Capítulo Quinze

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"Ninguém pode ser escravo de sua identidade: quando surge uma possibilidade de mudança é preciso mudar" -Elliot Gould

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"Ninguém pode ser escravo de sua identidade: quando surge uma possibilidade de mudança é preciso mudar" -Elliot Gould

|Príncipe Frederick|

Eu estava com a cabeça quente, quase explodindo de nervosismo, quando deixei a cela de Catherine Bourbon, após a discussão acalorada que tivemos. Então saí pisando duro daquele lugar e praguejando pelos ares a personalidade inflexível, intragável e muito ruim daquela mulher. Contudo, assim que cheguei ao meu quarto, me despi das roupas pesadas que estava usando desde cedo, e me enfeiei na banheira para tentar refrescar meus pensamentos irritadiços, eu caí em mim mesmo. 

Pelos céus! Mas que...

Os longos minutos que se sucederam enquanto eu me banhava lentamente, me serviram como uma espécie de freio, uma pequena pausa que eu precisava fazer para conseguir raciocinar com mais calma e clareza de ideias. Então, foi nesse instante que percebi que eu havia exagerado com Cath. Apesar de estar com raiva dela, pelas coisas que ela me fez, ainda assim, admito que infelizmente eu havia errado em minhas atitudes para com ela. 

Afinal de contas, eu tinha pedido completamente a paciência e gritado com uma pessoa que pode estar ou não grávida de mim. Eu havia excedido em meu tom de voz com uma mulher que estava presa ainda por cima, que não tinha escapatória ou como fugir das minhas vistas, mesmo se quisesse. Então, minha reação tinha sido um tanto desproporcional e exagerada, diante de uma pessoa nas atuais condições dela.

Infelizmente eu errei e tinha que corrigir o meu erro de alguma forma, é claro. Pois uma coisa é certa, eu não sou injusto ou cruel ao ponto de ignorar minhas falhas quando reconheço que estou errado e injusticei alguém. Dessa forma, no momento em que havia terminado meu banho, eu já havia determinado em minha cabeça de retornar até a prisão para encontrar Catherine, e tentar consertar as coisas de alguma maneira, se ela assim o quisesse. 

E foi com esse pensamento em mente que segui, algumas horas depois de deixar os aposentos reais, rumo a cela da senhorita Bourbon, treinando mentalmente durante todo o percurso até lá, várias formas de tentar me desculpar com ela por ter exagerado em meu tom de voz, e também por tê-la pressionado daquela forma, rude e intensa. 

Entretanto, agora, nesse exato instante, quando já estou no local e encaro a sua cela vazia, tudo o que eu havia pensado anteriormente desaparece da minha mente no mesmo segundo e o meu sangue ferve. Aquela mulher sem vergonha me enganou novamente! Como eu pude confiar que dessa vez seria diferente? Como eu pude ser tão tolo e descuidado dessa forma? Logo eu, um homem que não dá uma segunda chance a ninguém, e na primeira oportunidade que faço isso, sou apunhalado pelas costas mais uma vez. 

Catherine Bourbon havia fugido!

Fecho as mãos em punhos, com os dedos tremendo de raiva e deixo a cela daquela mulher com a respiração pesada, como se o ar estivesse escasso em meus pulmões. Meu peito dói e minha cabeça gira com uma sensação a qual não sei descrever. Desgosto. Irritação. E... tristeza. Mais uma vez as pessoas me provam que não posso vacilar ou relaxar por um minuto sequer. Fui traído, enganado e feito de idiota. É o que penso silenciosamente, enquanto caminho no corredor da prisão, na intenção de voltar para meu quarto e tomar uma decisão sobre o que fazer com a situação de Catherine a partir de agora. 

Entretanto, assim que dou o terceiro passo adiante, eu cesso a caminhada ao reconhecer, mesmo de longe, três figuras disfarçadas de cavalariços, com grandes capas escuras que cobrem suas cabeças e corpos, vindo na direção oposta a minha. Eu simplesmente não acredito nisso! Como eles ousam? O que esses idiotas pensam que estão fazendo? Será que não percebem que isso aqui é uma prisão real, e não um dia comum de piquenique no parque? É o que pondero cheio de raiva e despeito, e os meus olhos se cravam imediatamente de modo fixo e ameaçador, na figura do meio de olhos e cabelos castanhos.

E no instante em que nossos olhares se cruzam, algo acontece. Num momento Cath está de pé e no outro já não está mais. Ela perde a consciência e cai no chão em questão de segundos. Eu não penso duas vezes antes de correr em sua direção e arrancá-la das mãos de meu irmão que a ampara após a queda. Felipe é um idiota mesmo! É o que penso com o coração acelerado, quase saindo pela boca, e irritado com a atitude imprudente a qual ele tinha tomado. 

-Vá chamar um médico agora mesmo, Felipe! Diga a ele para me encontrar nos meus aposentos reais, para um assunto urgente, de vida ou morte.

Eu ordeno ao erguer Cath em meus braços e apertá-la contra meu peito, mas com cuidado, de modo que ela fique bem firme e segura enquanto a carrego em direção ao meu quarto, com os passos mais rápidos que já dei em toda a minha vida. Luz acompanha meu irmão na direção contrária, para fazer como mandei, e ir encontrar o médico que atende somente a família real de Navarra. 

-Deus, eu sei que não mereço pedir nada, mas... por favor, não deixe que nada aconteça com Cath e nem com o nosso bebê. 

Eu faço uma rápida oração durante o trajeto, morrendo de medo e de preocupação de que alguma coisa de errado tenha acontecido com a mulher em meus braços, e também possivelmente com a criança que está crescendo em seu ventre. O meu filho. O que antes era apenas uma suspeita apenas em minha cabeça, agora parece ainda mais perto da realidade, é o que penso comigo mesmo, ao fitar o rosto pálido de uma Cath desfalecida, e que aparenta estar bastante abatida devido aos últimos acontecimentos e a sua atual condição física. 

-Você vai ficar bem, está me ouvindo? Você tem que ficar...

Eu sussurro baixinho, com o coração a mil por hora, batendo feito um louco, com a boca colada no ouvido dela, e sentindo-me bastante desesperado e perdido, como nunca havia ficado antes em toda a minha vida. Apesar da gente ter começado da maneira errada e não nos entendermos na maior parte do tempo, eu jamais desejei o mal para ela. Cath e eu não somos perfeitos um para o outro, somos totalmente oposto e brigamos o tempo todo. Contudo, ainda assim, a bela garota de grandes olhos castanhos tem um lugar muito especial em meu coração, por ter cuidado de mim no passado. E mesmo que não tenha dado certo, eu preciso admitir pelo menos para mim mesmo... um dia... um dia eu a amei de verdade. 

Eu a amei por uma noite inteira e depois disso tudo desmoronou no dia seguinte. Acabou... quando ela partiu e me deixou só.


🗡🗡🗡

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A Sombra do PassadoWhere stories live. Discover now