I - Funeral

715 37 23
                                    

A grande melodia do órgão de tubos se espalhou pela pequena capela. Em termos formais, o casamento de um grande empresário deve ser impecável. Em ambos os lados da nave, convidados vestidos de trajes de gala ocupavam os assentos, e todo o salão estava repleto de pessoas sérias. Não houve alegria ou agitação como uma cerimônia de casamento em qualquer lugar do mundo deveria ser - acho que seria mais apropriado chamar isso aqui de funeral -.

Tanto os convidados do noivo quanto os da noiva carregam expressões sombrias no rosto, mas uma coisa que meu pai sempre me falou foi: "se for 'pra ficar com essa cara era melhor nem ter vindo", não importava o quão desconfortáveis todos estejam com a situação, eu sou a única aqui que pode tentar ao menos colocar um sorriso no rosto e fingir que está tudo bem?

Agora eu tenho que andar no meio desse corredor que emitia o puro frio do gelo e ficar ao lado de um homem que me olha como se fosse me matar a qualquer momento. O padre que não sabia se tinha vindo para oficializar um casamento ou assistir uma missa fúnebre ordenou minha entrada. Pratiquei o dia todo ontem e fiquei repetindo sem parar o que deveria fazer hoje na minha cabeça, não posso me deixar abater, não posso ficar nervosa. Avancei lentamente, chutando a bainha do meu vestido com os dedos dos pés, enquanto praticava mentalmente com todas as minhas forças para evitar uma queda acidental, mas a bainha do meu vestido de noiva não é o problema aqui... São os meus peitos. Quer dizer, eu sei que meu seios são um pouco maiores que os da maioria, mas ficam um pouco expostos com esse decote, - eu não escolhi o casamento e muito menos o vestido para variar - está é a primeira vez que o uso e acho que falta algo que deveria me cobrir melhor. Não importa o quão sexy esse vestido seja, não é um pouco demais para um casamento?

Aparentemente não sou a única que pensa assim, já que os olhares direcionados a mim continham emoções nada amigáveis ao meu respeito: desprezo, desconsideração ou luxuria. Caminhei até o homem que me olhava de forma tão miserável quanto os convidados, me deixando mais tensa do que estava antes, assim que parei ao lado dele ele fez questão de desviar o olhar, para ele eu devo ser alguma maldição ou punição dada a ele - uau, pelo menos eu não tive um tombo épico no meu próprio casamento -. Dobrei os joelhos e inclinei levemente a cabeça em direção ao padre para mostrar minha cortesia e dei um suspiro leve, o padre acenou com a cabeça demostrando certa indiferença e começou a recitar uma oração de benção.

— Todas as coisas neste mundo te louvam, meu Deus. Hoje, abençoarei dois jovens que construirão uma família feliz e calorosa nos braços de Deus hoje...

Bem, com todo respiro padre... Acho que nunca serei capaz de criar um futuro feliz, muito menos caloroso com este homem. Nesta situação, o que eu sei é que estou casando com um homem que me despreza para evitar uma guerra, e não está muito claro se conseguirei obter uma família feliz e calorosa no futuro, ou uma bala no meio da testa.

꧁꧂

Algumas semanas antes...

Levantei meu corpo da cama e senti uma sensação de peso, uma parte do meu cabelo preto descia pelos meus ombros, meus olhos estavam inchados mas não lembrava de ter chorado naquela noite, escutei barulhos de batidas e eu já sabia quem era, engoli em seco e senti meu corpo tremer, então me ajeitei na cama.

— Pode entrar, Tenten.

— Senhorita Hinata — a porta se abriu e uma jovem de um aspecto assustador vinha em minha direção com uma bandeja, suas roupas de empregada não escondiam sua beleza, os coques bem arrumados e a maquiagem leve em seu rosto —  O senhor Hizashi ordenou que passasse no escritório depois de se arrumar.

— Certo...

— Coma depressa — dito isso ela saiu para o banheiro e escutei a água ser ligada, ela voltou para o quarto e enquanto comia ela penteou meu cabelo, como já era de costume, depois foi ao meu closet e separou minha roupas levando-as para o banheiro, a garota de olhos chocolate retirou a bandeja e saiu do quarto, me apressei a me aprontar, tomando um banho rápido e trocando de roupa, respirei fundo e sai em direção ao corredor. 

RefémOnde histórias criam vida. Descubra agora