Capítulo Nove

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Saí andando pelos corredores do palácio sem saber direito para onde ir, ou melhor, tendo a certeza de que não dava para chegar aonde eu realmente queria estar. Queria gritar e fazer algo que colocasse minha raiva para fora, mas nem isso eu sabia direito como fazer, tendo que seguir tantas regras. Quando achei que não poderia fazer mais nada, porém, lembrei que eu poderia ter acesso à internet para publicar algo sobre a Seleção, e logo descobri como eu poderia extravasar.

Segui ainda meio zonza pela raiva e frustração até a sala dos computadores e, assim que alcancei a maçaneta, vi a porta se abrir e Melissa sair de lá.

— Meu Deus, você está bem? — ela perguntou alarmada ao me ver.

— Sim — me resumi a responder. Porém, ela não aceitou essa reposta.

Melissa segurou meu braço e tornou a perguntar:

— É sério, Anelise. O que você tem? Você está bem?

Então, me vi chorando, embora soubesse que não era um choro de tristeza. Melissa, mesmo tendo aquele jeito distante, logo tentou me acalmar com um abraço que não durou muito, mas eu sabia que havia sido de coração.

— O que houve?

E eu contei cada detalhe daquele encontro; contei até mesmo do momento em que o príncipe apareceu no meu quarto. Confessei como a eliminação de Sarah havia mexido comigo e com a minha falta de habilidade em lidar com as emoções e encontros que viver aquilo exigia. Mesmo omitindo a minha conversa com Ellie e o que eu pretendia fazer ao entrar naquela sala, senti que fora a conversa mais franca que havia tido desde que chegara ao palácio.

— Primeiro de tudo: se acalme. Liss — ela continuou, me chamando pelo apelido que, até então, só a Ellie me chamava lá dentro —, está tudo bem sentir falta, medo e não se dar bem com as coisas que rolam aqui. Olha para mim e me diz se sou boa em fazer amizade! — brincou. — E, ainda assim, ver a Sarah ir embora mexeu comigo mais do que meu orgulho me permite assumir. Acha que fomos as únicas ao ver a reação das meninas e ficar se perguntando como seria a gente lá? E também como vai ser ao ver mais garotas partirem? Não fomos! E bom, sobre o príncipe, eu não acho que ele tenha feito por mal...

— Achar que só posso estar aqui por interesse no dinheiro dele não é fazer algo por mal, Melissa? — perguntei, irada, e ela não se abalou com minha ira.

— Olhe ao seu redor, veja todo esse luxo. Acha mesmo que milhares de pessoas não dariam um braço para chegar perto disso? Sabe-se lá quantas pessoas já não chegaram perto do príncipe apenas por interesse em pisar neste lugar. E bom, não haveria nada de errado se você viesse aqui querendo isso, e, pelo que você me falou, o príncipe não te repreendeu, apenas quis entender. Ele sabe que isso é possível e que, se você estivesse aqui por isso, não seria a única.

— Não mesmo — voltei a cortá-la, e Melissa rolou os olhos, fazendo sua conhecida cara de enfado.

— Pelo amor de Deus, alguém nesse palácio precisa te educar para que você deixe as pessoas falarem! Preciso falar com a senhora Anne ou com o senhor Peter sobre isso.

— Me desculpe, Melissa — falei de coração, mesmo que quisesse rir um pouco só de imaginá-la procurando a senhora Anne para isso. — Pode concluir.

Melissa novamente rolou os olhos e então voltou a falar:

— Como eu ia dizendo, você não seria a única. Sabendo disto, e como é um relacionamento com ele que está em jogo, não podemos julgá-lo de querer saber o que cada uma de nós está querendo aqui. Uma escolha errada e ele terá ao menos uma história de namoro ruim pra contar. E se um namoro ruim já é péssimo para nós, meros mortais, imagina então para ele, que tem muitos segredos e coisas a perder.

InvoluntariamenteOnde histórias criam vida. Descubra agora