DEZESSEIS

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Uma semana depois.

— Dr.Turner, eu nem tenho palavras para agradecê-lo — disse o jardineiro do casarão, que após receber a visita do jovem médico se sentia aliviado de suas dores.

— Disponha, sr. Sallow! É o prazer ser útil. — Ian fechou sua maleta e suspirou. Ele tinha sincera satisfação naquela profissão. — Não esqueça de tomar sua medicação e em uma semana retorno.

— Deus o pague por tanta benevolência. — A sra. Sallow, uma mulher de cabelos grisalhos e corpo esguio, chegou com uma bandeja com algumas xícaras de chá e biscoitos de canela. — Não é toda pessoa que deseja prestar serviços de graça para pobre como nós.

Ian aceitou a oferta do chá e enquanto sorvia a bebida quente pensava ser justamente esse o motivo pelo qual queria ser médico: ajudar os desfavorecidos.

— E você, meu bem, deve se conter! — falava a mulher para o marido. — Aproveite a bondade da sra. Wood que o concedeu uns dias para tratamento. — Ela voltou-se ao médico. — Este homem não ver limites no trabalho. Parece que não terá o amanhã.

O marido riu.

— Se depender da sra. Sallow, dr. Turner, eu nunca mais me levanto desta cama! — disse com humor.

— É um mal agradecido. Vou deixá-lo afundar no colchão. — A graça entre os dois era evidente.

O jovem médico analisou aquela relação tão cheia de compreensão e amorosidade. Lembrou-se do tempo em que desejava essas coisas numa relação conjugal, porém, as estruturas de seu futuro foram alteradas de maneiras tão abruptas que não tinha mais esperança.

— Não vamos mais infortuná-lo, dr. Turner. Veja como se tornou pensativo — A voz da sra. Sallow o fez voltar.

— Não é um infortúnio — ele alegou. — E o chá está ótimo! — Colocou a porcelana na bandeja.

A senhora deu um sorriso, mostrando sua simpatia natural.

— Perdoe-me a curiosidade, dr. Turner, mas por que decidiu ser médico?

— Minha esposa é sempre intrometida, doutor. É de sua natureza — o sr. Sallow interviu na situação a fim de não deixar uma má impressão sobre sua mulher.

Ian riu e não se sentiu nenhum pouco invadido. Ele pegou um dos biscoitos de canela e mordeu, antes que pudesse contar qualquer história.

— É claro que o senhor deve ter outros afazeres em vez de ficar conversando com dois velhos — a senhora declarou.

— Na verdade, essa é a parte que eu mais gosto da minha profissão — falou com gentileza. — Acredito que a troca de experiência acrescenta em muito na nossa vida.

— Você é um menino, esperto! — o sr. Sallow exclamou. — É de entristecer o coração o quanto muitos jovens não aprendem isso.

Ian assentiu para o homem.

— Agora, respondendo a sua pergunta — ele esfregou as mãos para tirar os farelos do biscoito. — Meu pai sofreu com uma doença e...

— Com licença! — Era o timbre de Emily.

"O que ela estava fazendo ali?" Pensou Ian.

Desde a breve discussão na sala de jantar, eles não conseguiram conversar mais. Emily ficou repleta de serviços e Ian não podia se meter. Para ocupar os pensamentos, ele se dedicou na organização das suas consultas e conversou com Madeline para adquirir materiais necessários a fim de compor sua nova maleta médica. Aquele trabalho foi importante para sua próprio estabelecimento de pensamentos e sentimentos. Sentiu-se inteiro novamente.

Graciosa - Livro II (Série Virtuosas)Onde histórias criam vida. Descubra agora