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Se fosse para começar a contar minha história, como eu a começaria? Pelo começo, certo! Mas de qual maneira?

As vezes sair do ritmo faz parte da dança.

Talvez comece a contar em qual momento minha vida começou a sair do ritmo.

Namorei um babaca durante anos, me fazendo acreditar o quão pequena eu era. Me fez desistir da faculdade, por que acreditei que eu não era capaz de exercer a função. Nosso relacionamento durou em torno de quatro anos. Obviamente como qualquer abusador desse tipo faz no início do relacionamento, lhe dando presentes e elogios fracos, mas que você idiota apaixonada não conseguiria entender o quão ruim aquilo foi. Ele era um príncipe, que acabou perdendo o feitiço durante os anos.

Ele era agressivo a metade do tempo, as vezes não precisávamos estar em uma briga, apenas o fato do seu trabalho ter sido ruim ele via descontar sua raiva.

E isso se repetia, porque eu não conseguia acreditar que fora desse "mundinho" poderia existir alguém que me amasse, porque segundo ele, apenas ele conseguiria fazer isso.

Mas em algum momento eu deveria acordar, deveria ver que sim, eu podia viver fora de um relacionamento tóxico desse. E foi no momento em que eu vi o teste de gravidez positivo que eu pude acordar para a vida. Sentada no vaso, olhando fixamente para os dois riscos que diziam exatamente o que eu mais temia. Porém, não foi como eu achei que fosse acontecer, de eu o rejeitar, o bebê que crescia em meu útero.

Sinto meu rosto esquentar e as lágrimas fazerem cócegas em minhas bochechas. Porém naquele exato momento, uma verdade se manteria: eu não o submeteria ao que eu me submeti.

Sai de casa, pegando todas as minhas poucas economias e roupas e indo diretamente a casa de quem eu achava que podia me ajudar: minha família. Porém em momentos assim, que você enxerga quem está realmente do seu lado - e infelizmente as vezes nem nossos próprios pais são nosso suporte. Eles foram contra a gravidez deste o começo. Eles são extremamente religiosos e políticos, prezam rigorosamente pela sua imagem, e para eles é uma vergonha ter uma filha com uma bebê antes do casamento. Pós bem, eles preferiam virar as costas para sua única filha, do que virarem motivo de fofoca pela cidade. Eles tinham um nome para manter, e pelo jeito isso era mais importante do que qualquer outras coisa.

Porém infelizmente a pessoa que eu tanto lutei para fugir, me encontrou em uma quitinete que eu havia alugado, o trabalho de garçonete ganhava muito pouco, e com as despesas foi o único lugar onde eu conseguia pagar. Suas súplicas para que eu voltasse não foram suficiente, eu estava certa no que fazia, mas não imaginaria que o mesmo partiria para cima de mim, me dando alguns tapas e socos. Em todo momento pensava apenas em protege a barriga com minhas mãos e joelhos.

Minha maior sorte foi um vizinho ter escutado a muvuca e minhas gritarias por ajuda, onde havia ligado para polícia que chegou em pouco tempo, o prendendo em flagrante.

Cansada e com medo de algo assim acontecer novamente, me mudo para Nova York, uma cidade grande que me poderia trazer novas oportunidades de vida. O dinheiro que eu havia era pouco, era tudo ou nada.

Dentro do avião para o embarque apenas pensava como seria em alguns anos, minha vida se tornaria como? Uma bagunça? Eu daria conta dessa criança sozinha? E o trabalho? Continuaria em um com condições péssimas?

Uma lágrima sólida cai, limpo na hora. Não choraria novamente, Nova York havia se tornado a cidade de novas oportunidades. Acaricio a barriga e encostando minha cabeça, suspiro. Lentamente fecho meus olhos, caindo em um sono profundo.

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E aqui após quase três anos, me encontro bem instalada em Nova York. No começo não foi fácil, nunca é. Durante muito tempo fiquei trabalhando em dois empregos que conseguissem me sustentar. Até que nas entregas de currículos sem muita esperança, fui contratada para uma das empresas que era meu grande sonho.

Sr. Rossi - SAÍRA DA PLATAFORMA PARA REVISÃO DIA 30-1 (sujeito a mudanças)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora