O VALE DO ARREPENDIMENTO

17 2 4
                                    

       O VALE DO ARREPENDIMENTO

Ops! Esta imagem não segue as nossas directrizes de conteúdo. Para continuares a publicar, por favor, remova-a ou carrega uma imagem diferente.

       O VALE DO ARREPENDIMENTO

A caminhada parecia não ter fim; suas pernas ardiam desagradavelmente. Tudo o que conseguia ver eram as árvores da densa floresta, que pareciam se estender cada vez mais, como um labirinto inseguro. Sua boca estava seca, parecendo ter vida própria enquanto murmurava para si mesmo: 'preciso de água'. Talvez fosse o longo tempo na floresta que o fazia ter essas alucinações constantes. Mas como ele saberia, se a única coisa que desejava agora era descansar? Não havia de maneira alguma um jeito de sair dali.

O sol se preparava para se esconder no horizonte, exibindo sua beleza nas águas claras do riacho que corria ali, com o relaxante som de suas águas cristalinas despencando sobre a linda cachoeira de pedras. O que era aquilo? Pensava ele, enquanto pequenos esquilos gritavam em aviso sobre o perigo que a floresta trazia consigo ao escurecer.

Enfim, como havia parado ali? Ah, ainda era um mistério do qual ele não conseguia decifrar. A única coisa de que se lembrava era de acordar próximo à nascente do rio e pensar que talvez, se seguisse o estreito riacho, de alguma forma chegaria a uma aldeia, já que estas se localizavam próximas às águas correntes dos rios.

Após algumas horas de caminhada, a luz da lua se estendia sobre o céu. Ele já estava quase perdendo a esperança; seu estômago doía constantemente, pedindo por algo para comer. Meu Deus, seria esse o seu fim, ele pensava, enquanto já estava próximo de cair no chão, sem forças para continuar. No entanto, nem tudo estava perdido. Bem distante dali, como se fosse um minúsculo vaga-lume, uma pequena luz estava acesa sobre uma porta de madeira. Seus olhos já estavam turvos; seu cérebro lhe pregava peças, algumas delas bizarras, outras nem tanto. Ele sabia que deveria chegar até aquela porta, talvez conseguisse ajuda lá. Todavia, não sabia que perigo poderia encontrar. Quem moraria no meio da floresta? Poderiam ser canibais, ou talvez um casal de idosos que viviam em busca de algum servo para escravizar. Sua cabeça estava confusa demais para pensar; ele só precisava comer, tomar um banho relaxante e ter um longo cochilo.

À medida que se aproximava da porta, sua esperança aumentava, assim como sua sede. Agora, ali, de frente para a porta, uma dúvida surgia: bater ou não? Eis a questão. O que estaria do outro lado? Misteriosamente, com um rangido alto, a porta se chocou contra a parede, e várias vozes sussurravam lá de dentro. Estava escuro. O que haveria lá dentro? Ele estava confuso; sua cabeça doía como nunca antes. De repente, uma voz pediu que se aproximasse, e foi o que fez. Quando uma mão gigante com enormes garras o arrastou para dentro, a última coisa ouvida naquela calma e imensa floresta foi seu atordoado grito, junto com os sons dos grilos que habitavam ali, porque era para onde as almas ruins iam quando seu infernal e destinado fim chegava.

À medida com que era arrastado para dentro da escuridão, o medo tomou conta dele. Ele tentou se debater, mas suas forças estavam quase esgotadas. A escuridão ao redor parecia devorá-lo, enquanto risadas sussurrantes ecoavam em sua mente. Seus olhos finalmente se acostumaram à penumbra, revelando uma cena perturbadora.

Ele se encontrava em uma sala circular, iluminada apenas por velas tremeluzentes. Figuras encapuzadas e sombrias estavam reunidas, seus rostos escondidos nas sombras. O ar estava impregnado com um aroma adocicado e metálico que o fez sentir náuseas. No centro da sala havia uma estrutura alta e grotesca, coberta por tecidos negros.

As figuras encapuzadas começaram a entoar um cântico em uma língua estranha e desconhecida. O mesmo sentia um frio gélido subindo por sua espinha enquanto suas pernas tremiam. Ele olhou para cima, seus olhos fixos na estrutura coberta, e o terror o dominou.

Sob os tecidos negros, jazia um corpo. Não um corpo humano, mas uma criatura distorcida e horripilante, com membros retorcidos e olhos vazios que pareciam perfurá-lo. Ele sentiu uma onda de horror e repulsa. Aquela cena era além de sua compreensão, e a mente dele lutava para aceitar a realidade distorcida à sua frente.

O cântico das figuras encapuzadas se intensificou, ecoando nas paredes da sala e enchendo sua cabeça com uma cacofonia ensurdecedora. Ele tentou recuar, mas suas pernas mal o sustentavam. Seus pensamentos eram uma confusão de pânico e desespero, e ele ansiava por uma fuga impossível.

Uma das figuras se aproximou dele, revelando um sorriso sinistro sob o capuz. A voz da figura era gélida e melódica quando ela sussurrou: 'Você é o escolhido, o sacrifício que alimentará nosso pacto com as sombras.' O mesmo sentiu um arrepio percorrer seu corpo, compreendendo que ele estava diante de algo muito além de sua compreensão humana.

Com forças quase extintas, ele se lançou em direção à porta, desesperado para escapar daquele pesadelo. Mas antes que pudesse chegar longe, uma onda de escuridão o envolveu, e ele se viu caindo em um abismo de trevas. Seu grito se misturou aos risos maliciosos das figuras encapuzadas enquanto ele era consumido pelo vazio.

Na manhã seguinte, quando a luz do sol começou a brilhar através das árvores da floresta, não havia mais vestígios de seu pobre corpo. A floresta parecia tranquila, como se nada de perturbador tivesse ocorrido ali. Aqueles que se aventuravam por ali podiam sentir um arrepio inexplicável, um sentimento de que algo sombrio e sinistro espreitava nas profundezas da floresta, esperando por sua próxima vítima.

Fim

O VALE DO ARREPENDIMENTO ( CONTO )Onde as histórias ganham vida. Descobre agora