Prólogo

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    Parada, no topo do morro, tinha a vista completa da cidade. Suspirava, pensativa, esgotada. Sua mente carregava um turbilhão de pensamentos. Ao olhar para baixo, sabia que a queda seria mortal. Uma lágrima escorreu de seus olhos.

    — Não faça isso... – uma voz masculina, não muito obstante fala para ela, quase com um sussurrar. – Você não está sozinha...

    Ela respira fundo, dando um passo para trás. Dominada pela mágoa, pela raiva e pela culpa. Sua mente oscilava entre encerrar tudo aquilo, e, a outra metade, carregava o medo e o desejo de vingança.

    Sentia seu corpo ser tomado por uma força magnética, que a afastava lentamente da beira do morro. Um calor sobrenatural, que ressaltava o vento gélido contra seu corpo.

    — Confie em mim... – aquele sussurro parecia tão próximo, como se sentisse a respiração em sua nuca. Seu corpo era tocado pelo vazio mais puro.

    Ela se vira rapidamente, tentando localizar o portador da voz, sem sucesso. Estava completamente sozinha, naquele breu mórbido do morro, mas, ainda sim, ouvia o sussurro mortal, tão doce e convidativo, que guiava o corpo dela. Como se tivesse total domínio dela. Andando sem destino, perdida, confusa, o caminho se tornava cada vez mais sinuoso. Uma escuridão repleta do vazio. Uma gargalhada ressoa ao fundo, apavorando ainda mais ela. Único brilho que iluminava seus caminhos era a luz da lua, completa em seu auge, com uma magnitude sobrenatural.

     Então ela acorda de súbito, limpando o rosto, bocejando. Olhando no relógio era apenas três horas da manhã. O vento gelado de sua janela aberta, e o corpo tensionado por aquele sonho vivido, criavam a atmosfera exata de sua vida. Vazia. Seu corpo esgotado como se tivesse realmente caminhado por horas a fio, e sua mente em sincronia com os batimentos cardíacos a esgotavam ainda mais.

    — Feche os olhos... — ouviu um sussurrar, apavorada, ela olhava para os lados procurava o portador daquela voz.

    Se deparando com o brilho de olhos esverdeados, a encarando, com um sorriso tão doce. Ela se levanta impulsivamente, o coração pulsando cada vez mais rápido. Mesmo que não demonstrasse ameaça alguma, o medo dominava ela cada vez mais. Ele sorri.

    — Fique calma, coisinha... — diz carinhosamente, sem se mover. — Acredite ou não, estou aqui apenas para ajudá-la.

    Tremendo de pavor, a voz dele embalando ela cada vez mais numa calmaria subumana. O som de sua voz, estranhamente familiar, até ela se dar conta de que era a mesma voz que acabara de sonhar. Arregalando os olhos apontando para ele, ela senta na cama, uma lágrima escorrendo de seus olhos.

    — Você estava... — seu coração fora de ritmo, a respiração oscilante, não conseguia concluir a frase, ele olha para ela estendendo a mão e sorrindo.

   — Te levei para dar uma volta... — a mão ainda estendida, e estranhamente ela se sentia cada vez mais tentada em segurar na mão dele. Desviando o olhar, ela cobria o rosto com as mãos nervosa, tentava se acalmar, descobrir como escapar daquela situação, e ainda mais, como manter-se segura. — Não vim para feri-la. — diz ele por fim, com uma voz incrivelmente doce, tão leve, como um simples sussurrar.

    — O que você quer de mim...? — ela pergunta a meia voz.

    — Quero te salvar... — ele declara por fim. — O lugar em que estava era sua própria mente. A lua, os males que você não vê. Se eu não aparecesse... — ele suspira, olhando-a cada vez com mais ternura, apaziguando seu medo. — você pularia, Agatha. — diz chamando diretamente por seu nome, mostrando um conhecimento inimaginável sob ela própria.

    Ela respirou funda, embalada pelo aroma que percebera que ele emanava, o tom de sua voz, a doçura de seu sorriso e o brilho atrativo de seu olhar. Sim, eu pularia pensou ela. Toda a dor que sentira no sonho, todo o medo, a mágoa, a raiva e especialmente a culpa, ela carregava todos aqueles sentimentos consigo mesma todo este tempo.

     Carregava o medo do fracasso, de tanto ser cobrada. Se deparar diariamente com problemas que se sentia ainda mais incapaz de resolver, ouvir as cobranças das pessoas que desejavam sua ruína. A mágoa por nunca conhecer o verdadeiro significado do amor materno, ou o reconhecimento de uma figura paterna, vez que sua mãe a tratava como um pequeno cisco insignificante no caminho e o pai a maldizer de todas as formas. A raiva por nunca ser o suficiente. E, por fim, a culpa, por aceitar esses tratamentos, pelo simples declínio ao reconhecimento das figuras familiares, como uma hierarquia a ser respeitada, mesmo que ela não fosse respeitada.

    — Quem é você? — ela pergunta olhando para ele mais calma e curiosa segurando na mão estendida a ela. Emanava um calor acolhedor, como se fosse tudo o que ela precisava, como se dissesse que tudo ficaria bem.

     — A morte. — aquele simples sussurro, gélido, implacável declarou por fim.

Doce sussurro da MorteWhere stories live. Discover now