Perigo

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O silêncio que aquele lugar mergulhou era perturbador.

O prelúdio do que estava por vir, eles sempre ficavam tensos. Era como ver a maior atrocidade em meio a tantas atrocidades que o submundo podia proporcionar a aqueles que entravam. Poucas coisas calavam um homem, as sentenças da Cosa Nostra era uma delas. porque não se sabia quem foi julgado, o motivo ou se merecia realmente aquele fim.

Podiam ser assassinos, ladrões, poderiam ter quebrado a tão sagrada Omertá¹ ou apenas estar no lugar errado na hora errada. Alguns encontraram seu fim pelos erros de algum familiar.

Enzo não gostava de pensar naquelas pessoas em específico como inocentes, eram apenas julgadas, culpadas e condenadas. Se fosse sentir remorso e compaixão por todos que se sentaram naquela cadeira viveria perturbado, mais do que já era. Dormir era difícil desde muito jovem, ele tentava verdadeiramente, mas os fantasmas não deixavam que dormisse mais que duas ou três horas, sempre assombrando seus sonhos e alimentando seus pesadelos.

Começou com a noite em que foi parar naquele lugar, então conforme os anos ia se atropelando mais rostos eram adicionados, mais vozes, choro, gritos, o cheiro podre de cadáver em decomposição, mãos frias, olhares leitosos e vazios... e fogo, por toda parte como se sua alma soubesse para onde iria ao fim daquela vida se o inferno fosse real.

"Faça o que precisar e então viva com isso"

Foram as únicas palavras realmente úteis que saíram da boca asquerosa de Lily.

Você mata, tortura, rouba, extorque, se deixa ser usado e então segue em frente como se não fosse nada. Porque quer viver, e para isso precisa primeiro sobreviver. E para sobreviver no submundo é necessário se curvar, fazer coisas que não gosta e aprender a gostar delas.

Não sabia quem morreria aquela noite, tampouco se importava, mas aquele silêncio mortal gritava todas as palavras que ele tentava abafar vindas de um Lorenzo de 6 anos.

Matar para não morrer era diferente daquilo, era instintivo. Seu corpo sabia o que fazer, mas olhar para o homem amordaçado sendo arrastado e jogado naquela cadeira com os braços presos por cordas era diferente.

Era covarde.

Quando mais jovem ele poderia dizer que gostava daquilo, dos gritos e das lágrimas, foi um adolescente com tendências sádicas não negaria. Gostaria de dizer que Matt não influenciou em nada nos seus prazeres cruéis, mas passou 5 anos tentando não assustar ou decepcionar o garoto mesmo quando não precisava se importar com aquilo, ainda assim não queria que seu único amigo na vida o visse como um monstro.

Mesmo sendo um.

Os olhos castanhos do homem encontraram Enzo. Não havia desespero ali, nenhum resquício de medo ou receio, apenas uma calma profunda, a leveza nos olhos de um homem que sabia que estava morto mesmo que ainda fosse capaz de respirar. Os homens sentados do outro lado das grades rodeando o ringue exalavam mais medo do que ele.

Bonnie estava entre eles, os olhos fixos no homem, os lábios levemente abertos enquanto mal piscava, mesmo que dois caporegimes estivessem fortemente armados prontos para atirar caso qualquer um deles sequer se movesse do lugar, Enzo sabia que ainda era burrice deixar Bonnie tão livre. O rosto angelical e fodidamente bonito era uma maldita armadilha, Bonnie era tão inofensiva quanto uma bomba atômica prestes a explodir.

Giuseppe e sua corja em seus camarotes assistiam tudo enquanto bebiam e sorriam uns para os outros. Se os homens sentados na plateia exalavam receio, eles eram pura alegria e excitação. Como se aquilo fosse uma grande piada, mas a Cosa Nostra era assim. Ria da morte de homens, sentia prazer em destruir tudo o que lhes era apresentado.

UMA EM UM MILHÃO - 1/4Where stories live. Discover now