Quem sou eu e quem é você? Onde eu começo e onde você termina? Eram perguntas que eu me fazia enquanto olhava para você naquela noite de outono, enquanto estávamos enroscados um no outro dentro de um saco de dormir, seu cheiro impregnado na minha pele e na minha mente, sua mão preguiçosa passeando pelas minhas costas, enquanto sua voz entoava baixinho a melodia da perdição narrando o céu estrelado e todas as coisas boas que existiam no mundo.
Me pergunto se foi naquele centésimo de segundo, ao cruzar a linha tênue entre gostar e amar, se importar e estar completa e loucamente apaixonada — mais do que apaixonada, mergulhada na intensidade que era você, dos pés à cabeça, perdida demais para achar um caminho de volta à superfície, envolvida demais para voltar atrás —, que tudo mudou.
Que nossos destinos mudaram drasticamente. Se no segundo em que eu deitei minha cabeça em seu peito acabei mudando o curso do universo, criando uma linha temporal nova onde nós passávamos a nos amar.
Eu estava coberta de pó de cometa, o que significava que seus olhos de galáxia estavam sobre mim mais tempo do que o normal para uma amizade.
Amizade. A palavra que usávamos entre nós para descrever nossa relação, para descrever o quanto você se importava comigo e eu com você, para não complicar as coisas já antes complicadas, para manter as aparências do nosso falso relacionamento para os outros, os telespectadores de fora; e também para nós, os atores daquela peça de teatro ridícula e sem sentido.
Éramos jovens demais para aceitar que o amor batesse em nossa porta para ficar e gestos tão simples de serem feitos e palavras fáceis de serem ditas se tornaram um muro gigantesco entre nós. Talvez não fosse o tempo certo de nos encontrarmos, talvez outra vida reservasse para nós um amor daqueles de cinema e de citações Shakespearianas que atravessam o tempo e a razão.
Mas naquele milésimo de segundo, tudo mudou. Porque eu podia ouvir seu coração batendo e como cada batida dele refletia no meu, pareciamos ser uma única coisa, uma única criatura, refletindo um no outro o que estávamos sentindo.
E eu sentia amor.
Do tipo mais puro e genuíno que alguém poderia sentir.
Esperava que não se transformasse em uma tragédia, mas como qualquer amor jovem que se preze, foi exatamente o que aconteceu.
A nossa tragédia.
A nossa dramática peça escrita pelas mãos do destino com a ajuda de nossas próprias mãos errantes.
Você e eu.
Como borboletas em paralelo.
Voando por perto, mas nunca se encontrando de fato.
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Borboletas em Paralelo • JK
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