Capítulo 3: Reviravoltas

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Faziam quatro dias que eu estava a planejar o que ocorreria naquela nublada manhã de sexta-feira, o dia cinza então tornava o cenário perfeito para minhas artimanhas. Fui visitar Manu, um gatinho que recém havia chegado pelos becos, ele era muito tolo, mas eu precisava juntar o maior número possível de felinos e ele seria o primeiro.

Depois que batemos um breve papo ele aceitou se juntar a mim, bom, agora não estou mais sozinho pelo menos, depois de três meses e meio sozinho Manu fora meu primeiro "amigo". As coisas iriam ficar mais fáceis com uma cabeça a mais, não fosse o intrometido do Robert se enfiar no caminho.

— Então está pensando em se aliar a outros gatos tão fracos quanto você, sério mesmo gatinho? Pensei que tu era diferente, forte de verdade, sabe? Mas pelo visto somente surras não serão o suficiente para te ensinar. — O encaro como quem diz "filho da puta, então foi você?" — Oh, vais dizer que não sabias que era eu quem estava a mandar que te surrassem? A garoto, como és tolo. — Novamente Robert e sua voz serena me causando arrepios.

— Mas por qual motivo fez isso comigo Robert? Você disse que ia me encontrar e que eu iria ser útil, mas tudo o que fez foi fazer com que me batessem. Que tipo de psicopata você é? — Digo com a voz tremula. — E ainda não quer que eu faça novas amizades, o que devo fazer então?

— Gatinho, gatinho. Tenha paciência rapaz, pode questionar meus métodos, mas vou te ser sincero, eu só quero o seu bem. Olhe estou aqui a tantos anos, já vi inúmeros gatos perdidos como você morrerem de fome em questão de horas por aqui, já outros acabarem fazendo parcerias com outros tão fracos como eles, assim como está querendo fazer, e depois serem apunhalados pelas costas pelos próprios "amigos" e também tiveram aqueles que cresceram com as porradas e ficaram mais fortes, são esses felinos que hoje estão ao lado meu. Olha, sei que disse coisas não muito legais para você no dia em que nos conhecemos, mas sou sincero em dizer que estou começando a criar afeição por ti, acho que podes ser o meu fiel escudeiro. Mas Cerveja, lembre-se o dono do seu destino é você próprio e eu não quero te impor nada. — Robert sai caminhando lentamente, me deixando sozinho e cumprimentando outros gatos que passavam pelo seu caminho.

Suas palavras me atingiram como flechas, de algum modo ele sabia exatamente o que falar para me manipular do jeito que quisesse e eu todo bobo acreditava em suas mentiras. Deixei Manu para trás e desde então nunca mais ouvi falar nele. Robert então começou a agir, me aproximou de seu beco e me deu tarefas simples mas que a mim se apresentaram como indispensáveis para a continuidade do gueto, isso na busca de aumentar minha autoestima e fazer com que me sentisse útil e importante.

Durante 3 semanas eu só patrulhei áreas estratégicas para o gueto, ficava em cima dos muros me esgueirando e observando cada ação suspeita. A vez em que me sobressaí foi quando observei gatos de outra gangue corrompendo um de nossos membros, ouvi tudo e o entreguei. Obviamente o bichano não está mais entre nós! Depois disso fui apresentado a uma nova função, então agora além de observar eu também iria negociar. Era eu quem cuidava de um dos nossos comércios, no caso o tráfico de Matatabi e Catnip, fiquei fazendo essas duas funções por volta de 2 meses. A minha entrada para o gueto parecia certa, tratava todos como a minha família e estava disposto a morrer por eles. Foi quando Robert achou que estava na hora de me aprofundar ainda mais em sua gangue, então eu era mandado para resolver qualquer tipo de problema de qualquer membro da gangue e não deixei de fazer os outros serviços, em troca disso eu tinha comida da melhor qualidade, um lugar para dormir e uma família para me cuidar.

Robert passou a ser um pai para mim, ouvia atentamente todas as suas palavras de ensinamentos, todos os conselhos. Ele me fez acreditar que todo aquele teatro era de verdade, usou e abusou da minha inocência, mas também me fez crescer, até hoje eu não sei o que passava naquela mente diabólica, porém foi graças aquele gato que me transformei no que sou hoje.

Em uma certa noite após um longo e cansativo dia de atividades pelo gueto Robert chegou e me disse:

— Venha, Cerveja. Hoje será a sua prova definitiva de que merece estar aqui comigo. — Ele me entrega uma pistola .50

— O qu.. que.. que eu vou fazer com is.. isso? — Falo tremendo e gaguejando, nunca havia chegado perto de uma arma antes.

— Vamos brincar de ciranda cirandinha, Cerveja. Você é burro assim mesmo ou se faz?

Enquanto conversava comigo, Robert foi me levando para a região do beco onde dávamos fim aos nossos inimigos. Quando olhei não pude acreditar, Victor estava lá. Ele era o meu melhor amigo e eu já imaginei o que tinha de ser feito.

— Patrão, eu não vou fazer isso! — Exclamei assustado e cabisbaixo.

— Você sabe o que ele fez? Esse verme maldito me traiu, se não o fizer, farei eu mesmo, mas você vai junto!

— Calma patrão, foi tudo um mal entendido. Por favor, não faça isso. — Victor clama em lágrimas pela vida.

— Cala a boca antes que eu mate vocês dois agora mesmo, vai Cerveja, ATIRA AGORA.

Em um surto de ódio miro em Robert, fecho os olhos e disparo...

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Gato CervejaOnde histórias criam vida. Descubra agora