Por pouco Luciano não contou quem matara Soo e como. As palavras haviam lhe chegado à garganta, mas antes ele as engoliu. Que bem faria Martín saber o tipo de homem que era Wallingford? Não seria justo fazê-lo odiar alguém a quem tanta admirava. E ele também não queria ver seus olhos âmbar turvos de decepção. Afinal, já o machucara demais.
— Soo morreu num confronto.
— Ele estava no seu navio?
— Não. Soo era um patriota com o firme propósito de livrar vocês, colonos, do jugo dos ingleses. Ele sempre me dizia que havia causas maiores do que um só homem, causas pelas quais valeria a pena morrer.
A julgar pelo brilho em seus olhos, o pequeno sereio também pensava assim. Era um romântico, um sonhador. Tão diferente das pessoas que ele conhecera...
Brasil levou a mão ao rosto dele, mas Martín esquivou-se.
— Me duele. Agora entendo porque minha aia e meu pai sempre me disseram para ficar longe do sol.
— Fique aqui um instantinho. Não me demorarei.
Ele foi à procura do grupo de pés de babosa que havia visto perto dali e retornou depois, trazendo algumas folhas. Então se ajoelhou diante de Martín e, com todo cuidado de que foi capaz, cobriu-lhe o rosto com a polpa gelatinosa.
Enquanto limpava a mão na calça, Brasil reparou que, de olhos fechados, ele agora tinha uma expressão mais suave. O remédio natural parecia te surtido efeito. Isso era bom, já que...
Por algum motivo, seu sereio passou a língua nos lábios. No mesmo instante, ele sentiu uma pontada na virilha e, sem pensar duas vezes, tomou-lhe a boca num beijo apaixonado. Imaginava que ele fosse esquivar-se novamente; dessa vez, porém, Martín não só aceitou o carinho mas, retribuindo o beijo com ardor, passou o braço ao redor do pescoço dele e o fez deitar-se sobre o relvado.
De olhos fechados, Luciano sentiu que ele lhe tirava a camisa. Ninguém nunca o fizera sentir-se como Martín o fazia. Quis dizer-lhe o quanto seu sereio viera a significar em sua vida e como a ideia de deixá-lo lhe doía, mas as palavras não vinham. Não tinha o direito de lhe dar falsas esperanças, já que sabia que ou Wallingford ou um de seus homens acabaria por matá-lo.
Mas, se ele fosse metade do homem que Soo fora, iria fazer Martín odiá-lo e se alegrar-se com sua morte. Mas não era capaz de tal coisa. A simples ideia de que seu sereio pudesse vir a odiá-lo, por qualquer que fosse o motivo, era simplesmente insuportável.
Não, não era Soo. E em vez de tentar despertar o ódio dele, iria despir seu sereio como ele o despia naquele momento, para depois tomá-lo nos braços e fazer amor com ele até perder o fôlego e não pensar em mais nada
******
Quase uma hora depois, Luciano tomou uma mecha dos cabelos de Martín entre os dedos.
— Acha possível que haja alguém por aqui além de nós? — questionou Martín.
Luciano pôs-se a pensar. Havia algo familiar na praia aonde tinham chegado, mas ele já tinha visto tantas ilhas similares àquela que todas pareciam misturar-se numa só em suas lembranças.
— Não sei — confessou, ao cabo de alguns instantes. — Talvez seja uma boa ideia irmos averiguar.
Martín sentou-se e alcançou suas roupas.
— Ei, não precisa ser agora.
— Se quiser, pode continuar deitado completamente nu aqui, mas eu não quero correr o risco de que alguém me veja... assim.
YOU ARE READING
Paixão Pirata (BRAARG)
Romance[CONCLUÍDA] Ainda morto de medo, Martín reparou que os olhos dele tinham um brilho alegre. Aquilo o tranquilizou um pouquinho. Brasil não parecia o cruel sanguinário que contava na lenda, mas sim um rapaz levado que acabava de fazer mais uma travess...