Capítulo 9

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As pernas da jovem assassina tremiam levemente enquanto Athos e ela trocavam um olhar rápido. O macho não exibia nenhum tipo de emoção nos olhos verdes enquanto olhava fixamente para ela, mas o maxilar trincado foi a única indicação de que ele estava tão desconfortável quanto ela.

    Ok. A hora chegou. Vamos falar com o Lorde.

Evangeline percebeu que Athos deixou que seu olhar se demorasse nela com uma expressão estranha de nervosismo no rosto. Mas logo o feérico se recompôs e começou a andar na direção da porta, abrindo-a com um movimento simples e permitindo que a dupla visse a figura feminina que esperava pacientemente por eles no corredor.

    A garota que os esperava parecia ser algum tipo de elemental da água. Diferente das sereias, elementais aquáticos não necessitavam de água para sobreviverem e a pele pálida e levemente azulada da moça era um indício quase certeiro de sua espécie, os olhos de um branco leitoso, e as orelhas em forma de barbatanas despontando pelos cabelos curtos e negros não permitiram que restasse dúvida alguma nos olhos da assassina.

De todos os elementais aquáticos que Evangeline conhecera durante a vida, aquela garota tinha a pele mais acinzentada que ela já vira. A bruxa franziu levemente as sobrancelhas ao se dar conta do contraste entre a garota à sua frente e suas memórias dos seres azuis vibrantes e de sorriso gentil que conhecera. Há quanto tempo a jovem elemental não via o sol ou entrava na água?

Quantas pessoas viveriam naquela casa nessas condições horríveis? Quantos escravizados ela conheceria em sua estadia na residência do lorde?

Um peso desceu no estômago da assassina enquanto ela observava as feições tristes da garota que os esperava na porta. Ela parecia tão perdida, tão miserável.

— Evangeline, você vem? — Athos murmurou olhando para ela, que estava parada no mesmo lugar há alguns segundos —

— Preciso ir ao banheiro. — Evangeline comentou rapidamente, puxando uma de suas bolsas do chão e se virando para entrar novamente dentro do banheiro. — Já volto.

Evangeline bateu a porta do banheiro com velocidade, fazendo com que um pequeno estrondo da madeira velha ecoasse pelo espaço quase vazio do banheiro enorme. Se ajoelhando no chão, a bruxa começou a revirar avidamente sua bolsa de couro, encontrando um pedaço de papel e seu lápis de carvão.

Forçando seu cérebro a se lembrar dos livros que já havia lido no passado, Evangeline tornou a escrever poucas palavras na página amarelada e amassada, o carvão do lápis sujando levemente a lateral da sua mão enquanto ela respirava rapidamente.

Finalizando a última palavra, ela se levantou, rasgando uma parte do papel e o enfiando no fundo do bolso de sua calça, enquanto lavava as mãos sujas na torneira de prata e recolhia sua bolsa do chão.

— Prontinho. — Ela murmurou ao sair do banheiro e andar rapidamente na direção da porta do quarto — Podemos ir agora.

Ela não voltou seu olhar à Athos, mas conseguiu perceber que os olhos do macho estavam fixados nela enquanto a dupla percorria os corredores vazios e assombrosos da residência.

Vestida com uma túnica branca que apagava sua coloração, a garota elemental parecia uma assombração enquanto andava lentamente pelos corredores da residência. O tilintar das correntes e grilhões de ferro eram estrondosos e irritantes à audição da bruxa. Ela mal podia imaginar a sensação de ficar acorrentada por um dia, imagine por anos.

— Por quê vocês usam essas correntes se já fizeram o juramento de sangue ao Lorde? — Evangeline perguntou, sentindo pena da jovem a sua frente. Athos se manteve em silêncio logo atrás das duas —

COROA DE SOMBRASWhere stories live. Discover now