CAPÍTULO QUATRO

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— Você não tem controle dessa sua tara por libertinas, Augustus? — Álvaro vem em minha direção e me abraça. Depois se senta na sua cadeira e eu me sento de frente para ele.

— Como eu saberia que a garota era filha da Fátima, você pode me dizer?

— Eu sei que você não sabia disso, mas ficar trazendo essas mulheres aqui como se fossem suas namoradas é chato demais. Por que não arruma uma de verdade pelo menos?

— Eu não gosto, sou como o papai, não me apego.

— Augustus, papai amou uma vez, ele amou nossa mãe e só depois de amar ele decidiu não amar outra vez. Você nunca gostou de ninguém, não pode se fechar para os sentimentos dessa maneira. —Álvaro, de uns tempos para cá, vive batendo nessa tecla.

— Nem quero passar pelo que ele passou, você viu, ele sofreu para um caralho, eu não vou passar por isso.

— Nem sei porque ainda discuto com você sobre isso. O que achou da garota, ela não é muito nova para você? — Confidencio a ele.

— Ela é pura, quase virginal. Não é o meu perfil de mulher preferida, mas surpreendentemente, eu gostei. — Ele me olha de canto de olho.

— Gostou? É sério? — Recosto na cadeira.

— Sim, gostei de ser o professor dela nesse final de semana.

— Sabe por que ela precisa da grana? Por que entrou nessa vida, apesar de oferecermos trabalho a ela? — Fico surpreso por Álvaro ter oferecido um emprego mais bem visto do que esse.

— Sei que a mãe morreu e o irmão é um filho da puta.

— Filho da puta e traficante. Ela fez isso para fugir dele, não ter que morar no mesmo teto e ela paga por isso. O salário que receberia aqui não seria suficiente, então ela escolheu uma vida mais rentável. Silvia ofereceu ajuda, mas ela não quis colocar ninguém em risco. Sabe que o irmão é violento. — Penso na sua cabecinha nesse momento, vivendo uma vida que não deseja, por causa de outras pessoas. Pessoas que a deviam proteger.

— Começo a entender suas atitudes. Realmente, ela não é do ramo, nem sabia o que fazer quando entrou no hotel.

— Sim, provavelmente perdeu a virgindade com um namorado, alguém que ela gostava. Você deve ser o primeiro cliente dela, Augustus. Você foi delicado com ela? — Levanto-me da cadeira, exasperado, lembrando da trepada na sacada do quarto.

— Eu não sou um monstro, Álvaro. Assim você me ofende. Vou falar com as crianças, elas são mais educadas que você.

— Fique longe dela, não quero ver Chloe magoada.

Saio do escritório me achando um monstro sem coração. Depois acalmo e penso que eu contratei uma libertina e ela recebeu para transar comigo, eu não fiz nada errado, ela abriu as pernas porque quis, não sou o culpado pelo seu infortúnio.

O restante do dia passa voando. Chloe é boa com crianças e paro algumas vezes observando sua interação com André e Eloá. Ela devia frequentar bastante a fazenda, está acostumada com tudo e com todos. Antes do cair da tarde, saio com Álvaro para dar uma olhada nos bois, conversando com ele sobre negócios.

Ele não tocou mais no assunto e eu também decidi ficar neutro nessa história. Cavalgar nas nossas terras sempre traz um aconchego no coração, apesar de ser o homem da administração, eu gosto de sentir o cheiro da terra. Quando cai uma garoa fina então, olho para meu irmão galopando ao meu lado e sinto nossa conexão forte. Sempre estivemos juntos, lado a lado, com nosso pai nos encaminhando e me emociono por estarmos ainda mais unidos. Prometo a mim mesmo que a próxima vez que papai vier para a fazenda eu virei também para andarmos por aí como faço com Álvaro agora.

AUGUSTUSWhere stories live. Discover now