four, bad chemistry

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— 𝓒orta! — Gritou Jonas Pate, o diretor da série, fazendo com que parássemos a cena. Pela décima vez.

Por mais extremo que isso soe, eu estava querendo cortar minha garganta fora de tão exausta que estava de gravar a mesma cena. Não havia nada de errado com a cena, com o posicionamento das câmeras, com a iluminação, com o som. Nada de errado. O problema também não eram os erros de falas, porque estava tudo perfeito. O problema era a química.

Não havia química nenhuma entre eu e Drew. O que era engraçado, já que estávamos mais próximos conforme os dias, após o elenco ter visto o meu show e termos saído depois há duas semanas atrás. Eu não fazia ideia de o que poderíamos fazer para mudar aquilo e, sinceramente, estava começando a me irritar.

— Pessoal, não sei o que está acontecendo. O problema não é vocês, mas sim vocês juntos. —  Ele diz, coçando a cabeça como se estivesse pensando em como dizer da melhor forma possível —  Vamos fazer o seguinte: acabar por aqui e vocês vão ter algumas horas livres até gravarmos novamente. Tentem conversar, passar esse tempo juntos... Sei lá. Mas, por favor, consertem isso.

Acho que Pate estava tão cansado quanto nós dois, que sai do set com uma expressão frustrada e sem se despedir. Isso me fez engolir em seco, não esperava tal chateação com ele, mas compreendia. Assim que ele deixa o local, me jogo no sofá da cena e levo as mãos à testa.

— Que merda. — Digo, como se tivesse acabado de correr em uma maratona. — Qual é o nosso problema?

Drew parece tão perdido quanto eu pois se senta do meu lado e esfrega o rosto, soltando um suspiro em seguida. Podia não ser o nosso dia e eu totalmente iria entender. O problema é que deveríamos fazer aquela cena direito, já que era a terceira que fazíamos juntos na série. A minha personagem, uma Kook, iria até a casa da família Cameron em busca de uma nova pista para o enredo do episódio e daria de cara com Rafe. Então ele a ameaçaria e eles trocariam algumas farpas. Mas estávamos falhando até nisso.

Balanço a cabeça, me sentindo uma completa fracassada e me levanto, andando em passos firmes e irritadiços ao meu trailer. Mas antes que pudesse ir muito longe, a voz de Drew chama pelo meu nome e vem em minha direção.

—  Ei, Nina. — Ele passa as mãos pelos fios curtos de seu cabelo e respira fundo — Vamos almoçar juntos, está bem? Assim a gente conversa sobre essa cena e o que a gente faz pra melhorar.

Mordo o canto interno da minha boca e assinto, com os braços cruzados. A verdade é que eu não estava a fim de olhar para a cara de ninguém agora. Mas não era como se eu tivesse escolha.

— Tudo bem. Sem problemas, só me mandar uma mensagem quando quiser ir. — Aviso e dou as costas e indo para o trailer.

Fecho a porta com mais força do que deveria e seguro uma almofada na frente da minha boca, para abafar o grito que eu queria dar naquele momento. Inspiro e expiro diversas vezes. Me sento à frente da penteadeira e abro o roteiro da cena que faríamos, lendo e relendo as especificações para a minha personagem. Não conseguia aceitar que a cena estava péssima e coloquei os meus fones, cantarolando qualquer música da minha playlist.

Alguns minutos depois, recebo uma mensagem de Drew me chamando para almoçar, como combinado. Me sinto péssima por não ter o contato dele salvo, e tenho certeza que ele iria perceber assim que visse a minha foto aparecendo do nada em seu aplicativo.


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imessage
Número desconhecido
Nina Jones

Número Desconhecido
oi, Nina!
aqui é o Drew
tô livre agora, depois me avisa
quando pudermos almoçar juntos

Contato salvo como "drew 💛"

Nina Jones
dreww
tudo bem, podemos ir agora
aonde nos encontramos?

drew 💛
acabei de perceber
você não tinha meu contato salvo
👎👎👎
é assim que a gente descobre
quem são os de verdade

Nina Jones
ME PERDOA

drew 💛
só se você pagar o almoço

Nina Jones
🙄
cadê você?

drew 💛
indo pro seu trailer
me espera aí

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Poucos minutos depois, ouço uma batida na porta do trailer. Ajeito a minha blusa que havia vestido após retirar o figurino e abro a porta, me deparando com uma visão mais calma e relaxada de Drew. Por um momento, me senti péssima por estar tão desleixada. Abstraí tal fato, abri um sorriso e peguei a bolsa com as minhas coisas para que pudéssemos sair.

— Já escolheu qual restaurante você vai me levar, Nina? — Drew perguntou, com um sorriso cínico estampado em seu rosto — Não aceito nada abaixo de três estrelas Michelin, só para te manter informada.

Solto uma risada com a sua "informação" e assinto, pensando em uma resposta à altura.

— Eu estava pensando em Cup Noodles e suco de caixinha, se você não se importar. — Respondo como se fosse algo realmente planejado e ele olha para mim por alguns segundos, tentando entender se era uma brincadeira ou se eu estava falando sério. — É brincadeira, idiota.

— Ah, menos mal. — Ele respira fundo, soltando mais uma risada. — Mas eu não me importaria de comer Cup Noodles e beber suco de caixinha com você.

Ai, Deus. Eu estou ficando corada? Por favor, diz que não.

Não demoramos muito até encontrarmos um restaurante na esquina dos estúdios e nos sentamos em uma mesa reservada. Fizemos nossos pedidos e enquanto Drew contava uma história hilária de como ele e Rudy ficaram bêbados e perdidos em Nova York após a festa, enquanto eu bebia meu suco de morango.

Parecia que estávamos conversando por horas, e foi o que de fato aconteceu. Almoçamos e ainda assim continuamos naquele mesmo canto mal-iluminado do restaurante. Simplesmente contávamos histórias nossas e ríamos o tempo todo. Não fazia ideia do porquê não termos feito isso antes, mas foi ótimo.

— É sério! — Reafirmei após Drew duvidar da minha história de ter me sentado na mesma cadeira em que a Taylor Swift se sentou em um restaurante de Nova York. — Eu confirmei as datas, horários! Foi o mesmo lugar. Eu sentei o meu bumbum no mesmo lugar que a Taylor Swift sentou o bumbum dela.

— É tão engraçado ouvir você falar "bumbum". É bonitinho. — Drew fala em um tom implicante. — Mas ainda é uma ótima teoria.

— Me deixa, vai.

Impossível, Nina. Desculpa decepcionar.




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