Sai do hospital com algumas indicações do médico e fui para casa. Estava tudo como eu tinha deixado, comecei por arrumar um pouco e fui deitar-me.
Passado uma semana não tinha saído de casa uma única vez, nem visto o meu pai, o que não me preocupou muita na verdade.
Passado uma semana de sair do hospital sentia-me significativamente melhor, hoje é dia de ir fazer o depoimento.
Andei pelas ruas da cidade, estava frio, faltava apenas 2 semanas para o natal e andava muita gente na rua a fazer as primeiras compras e e ai eu lembrei-me que na minha triste existência, apenas tenho de comprar um presente, para o meu pai.
Cheguei á esquadra a rezar para não encontrar o meu pai. Um polícia gordinho, provavelmente amigo do meu pai pelo cheiro a álcool que exalava, levou-me para uma pequena sala, sentamo-nos ele ficou a olhar para mim e começou a fazer as perguntas:
"Luke não é?" -assenti - "Pois bem, quando eu e os meus colegas chegamos ao local onde o senhor e a menina Evans se encontravam ouvimos algumas vozes, fomos ver o que era mas chegamos tarde, algo indica que pudesse ter sido tentativa de homicídio, sabe alguma coisa, alguém que não goste da Blair?"
"Na verdade eu não a conheço, apenas estava no sítio certo na hora certa." - Disse encolhendo os ombros.
"Sendo assim, tudo indica para tentativa de suicídio, o que é muito grave para alguém da idade da Blair" ele disse "Sabe? Foi muito corajoso ter arriscado a sua vida por uma pessoa que não conhece, poucos teriam feito isso"
Ele sorriu para mim ao acabar de falar, eu apenas olhei para ele e abanei a cabeça.
"Dizem que a coragem é algo baseado nas razões que nos levaram a cometer tal ação. A coragem é o uso da razão a despeito do prazer.Eu salvei-a por instinto, simplesmente não pensei, por isso acho que "coragem" é demasiado forte para uma simples ação instintiva." Falei deixando o polícia a olhar para mim.
"Talvez devesse olhar melhor para si Luke, parece-me muito autocritico devia ver as suas qualidades e não se desmerecer"
O policia fez-me mais algumas perguntas até que saiu da pequena sala e eu acabei por segui-lo lá para fora.
Lá fora ouviam-se os gritos de uma rapariga. Estava a ser agarrada por 2 polícias.
"Larguem-me" repetia vezes em conta "Eu consigo ir sozinha"
"És menor, não podes continuar a viver na rua, temos de contactar alguém da tua família"
"Boa sorte" Ela bufou olhando para ele e soltando-se dos braços dos outros polícias. Sentou-se numa cadeira e ficou a roer as unhas.
"Essa atitude não a vai levar a lado nenhum"
"Tudo bem, também não estava a pensar sair daqui, Dave" disse sorrindo e apoiando os pés em cima de outra cadeira.
Alguns polícias riram-se da sua coragem e outros ficaram surpreendidos com a sua insolência.
Ela vestia umas roupas pretas e usava uns all star pretos um pouco gastos quem a visse na rua provavelmente nem se importaria em olhar uma segunda vez. Mas se olhássemos para além da roupa ela própria transmitia uma ideia totalmente diferente, ela fazia transparecer confiança com o seu sorriso provocador e genuíno mas possuía um olhar triste e desamparado. Era de algum modo cativante.
Foi assim a olhar para ela cuidadosamente que a reconheci, era a Blair. Ela não tinha onde viver?!
Alguns olhares pousaram em mim, assim como o dela, estariam a perguntar-se o porque de eu estar a olhar fixamente para aquela rapariga, que a meus olhos, era uma das raparigas mais bonitas e cativantes que já tivera o privilegio de observar.
