Capítulo único: Conexão SIM

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Mylon é acordado pelo celular. Normalmente antes de se deitar o coloca em cima da escrivaninha carregando na tomada, mas as vezes pega no sono assistindo algo nele e por isso acaba ficando sobre a cama. Seu celular sempre está no modo vibrar, o garoto sempre quis ficar ciente quando parentes ou amigos tentassem se comunicar consigo. Claro, como se ele se preocupasse com eles, mas o garoto só queria o “saber”, o ficar “alerta”. Afinal apenas a intromissão de pessoas, que possuem ações as vezes tão abruptas, poderiam aliviar o tédio da sua vida tão vazia, tão sem cor, tão sem graça.
Há algo estranho nisso. Ele recebeu a mensagem em um aplicativo popular que instalou recentemente, que não tinha muita gente adicionada ainda. “A essa hora deve ser só mais uma empresa estúpida confundindo o número e mandando mensagens inúteis, como sempre...” pensa ele, emburrado. Nem lendo nada, Mylon já desliga a tela e muda a postura para voltar a dormir.
Mas o celular vibra mais vezes. O que o faz desbloqueá-lo e finalmente ler o que estava na sua barra de notificações. Seus olhos se arregalam, qualquer um sentiria esse tão intenso sentimento intrigante que o faz apertar a mensagem o mais rápido que pode, abrindo o aplicativo e indo direto para a conversa.
“Por favor me ajuda” “Eu preciso de ajuda” “Socorro rapido” “Daqui a pouco ele ira voltar” é o que dizem todas as mensagens que recebeu.
O garoto engole a seco, um número desconhecido está lhe pedindo ajuda. Poderia ser uma pegadinha? Não, ele não tinha espalhado tanto assim o seu número por aí. Além disso, as mensagens não possuem uma boa ortografia nem para uma conversa informal, ele imagina. A pessoa realmente parece estar na correria.
“Calma, quem é você?” ele responde, e sem espera recebe de volta “Meu nome é Claire Kollinster” “Mas não adianta informar minha família” “Preciso que me ajude por favor”. Não adianta informar a família? O que ela iria querer dizer com isso? Qualquer pessoa sequestrada iria querer que a polícia e seus parentes fossem informados, para que alguma busca fosse feita. Isso deixa Mylon ainda mais intrigado, pois a garota parece ter certeza que não teria outra ajuda além da sua.
Com esse peso na consciência, ele não consegue evitar perguntar “Por que não adianta falar com sua família?”, o que a garota demora a responder. Claire estaria hesitando? Estaria em dúvida? Ou sua situação atual teria piorado? Dúvidas como essas pairam a cabeça de Mylon com intensidade.
Depois de longos segundos, a resposta recebida foi apenas “Todos eles já estão mortos”. Que parece uma informação ainda mais curiosa, ainda mais pesada. Mas que por incrível que pareça, não impressiona Mylon, nem sequer o deixa nervoso. Ele está seguro, calmo, só tentando entender a situação. Quem realmente é essa garota? O que está acontecendo!?
Ambos continuam as trocas de mensagens, sem longas pausas dessa vez:

“Como conseguiu esse número?” – ele pergunta.

“Era o unico contato disponível no único aplicativo instalado nesse celular” “Esse celular e do sequestrador eu o peguei.” – Claire o responde.

“Onde você está?”

“Ele dormiu” “Acho que posso ter uma chance”

“Irei te ajudar, mas preciso de mais informações”

“Desculpa parei porque ouvi um barulho” “Sao os roncos dele” “Nao sei onde estou”

Mesmo ela não tendo total certeza, também está de noite e o quarto não possui nenhuma lâmpada. Apenas o que ilumina o ambiente é uma vela no chão, que está distante de si, não a deixa enxergar muita coisa. Ela liga a lanterna do celular e o direcionando a sua volta o quanto pode, Claire analisa bem o cômodo em que está: As mobílias parecem reviradas e outras bastante empoeiradas, e de resto as paredes e chão são feitos de tábuas de madeira já desgastadas. Quando foi raptada, estava vendada, então não sabe ao exato como a casa seria por fora. Mas um lugar sem luz e vazio? Pensa ela que só pode ter sido uma antiga casa usada por fugitivos, afinal não há sangue em nenhum lugar, então não podem ter sido inocentes vítimas da guerra.
Então ela desliga a luz e volta para responder. Seus pulsos e pernas estão amarrados com um nó forte de corda, com os calcanhares presos a uma cadeira. Mas as mãos estão soltas em cima das coxas, Claire consegue digitar sem dificuldades. Posição que aparentemente foi deixada para que conseguisse comer sozinha.

Conexão SIMWhere stories live. Discover now