Melodia da Morte

ℭ𝔞𝔭𝔦𝔱𝔲𝔩𝔬 5

Darlan

   Lohan estava fumegando de raiva, andando de um lado para o outro contando sobre seu recente encontro com a princesa, que, devo admitir, adoraria ter assistido. Pelo que entendi, a menina não só lhe deu uma surra como feriu profundamente seu orgulho e ainda por cima saiu viva. Qualquer chance que tivesse de não gostar dela se esvaiu depois disso, se havia algo que eu valorizava era a coragem. Agora Rashne era minha pessoa preferida, depois de Gyeong.

   — Acredita nisso? — Lohan falou, parando de andar abruptamente e ponto as mãos em cima da mesa. — Aquela coisinha ainda por cima quis ter razão no final, como se eu fosse o culpado!

   — Se você dedicasse seu tempo a algo a mais do que trabalho, acho que saberia o óbvio. — Sorri e me acomodei na cadeira do outro lado da mesa, imaginando que isso ainda iria longe. — Mulheres sempre tem razão, meu amigo. A vida fica mais fácil assim.

   — Bobagem! — Disse e voltou a andar — Isso é falta de se depararem com um homem de pulso firme, alguém que imponha respeito! Você vai ver, ensinarei àquela pequena tempestade quem manda aqui.
   
   Acho que vou vê-la te comer com farinha, isso sim.

  — Claro, se você diz... — Concordei, desejando que ele arranjasse algo para fazer. — Mas acho que deveria deixar isso para trás, a princesa me pareceu uma pessoa legal.

   — Está interessado nela? — Abri a boca indignado para negar, mas ele se adiantou. — Quer saber? Esqueça. Quando ela mostrar as garras verá que estou certo, uma criatura como aquela não deveria ficar solta por aí. É tão louca quanto o pai ou aquele irmão idiota que se diz rei.

   Nesse mesmo instante, a porta foi aberta com força, se chocando contra a parede. Minha mão foi instintivamente para o cabo da espada e a postura de Lohan ficou tensa, acredito que chegamos a prender a respiração. E então, lá estava ela, com os longos cabelos castanhos soltos e a postura altiva como a de uma rainha. Rashne olhou para Lohan de cima a baixo, como se ele não fosse nada além de um inseto irritante, então passou por ele e parou perto da minha mesa. Seu olhar era tão intenso que vi sentido na forma como Lohan a chamava, naquele instante ela personificava a calmaria antes da tempestade. 

  — General, é um prazer revê-lo — Rashne passou o dedo pela superfície de madeira, como se procurasse alguma sujeira. — Embora esteja... atarefado no momento, há um assunto que preciso tratar com o senhor. 

   Lohan escolheu esse momento para se recuperar do choque e agarrar o braço da princesa.
 
   — O que significa isso? — Ele perguntou, praticamente sussurrando, daquele jeito que fazia quando estava prestes a cometer uma atrocidade. 

   — Eu é que deveria lhe fazer essa pergunta. Sou sua convidada e me trancou como uma prisioneira. — Ela respondeu no mesmo tom. — Vai mandar minha cabeça para Gabrigal assim como fez com Gustav? 

   — Não me tente...

   — Então pare de me tratar como se fosse um capricho seu.

   — Vossa majestade — Intervenho, me levantando da cadeira e me posicionando entre eles. — Acredito que ambos estejam cansados depois da comoção que começou por minha causa. Me permita conversar com a princesa. Depois, podemos tomar o desjejum juntos e agir como se nada tivesse acontecido. Afinal, tudo isso não passa de um mal-entendido, não é mesmo?
 
   Lohan me olhou daquela forma estranha que me lembra um pouco seu pai, e mesmo que eu tentasse resistir meu corpo reagiu instintivamente, encolhendo-se. Ele percebeu isso. Breves vestígios de arrependimentos e mágoa surgiram e desapareceram rapidamente em seus olhos. Meu coração se apertou sabendo o que causei e fiquei sem saber o que fazer, então, outra pessoa entrou na sala e dei graças aos céus pela interrupção. Isso é, até ver quem era.