quando foi chutado no peito por um dos seguranças da casa. — E-espera, eu posso explicar, o Minnie... — Foi se arrastando com mãos e pés até a parede, acossado. — ...o Minnie disse que eu podia se pagasse 60 dólares...

— Não é permitido transar sem camisinha com nossos rapazes sob nenhuma hipótese, se isso não ficou claro antes, que fique agora — Tales o puxou pelo colarinho da camisa aberta, a amarrotando ainda mais do que já estava. — Aliás, a multa que pedimos por desobedecer esse termo é de 120 dólares.

— 120...?... — O homem ia contestar, mas engoliu em seco quando viu que os olhos castanhos se estreitaram perto dos seus.

— O senhor vai pagar, certo?

— Uau... — Yuda estava contando as notas atrás da sua enorme mesa — 120, exatamente. — Sorriu, satisfeito. — Desde que você começou a trabalhar aqui todo mundo paga as multas sem titubear... devo dizer, você merece um aumento.

— Tch. — Tales se virou pra sair, mesmo sem ser dispensado. — Eu quero é que você me demita, cara.

— Haha, é fácil te dobrar — ele guardou as notas — Pode ficar um pouco no bar, você merece.

"É... eu devo merecer mesmo", Tales pensava, fechando a porta do escritório do chefe atrás de si ao sair. "Mas sinceramente, o que eu fiz?"

Foi pro bar, como Yuda o havia permitido. Se sentou numa das banquetas altas, dobrou o braço sobre o balcão e tirou a carteira de cigarros do bolso interno do paletó do terno.

— Tch... — Reclamou. — Só tem mais um...

— Você fuma bastante, né?

Olhou de soslaio pro rapaz se sentando ao seu lado: sapatos frouxos, calças sociais apertadas, a camisa fina praticamente toda aberta na frente. Os grossos lábios vermelhos, os olhos castanhos claros, os cabelos tingidos de rosa.

— Ah... — Soltou um longo suspiro, massageando o pescoço num repentino retesar de músculos que não sabia de onde vinha. — Você tem me dado muito trabalho provocando os clientes, sabia?

— Sério?... — Ele se fez de desentendido, num falsete bem óbvio. — Mas você é sempre tão bom cobrando as multas, pensei que gostasse disso.

— Claro que eu não gosto. — Apalpou o terno, na busca pelo seu isqueiro. — Eu só trabalho de segurança aqui, sinceramente... — Então começou a resmungar consigo mesmo. — Não deveriam me pôr pra fazer esse tipo de coisa... — Achou o isqueiro. — Nem você deveria provocar os clientes. — Voltou a falar com Miguel. — Não é muita falta de ética?

— "Falta de ética"? — Miguel riu, achando engraçado ouvir o termo dentro do bar de um bordel. — Eu não acho... — Cruzou as pernas, se virando levemente pro lado, com o cotovelo sobre o balcão e uma mão dobrada apoiando o rosto. — É culpa deles por se sentirem tentados...

— E não é culpa sua ficar dando ideia? — Tales guardou o isqueiro de volta, pondo o cigarro aceso na boca.

— É o meu trabalho. — Deu de ombros, movendo em círculos o copo de uísque com gelo que tinha pedido. — Eu o faço direito, assim como você faz o seu. — Molhou os lábios num gole discreto, olhando de canto pro segurança afastando o cigarro seguro nos dedos pra poder soltar um excesso de fumaça esbranquiçada. — A propósito... — Apoiou o queixo nas costas da mão, voltando a mover o copo. — Eu realmente pensei que gostasse de cobrar as multas: sabe, você põe medo neles, é impressionante.

— Ponho? — Tales virou o rosto pra ele, realmente curioso. — Eu nunca notei. — Mas logo voltou o olhar pra estante de bebidas do outro lado do balcão comprido. "Droga, por que o olhar dele...?..."

Cigarettes - Romance GayDonde viven las historias. Descúbrelo ahora