Perus mágicos? Caçada de perus?

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Chris Argent murmurou palavras em francês sob sua respiração, uma expressão frustrada em seu rosto ao perceber que tinha tomado uma rua errada, o que significava um desvio maior para chegar ao destino. Para ele, a distração não era apenas uma falha; era um tabu. Desde a infância, seu pai, Gerald, o treinara com rigor, incutindo nele hábitos quase paranoicos para autoproteção e prontidão contra seres sobrenaturais. "Nunca se sabe quando eles irão atacar", "sempre esteja preparado" — essas frases ressoavam em sua mente. Seguindo esses ensinamentos, Chris começava o dia aplicando loções corporais de fórmulas secretas da família, passadas por gerações. Estas loções, com seu cheiro peculiar, eram designadas para mascarar sua presença dos lobisomens, os seres sobrenaturais que os Argents caçavam há séculos.

Embora Chris tivesse renunciado à vida de caçador, abandonando o legado de sua família, os hábitos incutidos eram difíceis de erradicar. Agora, perdendo-se no caminho para a casa de John e Melissa, ele percebia talvez um sinal de que estava começando a relaxar, a desviar da mentalidade de que cada ação era uma missão de vida ou morte, necessitando de planejamento meticuloso e rotas de fuga elaboradas. A única "arma" que ele carregava agora eram seus utensílios de sushiman, uma profissão que abraçara como refúgio após deixar a família Argent.

— Pai, por que está sorrindo? Você sabe que pegou a rua errada, né? Vamos nos atrasar! — a voz de Allison Argent, sua filha, o trouxe de volta à realidade. Sentada ao seu lado, Allison parecia ainda abatida. Sua pele branca estava mais pálida que o usual, e seus longos cabelos ondulados e escuros haviam perdido um pouco de seu brilho habitual. Ela estava se recuperando de uma recente internação hospitalar; seu ombro e braço, ainda enfaixados, testemunhavam o ferimento grave infligido por Gerald Argent. Apesar disso, sua recuperação parcial demonstrava uma resiliência admirável, um reflexo de sua força inerente.

— Não se preocupe, não vamos nos atrasar, — garantiu Chris, acalmando Allison com um sorriso gentil. Ele sentia-se aliviado ao ver sua filha tão animada, embora uma preocupação pairasse em sua mente: o temor de que Allison pudesse sofrer ao ficar mais tempo em casa e se deparar com as memórias de sua mãe falecida. Chris sabia que não poderia simplesmente apagar a presença de sua ex-esposa de suas vidas; apesar da traição e dos crimes, ela permaneceria como uma sombra persistente em suas memórias. Então, abraçou com gratidão a oportunidade de se distanciar de casa, aceitando com entusiasmo o convite de Scott, Stiles e John para o jantar de Ação de Graças.

— Será que eles vão gostar da tarte tatin? Não é muito convencional, — questionou Allison, olhando ansiosamente para a torta de maçã invertida, cuidadosamente protegida em seu colo.

— Os americanos adoram torta de maçã, e a tarte tatin é uma variação deliciosa, — respondeu Chris, sorrindo. —E considerando que estamos falando da família de Stiles e Scott, duvido que se importem com convenções.

Allison riu, concordando.

Enquanto percorriam as ruas tranquilas dos subúrbios de Beacon Hills, o ar no carro tornou-se estranhamente denso, quase tangível. De repente, o motor do carro começou a falhar, forçando Chris a parar. O rádio, por sua vez, ligava e desligava freneticamente, alternando entre estações e criando uma cacofonia bizarra de vozes e músicas. Allison olhou para o pai, seus olhos refletindo um medo crescente. Chris vasculhou apressadamente o carro em busca de sua faca de sushi, quando uma esfera de energia cintilante começou a se formar no banco traseiro.

A tensão no carro se dissipou quando Chris reconheceu a origem daquela manifestação. A esfera de energia logo se transformou, revelando a figura de um homem com cabelos escuros como a noite, olhos que brilhavam como esmeraldas, e pele com um tom suave de chocolate.

Beacon Hills Institute - especial Ação de GraçasOnde histórias criam vida. Descubra agora