A descoberta

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- O que é isso, filha?

Nervosa por ter visto a mãe a ler o diário, Maria não consegue segurar as lágrimas e começa a chorar. A senhora Lima, desapontada, senta-se na cama, com o diário na mão.

- Maria, talvez a Liliana não seja uma boa influência pra você... Ela está te induzindo pra esse caminho e você sabe que Deus não gosta disso, não é?

- Mãe... - Murmurou Maria. - Eu não sou lésbica. 

- Não é? Então me explica que sonho foi esse...

Maria não sabe o que responder, logo permanece a chorar em silêncio. Para além de estar confusa com a sua orientação sexual, descobriu que não tem o apoio da mãe quanto a isso.

- Ó mãe... Acredita em mim. Foi apenas um sonho, eu não consigo controlar.

- ' Cê acha que eu acredito nisso Maria?

- EU NÃO SOU LÉSBICA, MÃE! - Gritou Maria.

- Você não é o quê? - Pergunta o seu pai.

Maria olha para o pai, amedrontada. Ele esteve a ouvir a conversa desde o início.

- Você tinha razão Maria, não foi boa ideia a gente ter vindo para Portugal. Você sabe que isso é muito errado, porra! Imagine o que vão fofocar sobre a nossa família por sua conta! Eu não vou deixar que a filha demoníaca dos vizinhos transforme você em sapatão. - Disse o senhor Lima.

- MAS EU NÃO SOU LÉSBICA!!!

- Não foi isso que li no seu diário, Maria... - Respondeu a mãe.

- MAS PORQUÊ QUE VOCÊ LEU O MEU DIÁRIO??? ISSO É UM NEGÓCIO PRIVADO!!!

- Você não pode esconder as coisas da gente, você é a nossa filha!

- Privacidade é um direito meu! - Insistiu Maria.

- Eu não ligo para esses mimimis! A gente te criou e estamos aqui para te ajudar, por isso precisamos saber o que está acontecendo no seu dia a dia.

- VOCÊS NÃO ESTÃO ME AJUDANDO, EU SOU UMA ADOLESCENTE E TENHO O TOTAL DIREITO DE SER AMIGA DE QUEM EU QUISER! VOCÊS NÃO ME PODEM PROIBIR DE-

Interrompe o pai, dando uma grande chapada no rosto de Maria. 

- CHEGA, MARIA! A GENTE VAI TER QUE TOMAR UMA ATITUDE QUANTO A ISSO! VOCÊ VAI FICAR DE CASTIGO, SÓ SAINDO DE CASA COM A GENTE POR PERTO!

A mãe levanta-se e põe-se ao lado do pai.

-  O seu pai tem toda a razão! E a partir de agora, você vai todo domingo na igreja comigo, para você conseguir resistir à tentação do mal.

Os pais de Maria dirigem-se até a porta do quarto.

- Ah, tava esquecendo de uma coisa. - Diz o pai, enquanto recuava. Este pega no telemóvel de Maria que estava pousado sobre a sua secretária.

Os pais saem do quarto e Maria volta a cair em lágrimas desesperadas, aninhada dentro dos lençóis da sua cama com a sua gatinha de peluche ao lado. Depois de algum tempo, ela acaba por adormecer.

Duas horas depois, o senhor e a senhora Lima já estavam no trabalho. Entretanto Maria acorda, toma o seu pequeno almoço, arruma as malas e, revoltada, foge de casa. 

Amor na porta ao ladoOnde histórias criam vida. Descubra agora