Aliados inimigos

130 6 24
                                    


Bonnie tinha toda sua atenção voltada para o peito nu dele, descendo pelo tronco e viajando entre as cicatrizes abundantes que marcavam a pele pálida pela falta de luz do sol. Seus olhos foram até o limite que o cós da calça encharcada que ele usava delimitava, um pouco mais abaixo ela não precisava espiar para saber que ele ostentava uma ereção memorável, o tecido molhado se grudava a toda a sua extensão evidenciando cada pequeno pedaço dele, cada parte que fazia o corpo dela se arrepiar só de imaginar o que ele queria.

O chuveiro havia sido desligado e sua boca ainda carregava o sabor dos lábios dele enquanto suas mãos estavam espalmadas em seu peito largo a última tentativa do seu corpo de afastá-lo e fazer o que era certo. Fugir.

Ela devia fugir dele, daquele tipo de contato com ele. Não devia sucumbir as coisas que Lorenzo a fazia sentir, mas era tão difícil quando ele estava a olhando com tanta fome como se dependesse dela para viver, quando os lábios marcados por cicatrizes estavam vermelhos depois daquele beijo extraordinário e pedindo por mais, ou quando a mão grande se enrolava em seu cabelo e a forçava a se manter imóvel.

Havia treinado sua vida toda para todo tipo de situação. Durante sua infância e adolescência seu pai garantiu que quando não estivesse aprendendo a ser uma boa esposa estaria aprendendo a lutar, a lidar com negócios, política e todo o tipo de coisa que um verdadeiro membro da 'Ndrangheta deveria saber, mas ele nunca a ensinou a lidar com aquela situação, onde seu corpo grita por algo que não deveria enquanto sua mente se entrega lentamente esquecendo a lógica e os deveres.

Ela não sabia dizer não para si mesma naquele momento e tinha total ciência de que sua vida dependia daquele maldito 'não' mesmo assim, era como estar com sede por muito tempo e finalmente encontrar agua, você não foge dela, você se afoga e agradece por isso mesmo que esteja envenenada, mesmo que te mate depois.

Depois. Ela podia lidar com as consequências depois.

Bonnie engoliu a bola que se formou em sua garganta, suas mãos iniciando uma viagem lenta pelo tronco forte do homem. Sua mão tocando as cicatrizes pelo caminho desde as mais minúsculas até a grande e violenta queimadura sobre as costelas. Pode sentir os músculos dele enrijecendo conforme ela tocava cada cicatriz com calma, mas ele não se afastou, pelo contrário, Enzo se empurrou um pouco contra as mãos exploradoras quase uma permissão silenciosa para que ela desbravasse todos os 23 anos de história cravados em sua pele.

Quando os dedos frios tocaram a cicatriz logo acima do umbigo ele vacilou e sua respiração se tornou mais pesada como se ela o estivesse ferindo, mas ele não a afastou como faria com as mulheres que pagavam para ir para a cama com ele. Deixou que ela catalogasse cada pequena marca, cada cicatriz com os dedos enviando arrepios por todo o seu corpo.

Os dedos curiosos tocaram a grande queimadura em sua costela onde Giuseppe o havia marcado, mas que ele mesmo deu um jeito de apagar. Enzo apoiou as mãos na parede próximo a cabeça dela quando se inclinou levemente para frente.

Bonnie estava em silêncio. Sua respiração ofegante era tudo o que preenchia o ar, mas suas mãos trêmulas continuavam a viajar pelo corpo masculino e forte, explorando o peito, o pescoço até alcançar o rosto e seus olhos se encontrarem.

Ambos sopraram pesadamente, mas quando Enzo avançou para tomar a boca dela na sua, Bonnie segurou o rosto do homem entre as mãos o impedindo de avançar, mesmo que tudo o que ela quisesse era provar outra vez a língua dele contra a sua. Ele trincou os dentes arrancando um pequeno sorriso dela que voltou para sua exploração.

Ele tinha cicatrizes na mandíbula, escondidas sob a barba por fazer, uma fina quase imperceptível na bochecha, sobre a ponte do nariz ele carregava uma cicatriz em forma de 'C' que Bonnie sorriu ao perceber que tinha uma muito parecida, no entanto a sua era tão fina que era quase impossível ver provavelmente por ter sido tratada devidamente; havia uma que atravessava o canto direito dos lábios descendo em direção ao queixo, cuidadosamente ela correu o polegar por aquela se demorando mais do que as outras. 

UMA EM UM MILHÃO - 1/4Where stories live. Discover now