Amor, Flores e Velas!

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   Guadalupe nasceu em oração, no coração de Oaxaca, México. Desde pequena, sua mãe, Lúcia, a ensinou a rezar e acreditar na força do destino. No entanto, quando chegou o momento ela aceitou um emprego no Brasil, um país distante e desconhecido, em busca de novas oportunidades.

   A jovem aportou em Minas Gerais, mais precisamente na histórica cidade de Ouro Preto. Lá, Guadalupe encontrou um emprego na área de mineração, uma indústria que a aproximaria de seu objetivo de proporcionar uma vida melhor para si mesma e sua família.

   Foi durante uma tarde quente que o destino entrelaçou sua jornada com a de Alejandro Sanches, um jovem colombiano que também havia deixado sua terra natal em busca de um futuro mais promissor no Brasil. Unidos pela esperança de uma vida melhor, Guadalupe e Alejandro compartilharam histórias de desafios e conquistas, criando um vínculo que transcendia as barreiras da cultura.

   Em 2004, nesse solo fértil de sonhos e oportunidades, nasceu André Sanches, um símbolo da determinação e do amor.

   André cresceu ouvindo sua mãe compartilhar histórias de Oaxaca, em especial o festival do dia de los muertos. Quando criança, a curiosidade para saber mais sobre suas origens o invadia e dominava seus sonhos e desejos, foi nessa época que a frase " mais uma mama?!" Preenchia as noites de dona Lupe a deixando cheia de orgulho, afinal, seu pequeno ao demonstrar tamanho interesse, a enchia de felicidade. Tradições eram importantes para ela. Desejava passar o legado de seus ancestrais a diante.

   Lupe, com o filho a tira-colo, se aconchegava no sofá e sorria quando a criança impaciente implorava com sua voz doce e infantil: — Mama, conte mais sobre o festival.

   A mãe acariciava os cabelos escuros do pequeno André.

— Querido, durante o Festival de los Muertos, nossa cidade se enche de cores, música e alegria. É um tempo em que homenageamos aqueles que já partiram para o outro mundo. As ruas se enchem de altares adornados com flores, velas e as comidas favoritas dos entes queridos que se foram.

   Os olhos do pequeno brilhavam de curiosidade, e ele se aconchegava ainda mais perto de sua mãe.

— Uma das histórias mais emocionantes desse festival é a lenda de que, durante esse período, as almas dos mortos vagam entre os vivos. São raras as pessoas que conseguem ter o privilégio de vê-las e interagir com elas. Dizem que, se você for suficientemente puro de coração, poderá sentir a presença dessas almas e compartilhar momentos especiais com elas.

   O garoto olhava para Lupe com admiração, imaginando as almas dos entes queridos passeando pelas ruas de Oaxaca, observando as festividades.

   Porém, o tempo é implacável e muda tudo. Com o passar dos anos André afastou-se gradativamente de suas origens. Preocupada, Lupe pensou em uma solução que mudaria tudo.

   Era uma manhã chuvosa em meados de Outubro quando a gentil senhora convenceu o marido que este ano eles iriam a Oaxaca. Uma viagem em família que não agradou em nada o jovem de 19 anos.

— André Alejandro Sanches! Se não levantar desta cama em dois minutos eu juro por todos os santos que vou te virar do avesso. - Gritou dona Lupe, para a porta do quarto de braços cruzados e sem paciência alguma. Era a segunda vez que o estava chamando e ela não deixaria chegar a terceira.

— Calma dona Lupe. Já estou de pé. Vê? Não precisa me ameaçar. - André respondeu já levantando.

— Arraste essa sua bunda magrela até aquele banheiro e faça o que tem que fazer.

— Não sei por que insiste tanto nessa viagem Mama. Eu expliquei que não estou com a menor vontade de ir.

— É uma viagem para que você conheça sua avó. Se conectar com suas origens. Vamos fazer isso em família. - Lupe tinha o rosto do filho entre as mãos e carinhosamente acariciava suas bochechas. — Faça um esforço querido. Sei que vai gostar.

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