03 | game day

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ANY GABRIEELLY

MIAMI, FLÓRIDA.

HOJE ERA DIA DE JOGO, ou seja, era o dia mais animado de nossa semana. Os meninos do time de futebol americano usavam camisa de botão e gravata, e as líderes de torcida usavam seus uniformes azul e branco.

Eu era uma delas, a melhor de todas, a abelha rainha. Tirei uma selfie antes de abrir o armário, e depois de posta-lá nos meus stories do instagram, voltei a fazer o que estava fazendo.

— Vi você de papinho com o Urrea ontem. — Shivani pergunta, abrindo o seu armário ao meu lado. Ela também usava o uniforme das líderes de torcida. — Onde foi com ele?

— Segredo. — respondo com um meio sorriso. Não queria contá-la, porque não queria perder os meus planos. — Ele vai conhecer meus pais hoje.

— Vocês já estão assim? — ela exclama. — Que rápido!

— Nesse final de semana é o baile das debutantes de Miami, lembra? — eu respondi, e em seguida, fechei a porta do meu armário. — Preciso deixar ele decente para apresentá-lo para meu pai.

Shivani assente, e começamos a caminhar juntas para o pátio externo. Ela se despede de mim alguns segundos depois, e caminha para o lado contrário do qual eu estava indo.

Encontrei Urrea encostado em uma árvore, sentado na grama. Alguns garotos estavam perto deles, mas não lembro de saber o nome de nenhum deles. Como sempre.

Caminho para perto do garoto, apertando os meus livros contra meus seios. Estava séria, até porque não sabia o que esperar dele. Nunca sei. Ele é um completo idiota.

— Pompons! — ele exclama ao me ver. Lanço meu dedo do meio para ele. — A que devo a honra de receber a rainha no meio da ralé da sociedade medieval?

— Eu preciso de você hoje.

— Eu tenho um lance. — ele diz, e volta a conversar com os amigos como se eu não estivesse aqui. — Você é surda? Eu falei que tenho um lance.

Dei dois passos para trás. O encarei, furiosa. Eu estou o pagando para ser meu namorado. O mínimo que eu espero dele é que ele faça as coisas quando eu peço pra ele fazer.

— Tenho certeza que isso não vai te atrapalhar. — eu respondo. O vejo rir, e automaticamente sei o porque. O laço azul e branco de cima da minha cabeça brilhava como o sol. Levantei um dos braços e o tirei de lá, deixando minhas mechas loiras caírem sobre meus ombros.

Noah riu, e voltou a conversar com os garotos ao redor dele. Mas quando percebi, ele estava se levantando, e caminhando devagar até a minha direção.

Os braços fortes e tatuados dele envolveram minha cintura, colando o corpo dele com o meu. Ele usava o uniforme do colégio, calça social e o paletó, mas eu ainda podia ver a regata de malha branca que deixava seu peito transparente. A corrente brilhava no peito.

— Eu tenho um lance. — ele diz, olhando nos meus olhos. — O que quer dizer que eu não estou livre para as suas festinhas sem graça hoje.

— Tenho certeza que consegue tempo. — respondi ríspida. — Ou Adeus duzentos dólares por semana.

Noah trava nas minhas mãos. O olhar dele incendeia, e aqueles olhos castanhos claros tomam uma cor muito escura de uma forma muito rápida. Ele me larga com força, e se distancia de mim com a mesma velocidade que se aproximou.

— As seis horas na minha casa, Urrea.

— As quatro. — ele diz. — Quero você pronta na porta da sua casa às quatro.

[...]

Aquela manhã foi pacata. E na minha opinião, completa estranha.

Noah Urrea não me importunou em nenhum dos períodos restantes. Não sei ao certo porque, mas também não me preocupei ao querer saber o que se passava na cabeça dele.

Sai da sala do último período acompanhada pelos meus amigos. Seguimos todos na direção do estacionamento, entrando cada um em um respectivo carro, dando partida dali e indo direto para casa.

Cheguei a Coconut Groove quinze minutos depois. Assim que coloquei o pé no chão da mansão, caminhei diretamente para o meu quarto. Tomei banho, me arrumei, e minha cabeleireira e maquiadora estavam me esperando do lado de fora.

Não levou muito tempo para que eu finalmente ficasse pronta. E as três e cinquenta e cinco, já estava completamente vestida, de maquiagem feita e cabelo arrumado.

Noah foi pontual. As quatro, escutei a buzina do seu carro do lado de fora, na passarela da mansão.

— Que milagre que você chegou no horário, não acharia estranho se você simp-

Assim que eu abri a porta por completo, fiquei quieta. Puta que pariu. Noah estava dirigindo nada mais nada menos do que uma Maserati. A porra de uma Maserati.

Espantada, o vi rindo da minha cara. Ele estava encostado no capô, com as mãos no bolso da calça social.

— A ideia de que você é um mafioso cada vez me parece mais certa.

— Quer calar a boca? — ele diz, ao me abraçar. Pura incensação. — Você é uma poeta quando quieta.

— E você é um grande pau no cu. — respondi, com um pequeno sorriso saindo dos meus lábios.

— Megera.

— Filho da mãe.

Paramos com as pequenas farpas quando meu pai chegou perto de nós. Junto com ele, minha mãe o acompanhava, agarrada aos braços do mais velho.

— Bom, quem é a vítima da vez?

Minha mãe da um tapinha no seu braço, como se pedisse para que o marido pudesse ter modos.

— Boa tarde, senhor. — Noah diz, e tira uma das mais do bolso para cumprimentar meu pai — É um prazer em conhecê-lo. Meu nome é Noah.

Papai o olha de cima a baixo. Nenhuma palavra.

— Bom, sou namorado da sua filha.

Urrea fala isso com tanto sofrimento na voz que me faz querer pular em cima dele, ou atropela-lo com um caminhão de carga.

— Nos vemos no baile, menina. — meu pai responde, levando ele e minha mãe dali. Fazia anos que ele não me chamava daquele jeito.

Ficamos quietos por instantes. E depois, eu mesma comecei a caminhar para a direção do carro de Noah, mas nem o vi sair do batente da casa.

— Você vem ou não vem? — gritei, me apoiando de costas da janela.

Noah simplesmente riu, deu a volta no carro e deu partida.

Eighteen ⁿᵒᵃⁿʸWhere stories live. Discover now