Estou no corpo de Zack Finnegan.

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-Comporte-se e faça a lição de casa direitinho, Marie.

-Mas é muito chato mãeee...

-Filha...

-Preciso colocar o ano aqui, mamãe! Qual é o ano qual é o ano??]

-1962.

Disse eu, de prontidão.

-Zack, meu filho, quantas vezes preciso lhe ensinar, querido? É 3962, filho. 3000.

-Perdão, mamãe.

-Tudo bem, filho, você ainda está aprendendo.

Foi esta a cena que veio a minha cabeça, quando me perguntei em que ano estávamos.

Será que eu tinha as memórias deste menino?

O pior de tudo:

Como aquilo poderia ser o futuro?

Agora minha mãe tinha convencido meu pai de me levar ao hospital, acharam que eu estava tendo um mal súbito, estávamos saindo de casa.

Quando achei que poderia falar novamente, logo me enganei, pois minha visão do lado de fora me deixou completamente atordoado.

Era como se eu soubesse quem eu realmente era, mas, ao mesmo tempo, me sentisse o menino Zack. Era como se eu estivesse sonhando.

Como se estivesse preso em um sonho.

Me sentia parte de uma brincadeira de muito mal gosto, porém, infelizmente, não era brincadeira dessa vez.

Voltando a visão do mundo exterior, poderia dizer agora que compreendi o por que estávamos no futuro. Antes, tinha a mais absoluta certeza que estava nos anos 60. (Não que eu não esteja.)

Minha família tinha nada mais nada menos que um Cadilac laranja. O problema é que ele levitava, isso mesmo, tínhamos um carro voador.

As casas eram localizadas no interior de bolhas, e haviam muitas, ficavam próximas a estruturas semelhantes a arranha-céus. Pense nos murais digitais de New York City, agora multiplique a um bazilhão de vezes, sim, era isto mesmo, em todos os lugares, pessoas voando em patinetes elétricos, a muitos metros do chão, chão esse que quase não poderia ser visto, eu me perguntei, por um instante, se ele ainda existia. De fato uma visão entorpecente, caro leitor. 

Ainda mais por que muitos elementos do passado se misturavam a utensílios tão futuristas ao longo da cidade.

(Onde estavam as árvores?)

Seria então isso? O futuro não era nada mais nada menos do que sempre uma mistura do passado? Um passado profundamente e irreversivelmente alterado, irremediável, sem precedentes. Em mistura a um futuro distópico, desconhecido, sombrio e inovador.

Este era o futuro, e sempre haveria de ser. Estava completamente perdido nas lapses de meus próprios pensamentos, era minha consciência alojada por entre as memórias de Zack Finnegan, e elas não paravam de chegar, todas de uma só vez.

Tudo parecia cada vez mais familiar, o que faz total sentido. Ao mesmo tempo senti que perdia algumas partes de mim mesmo em meio á esta confusão, elas se tornavam...indistintas.

Porém, mesmo antes de meu completo despertar, as coisas já eram um tanto quanto familiares.

Você, novamente se perguntando, deve ter notado que não disse mais o que estava acontecendo comigo, fisicamente.

Isto se deve ao fato que nem eu sei. Só sei que recobrei meus sentidos totalmente em um consultório médico de luz ofuscante, onde meus pais falavam com a Doutora. Eles tinhas muito terror e aflição em suas vozes.

-Pelo o que vi aqui, não precisam se preocupar, parece apenas uma crise de amnésia, com fortes indícios para amnésia dissociativa]

Disse a Médica

Após receber alguns olhares confusos, a médica logo complementou seu diagnóstico:

-Ou seja, o pequeno Zack anda meio desmemoriado, mas nada que não possamos tratar, e é mais comum do que vocês imaginam. Mesmo. ''No worries!!''

Minha pediatra parecia assertiva em suas palavras. Mal sabia ela que memória era um dos meus menores problemas no momento.

-Como o trataremos então, Doutora?

-Faremos sessões de terapia para que ele aos poucos se lembre das coisas, e em casa seria interessante que vocês fizessem o mesmo com fotos, vídeos e hologramas instantâneos.

Ela tomou um gole de água de sua garrafinha metalizada, e logo continuou:

-Não estranhem se não tivermos resultados velozes, e nem se a personalidade dele parecer diferente. Será totalmente comum até que a crise passe.

-Estamos muito agradecidos, Dra. Victoria.

-Não há de quê, Pablo. Qualquer dúvida, podem me contatar, avisarei também a professora dele. Melhoras para você, garotão!

-Obrigada, Doutora.

Pareceu estranho aos presentes na sala eu ter agradecido no feminino, mas pareciam aliviados de finalmente terem me ouvido falar alguma coisa.

Ao caminho de casa, meu monólogo interno constante teve inicio novamente:

O que aconteceu fisicamente comigo?

Sim, o que aconteceu comigo?

Digo, meu primeiro ''comigo'', o de quinze anos, de sexo feminino. De nome Brenda, caso estejam curiosos em saber.

Já nem sabia mais quem eu era mesmo, na verdade.

E este era só o começo do fim.

Ano 3962Where stories live. Discover now