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📄NOAH URREA

Depois de conhecer a minha nova vizinha eu me dei conta de que toda pessoa reservada demais tinha uma pontada de esquisitice em sua personalidade. Aquela mulher agiu de forma retraída e até meio grossa nas duas vezes em que trocou olhares comigo. Eu precisava de uma terceira situação para entender que ela simplesmente não foi com a minha cara desde o momento em que percebeu que eu bebia um pouco demais?

Continuei a tomar o meu café depois de receber uma porta na cara da varanda ao lado. Era irrelevante que as pessoas daquele prédio gostassem de mim. Na verdade eu até preferia que todos se mantivessem longe, então Any estava agindo bem.

A minha ressaca não estava das melhores e a prova disso era a dor de cabeça insuportável que me acompanhou desde o momento em que acordei. Para ser franco, eu mal dormi. Por que a tristeza sempre tinha que vir acompanhada da insônia? Dormir costumava ser uma das coisas simples da vida que eu mais apreciava fazer, agora era uma tarefa difícil e só durava poucas horas até eu acordar no meio de um pesadelo que se repetia todas as noites.

Ao menos quando eu estava bêbado não lembrava dos meus sonhos e dormir era mais fácil, já que eu simplesmente apagava assim que me deitava em algum lugar, podendo ser uma cama, um sofá e até o chão. Era mais fácil encarar a vida quando ela se tornava um borrão na frente dos meus olhos.

O café que eu estava bebendo não era dos melhores, então eu desisti de terminá-lo e saí para comprar algo pronto em uma cafeteria. Pedi um expresso para viagem e assim que dei o primeiro gole decidi incrementar a bebida com um pouco de vodka direto do meu cantil. Misturei o álcool no café e ri ao notar que o gosto era horrível, mas que me seguraria melhor do que cafeína pura.

Voltei para o meu prédio e quando cheguei ao meu andar, vi um homem uniformizado saindo do apartamento de Any. Obviamente, aquele era o seu marido indo trabalhar. Assenti positivamente quando ele passou por mim e ele respondeu com o mesmo gesto. Passei pela porta deles a tempo de ver Any prestes a fechá-la. Nós nos encaramos e novamente eu tive a sensação de que havia algo de esquisito no jeito como ela me olhava. A ignorei e segui com a minha vida.

Assim que coloquei o pé para dentro do apartamento, ouvi um barulho chato vindo do andar de cima. Bailey me avisou que aquela vizinha era barulhenta às vezes e no momento ela não apenas estava ouvindo música alta como também resolveu desafiar a si mesma em uma coreografia que com certeza continha sapateado como um dos passos.

— Isso não é bom para a minha enxaqueca. — falei comigo mesmo e dei mais um gole em meu café batizado.

Voltei imediatamente para fora e fui até o elevador. Subi para o próximo andar e fui à porta de onde a música vinha. Bati algumas vezes tentando soar mais alto que o barulho e então ouvi ela diminuir o volume e atender logo depois. Com um enorme sorriso no rosto, a garota morena com um incrível par de olhos castanhos apoiou-se contra a porta despreocupadamente enquanto me observava.

— Posso ajudar? — perguntou.

— Oi, eu sou o Noah. Acabei de me mudar para o apartamento embaixo do seu.

— Sério? Que legal! Seja bem-vindo! Eu sou a Melanie. — ela ficou estranhamente animada. — Tão gentil vir aqui se apresentar. Ah, ainda trouxe um presente! — esticou a mão na minha direção.

— Isso na... — antes que eu protestasse, ela pegou o café expresso da minha mão e deu um gole muito confiante.

— Ah, Jesus! — fez uma careta e me devolveu no mesmo estante. — São pouco mais de oito da manhã, ficou maluco!?

— Eu ia dizer que isso não é para você. — falei pacientemente.

— Qual é o seu problema? — franziu a testa.

Save Me ⁿᵒᵃⁿʸOnde histórias criam vida. Descubra agora