Capítulo Único - Flertando com o desastre

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Tudo dói, tudo machuca, tudo destrói. 

O coração se torna apenas uma casca vazia e oca incapaz de ser preenchida de novo. O vazio parece engolir meu espírito, me tornando alguém que mal reconheço. Talvez o perigo do amor seja justamente a capacidade quase instantânea de destruir algo tão frágil como a alma.

Me encontrar é a parte mais difícil e mais necessária de todo o processo. No entanto, as lembranças parecem queimar como ácido sulfúrico, tornando quase impossível a mera capacidade de seguir em frente.

Ainda assim, existem partes boas. Porém, elas fazem latejar até o canto mais obscuro do meu peito. Pensar no brilho dos seus olhos é uma tortura, pensar no sabor do seu beijo é uma desgraça, pensar no calor de seus braços é um pesadelo.

Sei que um dia, pensarei em você sem lembrar da melhor parte de mim que você acabou levando.

Sei que um dia, tudo o que vivemos não passará de uma mera cicatriz quase indolor.

Mas esse dia parece tão distante, quase inalcançável.

Quando te vi pela primeira vez, deveria imaginar que estava flertando com o desastre porque naquele momento, algo essencial em mim mudou. Era você despertando coisas que há muito tempo eu não sentia.

Foi uma sensação tão boa e prazerosa que me permiti mergulhar nela sem saber que poderia acabar me afogando sem nenhum bote salva-vidas.

E me afoguei.

Na verdade, sinto que estou até agora me afogando.

Às vezes, ainda consigo nadar, mas em outras posso sentir a água entrando em meus pulmões tornando cada respiração mais dolorosa que a anterior.

Você me quebrou em tantos pedaços que às vezes me pergunto se ainda há conserto. Se você deixou alguma parte em mim que ainda pode ser salva. Alguma parte que você não levou.

Por incrível que pareça, o que mais doeu nisso tudo não foi te perder e sim descobrir que ao me doar tanto a você acabei me perdendo.

Flertando com o desastreWhere stories live. Discover now