Capítulo 24 ☆

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- E isso é tudo, Munson? - o policial a minha frente escrevia em um pequeno caderno e me olhava com cautela.

- Sim. Foi o que aconteceu desde o começo, quando ele agrediu Chrissy na escola, até os acontecimentos de hoje. As pessoas só não denunciaram antes, porque você sabe... cara popular, astro do time, família rica. - um ferimento em meu pescoço ardia e as luzes das viaturas incomodavam um pouco os meus olhos.

Meu tio estava conversando com outro policial do outro lado da rua, provavelmente contando o que sabia sobre tudo isso.

- Certo, garoto. Obrigado pelas informações. Faremos o possível para que fiquem seguros. Agora é melhor ir pra casa descansar. - Ele colocou a mão no meu ombro em um gesto amigável e eu assenti com a cabeça, me levantando.

Eu me sentia quebrado. Meu estômago doía, tanto pela fome, quanto pelos socos que havia levado.

Dustin havia pego uma garrafa de água pra mim na geladeira da casa de Jason, o que ajudou um pouco com a sede. Ele, Mike, Jane, Will e Erica estavam sentados debaixo de uma árvore afastada das viaturas, em um canto mais escondido.

Caminhei até eles, enchendo meu pulmão com um ar que não fosse cheio de poeira e mofo do porão ou das lonas da caminhonete em que eu estava algum tempo antes.

Apesar da experiência de quase morte, a noite estava com um clima agradável, uma brisa morna soprava e crianças e curiosos vestidos com suas fantasias de halloween passavam a todo momento pela rua.

Quase como uma ironia, um garoto pequeno vestido de diabinho parou na minha frente e estendeu a mão, me entregando um chocolate.

Peguei o doce, agradeci e observei enquanto ele saia, satisfeito.

- Ainda bem que o Jason foi preso e não viu isso, senão ia dizer que você trocou sua alma por um doce- Erica disse quando me aproximei.

- Você tá péssimo, amigo. Quer que a gente te acompanhe até em casa? Você precisa de um banho. - Dustin fez uma careta e eu não pude culpá-lo. O porão da casa abandonada e a caminhonete de caça do pai de Jason não eram os lugares mais higiênicos do mundo.

- E é melhor caprichar na ducha, porque a sua namorada tá vindo aí. Quer fugir? Se ela te ver assim, vai se arrepender de ter salvo você. - Mike se pôs de pé num salto.

- Ela foi muito corajosa. Você tem sorte, Eddie. - Jane disse e percebi que era a primeira vez que ouvia a voz dela.

Observei ao longe quando Chrissy saiu pela porta da frente da casa de Jason. Seus olhos varriam toda a confusão de viaturas ali em frente e ela pareceu desapontada quando não encontrou o que procurava. Provavelmente, eu.

Um policial a abordou, pegando o caderno de anotações e começou a fazer perguntas.

Ela devia estar se culpando, mas eu não a culpava de nada. A culpa era totalmente minha. Precisaríamos conversar mas... não agora.

Os pirralhos estavam certos, eu estava péssimo. Precisava tomar banho, comer, me recompor e depois falar com ela. Olhei pro meu tio, que conversava animadamente com Hopper e que provavelmente não iria pra casa tão cedo.

- Vocês tem razão, seus merdinhas. E a propósito, obrigado pelo que fizeram hoje. - Pisquei pra eles e ajudei Dustin a se levantar.

- Chrissy planejou tudo, a gente só ajudou com nossa vasta experiência. Vocês devem um hambúrguer com milk-shake pra cada. - Erica sorriu e eu assenti com a cabeça.

- Ah, minha mãe tá ali, ela vai dar uma carona pra gente. Claro que o Hopper contou tudo pra ela, e claro que ela ficou ali a noite toda, pra caso algo acontecesse. - Will disse timidamente enquanto andávamos na direção oposta da casa, a caminho do carro de Joyce Byers, sua mãe.

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