Bem-Vinda ao Submundo

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Ele nunca esteve naquele lado da grade que separava as pessoas dos lutadores. Era estranho olhar por aquele ângulo.

Tinha ringue e um corredor de onde os campeões saiam, o chão azul estava gasto e cheirava a metal velho e desinfetante, provavelmente uma sequela dos anos de sangue sendo derramado sobre ele e as muitas camadas de produtos para limpar. Ele era o centro do espaço, sendo rodeado por bancos onde as pessoas se amontoavam para poder ter uma vista privilegiada, mesmo que houvesse telões no alto para que ninguém perdesse nenhum movimento, nenhum golpe.

Os camarotes eram onde os investidores ficavam, os donos de lutadores gostavam de assistir as lutas, mas não de se misturar com o povo.

Giuseppe estava lá, com seu cigarro e terno, enquanto um homem que Enzo nunca havia visto antes dizia algo em seu ouvido e sorria animado, provavelmente o novo investidor que deu o nome para o adversário de Matt, ou melhor, o assassino de Matt.

Lily não estava ao lado do marido como o habitual, provavelmente tentando remediar os estragos que Enzo causou em seu rosto na noite passada.

Ele não se arrependia num todo, sabia que deveria, afinal, não se espanca a esposa do dono. Talvez Giuseppe não soubesse do ocorrido, ele mantinha a mesma expressão neutra de sempre, enquanto olhava para as dezenas de pessoas. Procurando e analisando.

Entre elas estava Enzo, amarrado como um animal, escoltado por três homens armados para garantir que ele assistisse a cada segundo e não ameaçasse ninguém ou a luta em si.

Lily não havia cumprido com sua palavra, e aquilo tornava tudo mais terrível para ele suportar, porque sabia que era sua culpa. Se tivesse apenas feito o que ela queria, se rendido e aceito que Lily podia fazer o que quisesse com ele. Se tivesse sufocado aquelas memórias Matt não estaria ali com todas as probabilidades contra ele.

Mesmo que não conhecesse o adversário, Enzo sabia que as chances dele eram quase nulas, por que ele estava fraco e fraqueza neste lugar é sinônimo de morte.

Ele foi fraco e Matt morreria por isso.

As luzes piscaram indicando que estava prestes a começar e o estômago dele se revirou com o nervosismo, angústia e culpa, mas Enzo se obrigou a ter um pouco de esperança.

Talvez, milagrosamente, Matt estivesse melhor, talvez e outro cara não fosse tão forte, com sorte seria um idiota lento que daria a vitória de mão beijada para Matt.

Ele precisava acreditar naquilo, porque não conseguiria olhar para o amigo naquele ringue.

Enzo esfregou as mãos, nervosamente quase não suportando ficar ali parado quando assistiu Matt cambalear pelo corredor, meio curvado. ele olhou em volta, impressionado com a quantidade de pessoas e quando encontrou Enzo, seus olhos se arregalaram.

Ele se forçou a sorrir, uma tentativa medíocre de camuflar a culpa e o... medo. Sim ele temia por Matt, e aquilo o estava enlouquecendo.

- Matthew Salvatore!- anunciou os alto falantes e uma chuva de gritos excitados foi disparada em sua direção.

Matt estava focado no amigo, sentado na primeira fila com os pulsos amarrados por uma espécie de corda e um sorriso sombrio nos lábios - sua tentativa de acalmá-lo - ele sabia melhor que ninguém que aquilo não terminaria de uma forma feliz para ele.

Não havia esperança para si.

Não queria que Enzo estivesse lá, que assistisse a aquilo.

Porra!

Em 5 anos naquele lugar Enzo foi quase um pai para ele, o ensinou o que precisava para sobreviver lá dentro, o ajudou quando sentiu medo na sua primeira luta, o acolheu e manteve longe os outros caras, Enzo o protegeu como pode e Matt não queria que ele visse, porque o conhecia o bastante para saber que ele se vingaria.

UMA EM UM MILHÃO - 1/4Where stories live. Discover now