dezessete

251 20 8
                                    

Luiza observava Clara cair do galho alto e sente a adrenalina, misturada ao desespero, tomar seu corpo. Sua faca atravessa outro crânio podre e o derruba no chão. A mulher correu até um dos andarilhos que foram derrubados por suas flechas. Luiza arranca o metal que atravessava a cabeça do andarilho caído no asfalto. A brutalidade do movimento fez com que o osso se partisse revelando a massa encefálica podre enquanto o sangue preto escorria pela abertura. O arco em suas costas logo foi posicionado com a flecha ainda suja.

Clara caiu no chão e não conseguia levantar. A pequena paralisou ao ver o andarilho se virar lentamente em sua direção. O olhar amarelo a devorava. O carniceiro se apressou em sua direção.

O grito estrangulado de Clara.

O andarilho esticou seus braço na direção da menina e caiu sobre o pequeno corpo.

Luiza correu até onde Clara estava. O coração acelerado pelo medo. A menina se debatia de baixo
do corpo podre. Luiza puxou o corpo imóvel de cima da menina e o empurrou para o lado observando o metal da flecha atravessada no crânio. Luiza olhou a menina que ainda se debatia de olhos fechados e segurou suas pequenas mãos.

— Me solta! - a criança gritou enquanto tentava se livrar do contato.

— Ei, Clara, meu amor. Abra os olhos. - Luiza avisa enquanto tenta parar os movimentos da menina.

Ao ouvir a voz da morena os movimentos se acalmaram, as pálpebras se abriram lentamente e
Clara visualizou Luiza. Em um movimento rápido se levantou e se agarrou ao pescoço da mulher. Era possível sentir seu coração acelerado enquanto o pequeno corpo tremia nos braços da morena.

Luiza se sentia aliviada em ter a menina novamente segura em seus braços. Apertou a menor contra seu corpo e respirou fundo em alivio. A mulher se separou da menina e analisou cada parte de seu corpo em busca de algum arranhão ou mordida, não encontrando nada em sua pele branca. Novamente a mulher soltou o ar de seus pulmões e encarou a criança sentindo a ira tomá-la ao analisar Clara.

— Clara - sua voz se tornou firme. Seu semblante era sério. - Por que fez isso?? - Luiza encarava a menina com olhos atentos e um vinco em sua testa - Eu já não disse pra você nunca mais sair assim Clara? - a menor abaixou a cabeça arrependida e concordou. - Você poderia ter morrido. Aquela coisa - aponta para o corpo podre caído ao lado delas - Poderia ter devorado você! - A mulher se altera sentindo os olhos marejarem com a possibilidade de perder a pequena. - Você tem noção disso?? - Pergunta para a menina que ainda encarava o chão. - Olha pra mim. - Os olhos verdinhos e agora marejados, a encarou. - Eu poderia não ter chegado a tempo Clara, você não
pode sair de perto de mim. - A menor soluça com
seu choro silencioso.

— Desculpa Tia Lu. - a pequena se agarra a mais
velha e esconde a cabeça na curva de seu pescoço. - Eu estava com medo. - Soluça e Luiza a abraça.

— Não me assusta assim de novo. - Suspira e se afasta, apenas o suficiente para encarar os olhos da
pequena. - Nós vamos proteger você.

— Prometo não fazer mais isso. - a pequena diz de
forma acuada e Luiza concorda soltando o ar de seus pulmões.

Do outro lado da praça, Valentina lutava contra outro andarilho que se aproximou. Entre um golpe e
outro da lâmina de seu facão, a morena olha para
frente vendo Luiza com a pequena em seus braços. O suspiro aliviado saiu de sua boca ao constar que ambas pareciam bem. A mulher atacou mais dois corpos ambulantes que surgiram em seu caminho e finalmente conseguiu ir até Clara.

— Vocês estão bem? - Valentina pergunta para a
morena e Luiza apenas assente. -Algum arranhão ou mordida? - pergunta preocupada.

— Não, nada. - Luiza responde e Valentina concorda
observando a criança no colo de mulher. Clara estende seus braços para Valentina e morena a pega em seu colo, a pequena a abraça e esconde o rosto no
pescoço da mulher.

Fim dos tempos.Onde histórias criam vida. Descubra agora