Capítulo XI

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Ártemis

Minha família sempre me disse para ser a dona do meu destino. Eles sempre me deixaram tomar minhas decisões e faziam de tudo para que eu tivesse liberdade de escolher quem desejava ser e a forma que queria levar minha vida.
Enquanto caminhava pela passarela de madeira rumo ao altar onde Ettore me esperava eu senti que finalmente estava decidindo meu futuro. Foi como se de repente minha decisão tivesse selado o caminho que seguiria daquele momento em diante.

As poucas pessoas reunidas me encaravam com expectativa, mas o olhar que se mantinha fixo em mim era de Ettore. Ele parecia nervoso e ao mesmo tempo sua expressão transmitia algo mais que eu não conseguia entender ou talvez tivesse medo de entender.

Meu pai me guiou até meu noivo e colocou minha mão por cima da dele em um gesto cheio de significados. Para mim queria dizer: estou deixando você seguir o destino que escolheu. Para Ettore queria dizer: estou te entregando minha filha.

O padre era um velho, um senhor da igreja local que frequentemente vinha comemorar o Natal em nossas festas. Ele nos encarou, deu um sorriso satisfeito e começou seu sermão.

Nunca gostei de casamentos, não só da ideia de me casar, eu não gostava da cerimônia em si. Sempre que éramos convidados eu dava uma desculpa ou, quando era menor e não podia escolher, eu dormia.

Para mim aquele papo de “amor eterno”, “amar na saúde e na doença” era muito utópico. Não que eu não acreditasse no amor, eu sabia que ele existia, meus pais eram a prova viva disso. Só não via o amor daquela forma.

Para mim, amar não podia ser resumido em promessas que todos faziam, amar ia além, era algo para ser praticado e sentido no dia a dia. Quando ambos estivessem cansados e mesmo assim renunciasse a suas necessidades pra ver o outro feliz.

Mas eu nunca desejei amor, sempre estive bem sozinha. Por isso, quando o padre começou a citar I coríntios 13 eu simplesmente desliguei minha mente e comecei a encarar o vaso de flores atrás dele.

Eram flores bonitas, a cor delas não parecia real. Mas o cheiro era bem vivido, vivido demais para parecer mentira. Seriam Tulipas? Nunca fui a maior apreciadora de flores e conhecia pouco. Senti um cutucão suave no braço e encarei o padre que me olhava com um sorriso e expectativa, ele já tinha feito a pergunta?

— Acho que a noiva está muito emocionada — brincou quando percebeu minha expressão confusa e então repetiu a pergunta — Ártemis Gunter Del Bortoli, você aceita Ettore Ferrer Martín como seu legítimo esposo para amar e cuidar na saúde e na doença, na alegria e na tristeza até que a morte os separe?

Respeitei fundo, era só responder sim. Era só pronunciar aquela pequena palavra e tudo estaria feito, aquela era a palavra que selaria meu futuro. Naquele instante foi como se tudo passasse em câmera lenta. O padre piscando, Ettore me encarando ansioso, a respiração que todos prendiam esperando que eu dissesse “não”.

— Sim, aceito — confirmei.

O padre então repetiu a pergunta para Ettore e fiquei surpresa com a rapidez com que ele respondeu, quase como se estivesse contando os segundos para aquela pergunta.

Então, as alianças. Eu pensei que mamãe chamaria alguma criança para trazer os anéis. Mas quando olhei para trás, para a passarela, quase não contive as lágrimas. Meu pai empurrando a cadeira de rodas de meu avô que segurava as alianças em suas mãos frágeis e trêmulas.

Assim que ele chegou perto de mim, não aguentei e o abracei com cuidado para não o machucar, ele parecia tão frágil. E quando seus braços me circundaram mesmo que de forma trêmula e desajeitada eu soube que ele estava lúcido, ao menos naquele momento eu tinha de volta o homem que me levava para passear no parque e que contava história para que eu conseguisse dormir.

ÁRTEMIS - Família Del BortoliWhere stories live. Discover now