Capítulo 14 | À Sombra do Inevitável

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Por pouco Luciano não contou quem matara Soo e como. As palavras haviam lhe chegado à garganta, mas antes ele as engoliu. Que bem faria Martín saber o tipo de homem que era Wallingford? Não seria justo fazê-lo odiar alguém a quem tanta admirava. E ele também não queria ver seus olhos âmbar turvos de decepção. Afinal, já o machucara demais.

— Soo morreu num confronto.

— Ele estava no seu navio?

— Não. Soo era um patriota com o firme propósito de livrar vocês, colonos, do jugo dos ingleses. Ele sempre me dizia que havia causas maiores do que um só homem, causas pelas quais valeria a pena morrer.

A julgar pelo brilho em seus olhos, o pequeno sereio também pensava assim. Era um romântico, um sonhador. Tão diferente das pessoas que ele conhecera...

Brasil levou a mão ao rosto dele, mas Martín esquivou-se.

— Me duele. Agora entendo porque minha aia e meu pai sempre me disseram para ficar longe do sol.

— Fique aqui um instantinho. Não me demorarei.

Ele foi à procura do grupo de pés de babosa que havia visto perto dali e retornou depois, trazendo algumas folhas. Então se ajoelhou diante de Martín e, com todo cuidado de que foi capaz, cobriu-lhe o rosto com a polpa gelatinosa.

Enquanto limpava a mão na calça, Brasil reparou que, de olhos fechados, ele agora tinha uma expressão mais suave. O remédio natural parecia te surtido efeito. Isso era bom, já que...

Por algum motivo, seu sereio passou a língua nos lábios. No mesmo instante, ele sentiu uma pontada na virilha e, sem pensar duas vezes, tomou-lhe a boca num beijo apaixonado. Imaginava que ele fosse esquivar-se novamente; dessa vez, porém, Martín não só aceitou o carinho mas, retribuindo o beijo com ardor, passou o braço ao redor do pescoço dele e o fez deitar-se sobre o relvado.

De olhos fechados, Luciano sentiu que ele lhe tirava a camisa. Ninguém nunca o fizera sentir-se como Martín o fazia. Quis dizer-lhe o quanto seu sereio viera a significar em sua vida e como a ideia de deixá-lo lhe doía, mas as palavras não vinham. Não tinha o direito de lhe dar falsas esperanças, já que sabia que ou Wallingford ou um de seus homens acabaria por matá-lo.

Mas, se ele fosse metade do homem que Soo fora, iria fazer Martín odiá-lo e se alegrar-se com sua morte. Mas não era capaz de tal coisa. A simples ideia de que seu sereio pudesse vir a odiá-lo, por qualquer que fosse o motivo, era simplesmente insuportável.

Não, não era Soo. E em vez de tentar despertar o ódio dele, iria despir seu sereio como ele o despia naquele momento, para depois tomá-lo nos braços e fazer amor com ele até perder o fôlego e não pensar em mais nada

******

Quase uma hora depois, Luciano tomou uma mecha dos cabelos de Martín entre os dedos.

— Acha possível que haja alguém por aqui além de nós? — questionou Martín.

Luciano pôs-se a pensar. Havia algo familiar na praia aonde tinham chegado, mas ele já tinha visto tantas ilhas similares àquela que todas pareciam misturar-se numa só em suas lembranças.

— Não sei — confessou, ao cabo de alguns instantes. — Talvez seja uma boa ideia irmos averiguar.

Martín sentou-se e alcançou suas roupas.

— Ei, não precisa ser agora.

— Se quiser, pode continuar deitado completamente nu aqui, mas eu não quero correr o risco de que alguém me veja... assim.

Paixão Pirata (BRAARG)Where stories live. Discover now