Força que move o mundo

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Existem sentimentos que residem em nós antes mesmo de os conhecermos,
Uma força vital
Que nos move em direção à mudança;
Um sentimento de orgulho que escorre de nossas veias,
Que nos move a lutar por melhorias em nossa pátria.
Afinal de contas, nós somos mães, filhas e irmãs desta nação.

Carregamos no sangue a vida de tantos outros,
O destino de outros tantos.
É porque merecemos liberdade que não nos curvamos,
É porque temos voz que formamos coro,
É porque temos força que ousamos seguir lutando,
É porque um dia fomos guiadas por Nhanga Mafumo, Nzinga Mbandi e Mbuya Nehanda
Que resistimos e bradamos:
“nenhum tirano nos irá escravizar”|11|.

Nenhum povo contemplará as estrelas se ainda formos reféns da escravatura:
“Ordem e Progresso”|12| só são possíveis se houver liberdade,
 E a mudança envolve luta.
Então, trajemo-nos de coragem feito Dandara dos Palmares,
Que lutou contra os opressores da nossa liberdade,
Afinal, não basta falar de mudança,
É preciso lutar por ela.
Quando, de fato, conquistarmos a independência
Poderemos, enfim, contemplar o céu estrelado com um sorriso no rosto.

E é por nossa luta que somos lembradas,
Por nossa força que somos homenageadas:
Ser mulher é ser guerreira desde a primeira respirada.
Como Josina Machel nos ensinou:
Toda mulher tem direitos iguais a qualquer outro,
Deve dizer o que quer dizer,
Deve lutar pelo que acredita;
Toda Mãe-pátria deve ser livre para criar seus filhos,
Para ensinar-lhes sua cultura,
Para deixar que eles sejam eles como bem entendem.

Toda luta tem um fim,
E o nosso foi alcançado quando a Princesa Isabel sorriu perante a Lei Áurea, 
Quando Nísia Floresta se tornou nossa heroína
E 27 outros sorrisos se formaram nos rostos dos que já haviam esquecido da doçura de ser livre
— Mãe que é mãe sempre lutará pelos direitos dos seus filhos.

Foi pensando em cada um daqueles que não tem voz
— Uma pátria colonizada, mulheres silenciadas, crianças ignoradas —
Que seguimos na luta, seguimos acreditando.
Graça Machel já nos deu a direção:
“Educação é o tesouro dos tesouros”|13|,
Pois, em um mundo que segrega,
Só o conhecimento deste mesmo mundo
E a compreensão do outro
Podem unir permanentemente.

O conhecimento se tornou a nossa arma mais poderosa
Contra todo tipo de exclusão.
Apesar de a caneta ser mais leve que uma pistola,
Essa mesma caneta é bastante fatal quando carregada num papel em branco
— Se não acreditam, perguntem a Conceição Evaristo e Lélia González:
Escrever se tornou o nosso meio de denúncia e liberdade.

A verdade é que a arte sempre foi o nosso escape,
Uma mensagem sobre quem somos e o que queremos
Que destinamos a nós, aos nossos iguais
E, nas entrelinhas, destinamos ao mundo.
Mãe Noémia de Sousa nos ensinou a poetizar a vida,
Paulina Chiziane foi na frente, desvendando e trilhando o caminho na luta para sermos ouvidas,
Maimuna Adam nunca nos deixou esquecer que arte conta história, a Nossa história.
Posso aqui ainda citar os nomes de tantas outras,
Como Odete Santos e Lília Momplé,
E isso é tudo para que nunca esqueçamos:
Podem nos tirar tudo, menos “a poesia que encontramos na vida”|14|.

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|11|Verso do Hino Nacional de Moçambique, intitulado Pátria Amada (2002), composição atribuída a Salomão Júlio Manhiça.

|12|A expressão, criada pelo filósofo Raimundo Teixeira Mendes, em 1889, aparece bordada na bandeira do Brasil, servindo como representação dos ideais nacionais pós-Proclamação da República. Com origem na corrente filosófica e politica do positivismo, o lema “Ordem e Progresso” se originou da frase “O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim”, de Auguste Comte.

|13|Frase dita por Graça Machel em 2019, durante palestra na Faculdade Zumbi dos Palmares, em São Paulo – SP (Brasil).

|14|Verso do poema Súplica (provavelmente em 1951), presente no livro Sangue Negro (2001), de Noémia de Sousa (1926 – 2002).

Do Céu ao Inferno (de Terras Distantes)Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt