Capítulo 15

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Eu não quis dizer aquilo, mas ela me irritou pra caralho

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Eu não quis dizer aquilo, mas ela me irritou pra caralho.

Juliana fica mantendo sua pose de mulher indiferente, como se ela fosse a única com o direito de estar magoada, ferida. Caramba, eu também sofri! Foram os piores seis anos da minha vida.

Então, que se foda se ela está brava comigo para valer, que se foda se ela me odeia um pouco mais.

Não, na verdade, só estou deixando a raiva falar mais alto. Eu espero não ter jogado todas as minhas chances fora, já existe uma barreira muito grande entre nós dois, se minhas palavras contribuíram para isso vou me culpar.

Passei a mão pelos fios grossos do meu cabelo, tentando respirar com calma e tranquilizar a sensação de medo que comecei a sentir. Batuquei os dedos no volante, olhando para os outros carros, deixando meus olhos vagarem um pouco.

— Está tudo bem, Bini? — Tatiane perguntou preocupada, roubando a minha atenção para si.

Engoli o bolo doloroso em minha garganta, junto da vontade irritante de chorar, e forcei um pequeno sorriso para ela, movendo a cabeça afirmativamente.

— Só estou distraído — expliquei, mentindo com grande êxito.

Talvez o meu maior dom atualmente seja este: a mentira. Estou tão acostumado a interpretar o papel do cara feliz e de bem com a vida, que sempre sorri e anima todos, usando piadas bobas e ego dramático.

Mas, agora, eu sinto isso como um fardo, pois não sei como poderia dizer a minha irmãzinha que estou na lama por ter dito que odeio a mulher que, claramente, eu amo com tudo em mim.

Tatiane entenderia, sei disso, o problema, entretanto, é que não sei desabafar mais. Perdi o costume anos atrás, e agora parece a tarefa mais impossível do mundo. Acho que vou precisar da Dra. Gabe, ela vai saber me ajudar.

— Vini — continuou cautelosa, adotando um tom calmo e atencioso. —, sabe que pode me dizer qualquer coisa, não é? — Assenti, oferecendo-lhe um pequeno sorriso. — Então me diz o que aconteceu. Eu sei que está mentindo, você não age assim, todo distraído, e já faz dois dias.

O ruim de se ter uma irmã tão esperta e observadora é isso. Tati me conhece melhor do que ninguém. A pequena confidente sabe identificar os sinais mínimos que exponho. E são mínimos mesmo, eu sei adotar a máscara do fingimento muito bem.

Sem outra escolha, porque a conhecendo, sei que não me deixará outra opção, chupei uma nova respiração e a encarei, soltando o ar espesso de uma vez antes de contar de forma resumida:

— Acho que estraguei as coisas.

Minha irmã juntou as sobrancelhas, tentando assimilar as palavras ditas, enquanto analisava o meu rosto com atenção redobrada.

— Explique melhor — pediu.

Um suspiro pesado me escapou. Deixei minhas írises se voltarem para o trânsito e pensei na melhor maneira de explicar, sem parecer um idiota por ficar arranjando brigas infantis, quando em breve farei vinte e seis anos.

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