「 」 Chapter three - Moments

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          Considerando o fato de estar finalmente sozinha, em um apartamento bancado por algumas economias que venho guardado, eu deveria estar me sentindo livre, liberta, e realmente eu estou, tirando o fato da perturbação diária de ligações cont...

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     Considerando o fato de estar finalmente sozinha, em um apartamento bancado por algumas economias que venho guardado, eu deveria estar me sentindo livre, liberta, e realmente eu estou, tirando o fato da perturbação diária de ligações contínuas que fazer meus olhos arderem de ódio, ou pela grande quantidade de lágrimas que vêm saindo.

Desperto assustada com uma ligação, era incontável as diversas ligações que eles haviam me feito, tento não pensar na possível ligação que vem a seguir, era a décima quarta vez nesses três dias, ligações sem sentido, apenas querem a filha submissa deles de volta, eu não poderia suportar mais, um dia de paz não seria possível? O sentimento de culpa acertava como uma flecha no peito a cada ligação ignorada vinda dos meus pais, preciso me distrair e afastar minha cabeça de tudo. Sinto uma vontade gigantesca de cair em prantos, me viro para o outro lado na cama sem vontade de despertar totalmente, mas eles acabam com a minha paz, acabam com meu sono, minha escolha é levantar.

Me olho no olho, não me reconheço, parece desgastada e realmente estou. Abro a porta do quarto e a luz do sol faz minha cabeça doer e meu olhos embaçam, me lembro da noite perturbada, tenho vontade de chorar. Faço minha higiene básica, uma lavagem no rosto e dentes escovados é o mínimo.

Me jogo no sofá, gosto de filmes dos anos 2000, me acalmam, me deixam pessoalmente feliz, coloco Mean Girls. Se existe melhor, eu não conheço. Lembro quando assistia esse filme com meu irmão, ele me abraçava tentando abafar o volume da briga barulhenta dos meus pais, meu porto seguro, a melhor pessoa que eu conheço. Dou um sorriso pequeno, minhas emoções se juntam, entre a calma e a saudade me pergunto se fiz a escolha certa, me pergunto se o filho de ouro também passou por isso quando saiu de casa. Sinto meus olhos queimarem, pego o celular me olhando na câmera, olhos vermelhos e completamente marejados, é estranho estar chorando na frente da Regina George, sinto que ela me daria três tapas na cara por estar nesse estado, onde está a Seo Miyeon arrumada de antes?

Confesso que também não sei, sinto que ela se perdeu a um tempo, está sem rumo por um universo paralelo tentando voltar, mas assim como eu, ela não tem força. Relembro-me das empresas na qual mandei meu currículo, maldita esperança.

As respostas são as mesmas, não, não, não, não, não. Meu coração dói em desespero, minha cabeça lateja, apoio minha cabeça novamente contra a almofada do sofá, me lembro das lembraças que tive no passado, passava a mão na nuca nervosa, me sinto uma idiota em achar que alguma empresa me aceitaria. Ouço batidas na porta, me pergunto quem é o desocupado que me pergunta em plena quarta-feira de manhã.

- Bom dia, Miyeon-ssi- Hyunjin está parado na minha frente, ele veste um terno cinza, roupa formal de uma empresa, provavelmente indo ao trabalho.

Esfrego meus olhos ainda com sono- Bom dia, Hyunjin- Digo. Confesso minha vergonha pela roupa amassada e cabelo preso frouxo, pareço ridícula, mas porque gostaria de impressionar Hwang?

Olho para baixo, me recuso a fazer contato visual, meu rosto descuidado e olhos inchados me incomodam.

— Queria pedir desculpas por ontem de tarde, Minho às vezes é um pouco irritante com quem ele não... simpatiza— Hyunjin diz. A cada dia me pergunta se ele é um anjo na terra, ou ele me impressiona por fazer o básico que Lee não consegue.

Não olho para seu rosto mas lembro perfeitamente, pele branquinha, aparência angelical, Hyunjin me ganha apenas por sua gentileza excepcional, me pergunto como alguém como ele anda com Lee Minho. Tomo coragem de olhar para Hwang apenas para agradecer, suas sobrancelhas se franzem ao olhar para mim, compreendo.

— Miyeon, você está bem? Parece meio abalada, precisa conversar?— Aparentemente preocupado. Não vou mentir, tenho vontade de me deitar em posição fetal e desabar, mas a situação não me permite.

Abaixo meu rosto novamente, começo a entrar em desespero, quero me enfiar em um buraco. Respondo um "não" murmurado, Hyunjin empurra meu rosto um pouco para cima em um ângulo visível para ele, não quero que sinta dó, muito menos que atrapalhe sua rotina. Não gosto de aceitar ajuda, uma das coisas que fazem parte da minha personalidade, seja desde uma mãozinha se eu tropeçar até em questões emocionais.

Hwang me constrange, me acolhe e me sinto bem, tento segurar o choro falhando miseravelmente sentindo Hyunjin me abraçar, fico dividida entre vergonha, desespero e sensação de fraqueza, à paz, sensação de acolhimento e vontade de pôr tudo para fora. Sinto que Hyunjin faz isso, me deixa confusa, não posso me deixar levar a sentimentos tão recentes, ao mesmo tempo, ignorar seus atos de gentileza são inevitáveis. Meu coração prefere não pedir ajuda, é da minha natureza, mas meu cérebro percebe que eu preciso daquilo, não sei quem escutar.

Me sento no sofá novamente, dessa vez, Hyunjin está do meu lado, ele respeita meu espaço, apenas me abraça e passa a mão no meu cabelo. Respiro fundo tentando falar algo, Hyunjin olha para mim.

— Não quero te atrapalhar, parece estar indo trabalhar. Por favor, não se preocupe, eu estou bem

— Eu posso avisar que vou chegar mais tarde, não se preocupe. Quer me contar o que aconteceu?— Ele diz, sem respostas por minha parte. Como expressar sem ser agressiva? Sinceramente, prefiro ficar em silêncio quando me vejo triste ou desanimada, acho que Hwang percebe isso desviando o olhar de mim— Tudo bem, é difícil se abrir enquanto ainda se sente mal, não tem problema. Caso permita, por que não abre as janelas, o dia está bonito—
Ele sorri. Aceno com a cabeça para que ele abra.

Hyunjin se levanta abrindo as janelas, o sol invade a sala, percebo minha melhora no humor, dou um sorriso vendo Hwang na frente da janela, seu cabelo loiro se ilumina pela luz natural, me vejo encantada. Ele volta a se sentar, o mais velho olha para mim, me sinto mais sorridente e ele vê isso em mim também, Hwang pergunta novamente o motivo do meu choro, olho para baixo, me vejo confusa, ao mesmo tempo não quero o atrapalhar, preciso de Hyunjin vá, senão a culpa em mim será maior.

     — Meus pais. Eu não suporto mais, Hyunjin— As primeiras lágrimas correm, humilhação é o que sinto— Estou a quase trezentos quilômetros deles e não me sinto livre, isso não devia ser uma culpa, não quero sentir culpa, mas eles não me deixam. Mudei de casa, saí das asas dos meus pais na esperança de liberdade, mas foi como se tudo piorasse, não me sinto capaz de continuar a partir daqui. Além do quesito emprego, me sinto tão incapacitada de procurar mais, já foram muitas rejeições, me arrependendo de ter escolhido trabalhar com o que eu amo

— Eu sinto muito, Miyeon. Você parece uma mulher tão madura, mas percebo que você também precisa de ajuda, quero que conte comigo, não pode passar por isso sozinha-  Hyunjin respirou fundo e continuou- Sobre o emprego, não desista, tenho certeza que é ótimo no que faz. Me diz, o que você cursou?

— Desing- Respondi mais calma- Eu também achava que era madura o suficiente para aguentar a pressão deles durante tantos anos, mas me sinto como uma criança agora. Não sei por quanto tempo vai durar

— Dure o tempo que for, você está externamente livre, agora precisa libertar sua alma. Você preciso arrumar aqui dentro primeiro, para depois arrumar sua vida externa e achar um llugar bom para trabalhar, tudo tem seu tempo.— Ele diz. Abraço Hyunjin, sinto algo nele que me envolve, que me mantém aqui o tempo que precisar, mas entendo que ele precisa ir também.

     O acompanho até a porta, me sinto aliviada, a tempos não liberto o que sinto. Dou um tchau para Hwang enquanto vejo a porta do elevador abrir e Hyunjin entrar. Conversar com ele foi como conversar comigo mesma, entender minhas próprias dores e sentimento, suspirava com calma, prendo o cabelo em um coque, olho para a casa de fora, agora sinto liberdade.

— Tchau, Hyunjin-nie..— Aceno recebendo outro aceno de volta.

𝐋𝐈𝐅𝐄 𝐈𝐒 𝐆𝐎𝐈𝐍𝐆 𝐎𝐍 |𝗟𝗲𝗲 𝗠𝗶𝗻𝗵𝗼Onde histórias criam vida. Descubra agora