Ⅴ.

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 G.

 Eu olhava a beira do penhasco que estava. 

Quando quando me virei e percebi que me observava. Você estava lindo. Com aqueles olhos que me passavam tranquilidade, o mesmo que me fez sentir um imenso amor tão intenso por ti. Te assisti aproximar-se de mim.

Me abraçou. Senti seus braços me rodearem. Por um momento eu quis chorar, era uma sensação tão boa em meu peito. Erámos um amor impossível.

Levantei meus olhos para você e tentei aproximar nossos rostos, mas você se afastou, me empurrou enquanto murmurava um: "Nojento".

Meu corpo caiu, com a sensação do vento frio que agora me circulava, não estava mais em seus braços quentes. Agora, meu peito doía, ardia, o clima gélido me consumiu. Eu caí na água, me afogava, e foi você quem me empurrou, você que me jogou do precipício. 

Levantei ofegante, sentindo lágrimas no meu rosto.

Merda, eu sonhei com ele novamente. 

Luca. Ele foi meu melhor amigo desde pequeno, talvez tenha sido o único que realmente ligava para a minha existência. Porém, eu estraguei tudo, porque com a medida que crescemos, eu comecei a me descobrir...

E eu comecei a gostar dele, mas não foi recíproco. Foi o pior dia da minha vida...

"Esse viadinho realmente gostou de mim!" 

Todos riram. Esse dia foi quando eu decidi nunca mais me apaixonar. Não posso confiar em ninguém.

Quando eu me apaixono, pareço que perco a noção, me jogo de cabeça e faço as coisas sem pensar.

Peguei meu celular e vi que tinha uma mensagem de quem eu ia encontrar mais tarde. Hoje já é sexta feira, tenho que dar aulas de reforço para João Miguel. 


"Fala ae loirinho 

Eu acho que vou me atrasar um pouquinho hoje viu

 Mas eu juro que apareço ai"


Ele falou


"Como você vai se atrasar se é meu vizinho??"


Eu respondi.


 João Miguel mora, literalmente, na casa daqui do lado. É uma casa de dois andares como a minha, e o quarto dele fica na mesma janela do meu, mas eu sempre deixo as cortinas fechadas. 


"Independente irmão"



Desliguei o celular e levantei da cama. Acordei tarde hoje, já são duas da tarde. Talvez eu esteja feliz que ele vá se atrasar, posso tomar um banho decente antes dele chegar.


- "Gui, a mãe mandou avisar que eu e ela vai para o shopping hoje!" - Ouvi a voz de Caio gritar, enquanto esmurrava a porta.

- "QUEBRA!" - Dessa vez a voz era de Gabi, que parecia irritada. Eu ri baixinho e caminhei para fora do quarto.

- "Bom dia." - Eu falei. Andei em direção do banheiro, mas antes disso vi minha irmã abrir a porta do quarto dela, dando de cara comigo.

- "E ai, bela adormecida.- Falou e eu revirei os olhos. - "Soube que tu vai trazer um amigo para cá hoje..."- Falou, e já percebi onde ela queria chegar.

- "Que merda, Gabi. Ele é só um amigo."- Eu cortei antes que ela terminasse. Gabrielle era a única que sabia minha verdadeira sexualidade, foi ela que me ajudou quando todos estavam me humilhando...naquele dia...

- "Eu não falei nada!" - Riu e saiu do quarto, descendo as escadas.


Entrei no banheiro, tranquei a porta e me olhei no espelho. Meu rosto estava vermelho e meus olhos estavam inchados. Se prestasse atenção, ou se realmente importasse, dava para perceber que eu tinha chorado.

Entrei no chuveiro e o liguei. Senti a água escorrendo pelo meu corpo.

"Nojento."

Lembrei do meu sonho. A água gelada, o empurrão, o penhasco e ele...

Terminei meu banho, desliguei o chuveiro, caminhei de volta ao meu quarto, entrei, tranquei a porta e vesti o primeiro conjunto moletom que vi.


- "Gui, teu amigo chegou!"- Ouvi a voz de Gabi junto com o som da porta abrindo.

- "'Tô descendo!" - Desci as escada correndo e vi eles conversando já dentro de casa. Estranho. - "Oi."- Eu falei, e os dois me olharam.

- "E ai." - Ele respondeu sorrindo. Prestei atenção no que vestia. João Miguel usava uma camiseta do flamengo, uma bermuda e uma sandália qualquer. Ele parecia normal, exceto que tinha um corte novo em seu cabelo. 

- "Você cortou o cabelo..." - Não saiu como uma pergunta, parecia mais uma afirmação.

- "Sim, fui no Kleber. Tu precisa conhecer ele." - Ele já começou a falar. Só aí eu vi que Gabi sorria de uma forma brincalhona, olhando para mim. Eu só revirei os olhos e fiz um sinal silencioso para ela sair. - "E a gente vai estudar aonde?" - Perguntou.

- "Você trouxe seu material?" - Eu perguntei, já prevendo a sua resposta.

- "Porra, foi mal. Eu vim direito do barbeiro, nem me liguei." - Respondeu, enquanto eu caminhava em direção do meu quarto e ele me seguia.

- "Tudo bem, a gente usa o meu." - Tranquilizei ele. 

Entramos no meu quarto e eu fechei a porta. Ele observou tudo atentamente, até que parou em um poster que tinha na parede.

- "Não imaginava que tu fosse fã do Kayne West." - Falou, caminhando para o cartaz grande.

Era a capa do álbum Graduation.

- "Eu adoro as músicas dele. A minha favorita desse álbum é I Wonder." - Falei, observando sua reação surpresa.

- "Legal..."- Continuou olhando meu quarto, e parou seus olhos em uma mesa que tinha ali no canto da parede. - "É aí que a gente vai estudar?"- Perguntou.

- "Sim. Eu só vou pegar as coisas aqui." - Ele caminhou e sentou em uma das cadeiras, mexendo em alguns adesivos grudados ali. - "Teu quarto não é nada como eu imaginava." - Comentou, parecia hipnotizado nas coisas. Estranho.

- "E você imaginava como?" - Eu perguntei, rindo um pouco pela sua reação.

- "Ah, sei lá. Talvez com as paredes todas cinzas, sem posters, com uma cama de prego e uma roupa branca com amarras." - Respondeu, revirei os olhos, sorrindo, ele pareceu sorrir também, mas sumiu no instante que viu uma camiseta jogada ali. Era a camiseta do São Paulo, o time do meu pai. - "Eu não acredito que tu torce para o São Paulo!" - Disse meio chocado.

- "Eu não torço, nem acompanho futebol, só tenho essa camiseta porque ganhei do meu pai." - Eu comentei sem olhar no rosto dele. - "Bora começar a estudar logo."- Acabei falando, tentando mudar de assunto. 

Depois disso, nós dois passamos o dia juntos. Passamos algumas horas estudando, mas em algum momento, tanto eu, quanto ele, cansamos de ler livros. João deu a ideia de vermos um filme. Eu acabei topando. Desci para fazer pipoca e percebi que em algum momento já tinha anoitecido, e que só tinha nós dois em casa. 


Amores OpostosWhere stories live. Discover now