Então me compre

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— Auch... — Tales reclamou sofrido, sentindo as dores no corpo latejando no pouco que se forçou a acender um cigarro. — Cough! — Tossiu: a fumaça entalada na garganta por causa da posição desconfortável. De fato, fumar enquanto estirado no chão irregular de uma viela suja e escura qualquer era foda, mas se foi ali que o jogaram depois de lhe darem uma surra, ali ia ficar até se sentir com coragem o suficiente pra se levantar.

— Auch!! — E foi uma boa surra. — Na boca do estômago... é sacanagem...

— Você está reclamando? — Vincenzo deu mais um chute exatamente no mesmo lugar. — Eu só não te matei ainda porque você trabalha pro Yuda, e com o Yuda eu não apelo porque ele é o braço direito do chefe, e porque aquele namoradinho dele era o antigo mestre de facas. — Se agachou para que os olhos azuis ficassem na linha dos olhos de Tales, ajoelhado no chão com os braços imobilizados por dois dos seus mandados. — Agora... — Segurou sua cabeça com um puxão nos cabelos — Se você retirar o que disse, educadamente, eu posso pensar em parar de chutar seu estômago. O que acha?

— Eu não quero ver o Miguel chorando de novo, e se acontecer vai ser pior pra você — Fez questão de repetir, mesmo sentindo o couro ardendo e o nariz escorrendo sangue — Agora, sobre o que eu acho: eu acho que você tem que se foder.

Nem é preciso dizer que Tales apanhou o triplo depois daquilo, mas de fato, estava bem longe de estar morto, mesmo com o corpo todo estraçalhado a chutes.

"Sobre que merda será que aquele arrombado estava falando?", pensava, soprando um bocado de fumaça aos poucos. "Chefe do meu chefe...namorado do meu chefe... Sinceramente, quanto sobre o Yuda eu não sei? Ou será que ele estava blefando?"

Mas certamente não, e o grosso do assunto, por mais torto que fosse, ele tinha pegado.

— O Cigarettes não é da máfia, é do Yu — Jonas lhe explicava enquanto estavam tomando um shot de uísque no bar no outro dia. — Mas sim, muita gente que frequenta aqui é da máfia, inevitavelmente...

— Oh... — Olhou de soslaio pras tatuagens nos braços do mais novo, expostas pela manga dobrada da camisa social. — Ainda sobre o Yuda... ele tem namorado? — Jonas paralisou com o copinho de shot a meio caminho da boca, e Gui soltou uma risadinha do outro lado do balcão. — O quê?

— O cigarro tá te deixando meio lerdo, não acha não, Tales? — Gui perguntou, recolhendo o seu copinho de shot vazio. — Mais uma?

— Não, não, valeu — Dispensou, puxando um cigarro da carteira. — De qualquer forma, foi bom saber que meu salário suado é dinheiro que vem de tráfico de drogas e venda ilegal de órgãos, chutando por baixo. — Ironizou, com a voz embolada por causa do rolo de fumo seguro na boca. — Agora sim eu tenho um bom motivo pra cair fora.

— Vai pedir demissão quando? — Jonas perguntou, terminando seu shot.

— Mês que vem.

— Vai precisar do dinheiro do tráfico de drogas por mais umas semanas, então?

— Ah, cala a boca! — Guardou o isqueiro, soltando a primeira lufada de fumaça enquanto descia da banqueta do bar. — Eu vou pro segundo andar: vi uns garotos subindo, então vou ficar de olho por lá.

— Ok.

Na verdade, Tales foi porque viu apenas um dos garotos subindo: Miguel, e ele estava sozinho. Quando passou por ele pelo corredor vazio o segurou pelo braço.

— O que foi? — Miguel levantou os olhos pro segurança: o aperto dos seus dedos longos leve, mas firme, perto do seu cotovelo, quase que dando a volta por inteiro; no rosto estranhamente simétrico demais manchas roxas por trás de curativos cortados grosseiramente em quadrados — Ou melhor, o que houve com você??

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⏰ Last updated: Aug 24, 2023 ⏰

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Cigarettes - Romance GayWhere stories live. Discover now