Maya

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Quando eu estava no laboratório da base secreta de experimentos, era monitorado 24 horas por dia com agulhas ressonantes inseridas no meu couro cabeludo que escaneavam todas as minhas atividades cerebrais e transmitiam todos os meus pensamentos em diversos monitores espalhados pelo local. Foi naquele ambiente em que eu comecei a sonhar com um grupo de pessoas, durante todas as noites em que estivera em observação. Nunca havia visto nenhum deles anteriormente. Quanto mais tempo eu passava no laboratório, mais eu sentia que fazia parte de todos eles como se realmente os conhecesse. Um fato curioso a respeito dessas visões que eu passei a ter enquanto era cobaia, é que muitas vezes eu conseguia sentir o que essas pessoas estavam sentindo, as vezes até mesmos os pensamentos se tornavam meus. 

Me lembro bem que a primeira previsão que eu tive, foi na primeira noite sendo monitorado, com uma moça surreal. Seu nome é Maya, no sonho ela corria desesperadamente na escuridão de alguma floresta que eu não pude identificar a localização. Ela estava desesperadamente apressada, tropeçou algumas vezes, caiu e se ralou outras, mas não desistiu. Correu o mais rápido que pôde até chegar num local com cerca de uns trinta homens uniformizados e armados. Ela os vigiou com distância o suficiente para não ser notada, viu que eles conversavam próximos a um lago, olhou para cima e não encontrou nenhum homem no prédio ao lado fazendo a guarda noturna. "É o momento ideal para seguir com o plano", ela pensou. Tirou suas roupas lentamente, enrolou suas longas tranças douradas no topo da cabeça como se fosse um turbante e deu passos leves e sorrateiros, todo cuidado era pouco para não chamar a atenção dos homens armados. Por estar despida, ela conseguia se camuflar na mata escura devido à sua pele que era tão preta quanto o Rio Negro. Foi assim que ela caminhou sorrateira na escuridão e deu a volta no prédio até chegar à outra extremidade do lago. Com uma certa serenidade em sua feição, ela fechou os olhos e moveu o rosto em direção à lua. O que aconteceu depois me deixou espantando, eu nunca imaginei que este tipo de coisa pudesse vir a acontecer na vida real, mas de fato aconteceu, ou melhor, irá acontecer. Ela se transformou num Jacaré preto e gigantesco que mais parecia um uma espécie de rinoceronte. Lentamente, sem fazer barulho, o jacaré entrou na água, seus movimentos eram tão leves quanto o movimento de uma pluma.  Deslizando na água ela foi em direção ao grupo que conversava mais à frente na beira da água.

Ao chegar próximo aos homens, Maya colocou apenas a sua cabeça de jacaré-açu para fora da água e pôde ouvir a conversa entre eles.

- A gente tem que usar esta localização como porta de entrada, se não tomarmos iniciativa agora, aqueles índios filhos da mãe vão dominar tudo isso aqui e nunca mais retomaremos o Norte do Brasil. Nós estamos ficando sem recursos, não temos outra escolha. – Disse um homem careca, barbudo e grande, aparentemente exercia uma posição de liderança.

- A gente não precisa ter medo, temos muito mais armamento que eles. – Disse um outro rapaz.

- Esses selvagens já foram dominados no passado, nós evoluímos, eles continuam no mesmo nível primitivo, vai ser moleza. – Comentou um terceiro.

Maya não tinha nenhum plano de atacar os rapazes, na verdade não queria de forma alguma chamar a atenção, apenas tentava colher informações para utilizá-las contra eles posteriormente. Porém, enquanto eles conversavam, um dos rapazes resolveu usar o rio como vaso sanitário.  Quando estava prestes a abrir o zíper da sua calça, viu uma enorme cabeça de um ser que para ele era extremamente assustador. 

- Puta que pariu! – Gritou o rapaz assustado, sacando uma metralhadora que estava pendurada no ombro.

- Que merda é essa Paulo? – Perguntou o colega mais próximo.

Paulo não respondeu, apenas puxou o gatilho e começou a gastar toda a sua munição no monstro até então não identificado. Maya recebeu vários tiros na cabeça, mas sua pele dura como uma armadura a protegeu, ela tentou nadar para o outro lado, mas os outros rapazes começaram a atirar também, agora eram mais ou menos uns quinze homens atirando na sua direção. As munições não a feriam, porém ela não deixava de sentir dor, o que impossibilitava sua fuga imediata. 

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