• capítulo dois: fugir.

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Você pode vir ao Aurora sempre que estiver aqui. Estou ansioso por isso, Cecily.

O bar Aurora foi de fato a primeira ideia que tomou minha mente com imagens inventadas por hora, devaneando na fertilidade de minha imaginação o que Phil Hawkins faria com o poder de ter o controle de um próprio estabelecimento em mãos, de como seria os detalhes impostos imperfeitamente de modo proposital coagido pela característica padrão de insolência, rebelde como demonstrava a capa revelada á primeira vista pronta para receber seus julgamentos e aquele rapaz era um depósito deles, talvez pelas incontáveis tatuagens, ou pelo complexo de superioridade, ou pelas manias descaradas de flertes á provocações maldosas, ou pelo cigarro capturado pelos lábios cheios sempre que possível como se vivessem em seu eterno calabouço na boca carregada de fumaça e palavras ardilosas. Independente do que fosse, ele não ligaria e talvez eu admirasse isso ao mesmo tempo que invejava a capacidade de simplesmente não se importar.

O pescoço tingido na cor escura com alguns desenhos quase indecifráveis tencionou por um segundo, mas quase não foi possível ver a olho nu, pelo menos eu não consegui, pois na minha visão apenas se preenchia um sorriso iluminado, sem graça e um tanto pequeno, direcionado somente para mim. Phil sorria, mesmo após soltar uma informação que explodiu minha cabeça ele ainda sorria como um perfeito cafajeste.

– O que? Como.. Do que você está falando? – as primeiras palavras foram minhas, mesmo que desconexas, fracas e tolas elas insistiram em pular fora de minha garganta.

– É bom te ver também, Cecy, pela primeira vez. – ele responde com amabilidade, talvez casual demais, o que transformava a tensão daquela situação em completa zombaria.

Porque Phil conseguia ser um perfeito inconveniente quando queria, ao ponto de quase dizer que estava acostumada com isso se tivéssemos mais tempo, um pouco mais de conversa com aquele que se escondia atrás de suas segundas intenções enquanto me convidava para ir ao seu próprio bar após a primeira troca de mensagens.

Todavia, não podia negar que talvez soasse um pouco rude pelo menos não o cumprimentar dada a razão de que mesmo em meio aquela anarquia atroz ainda existia a comoção de vê-lo em forma física de frente aos seus olhos pela primeira vez, por mais que meu coração estivesse quase saltando para fora da caixa fragilizada que o revestia, algo constante de modo exagerado ao ponto crucial de sentir familiaridade todas as vezes que acontecia. Todas as vezes que mencionavam algo sobre ele.

– Acho que você sabe que eu sou a pessoa menos cortês que você pode encontrar agora, quer dizer, olhe meu estado. – Gesticulando, meus dedos balançaram levemente em um movimento sútil de braços ao querer indicar meu rosto, trazendo o olhar de Phil até o mesmo outra vez.

Naquele ponto não existia mais disposição alguma para qualquer coisa que se qualificava nos termos normais de uma garota de vinte e três anos, dentre elas algo que estava recorrente em minha rotina: Uma maquiagem básica. Não gostava de atrair olhares. Isso foi bom no final, caso contrário minhas bochechas estariam sujas pela tinta preta de um delineador simplório derretido pelas lágrimas, mas não tive como evitar a vermelhidão me pincelando quase por completa, pulsando minha pele, consequente do choro recente. Esse era meu estado atual.

– É, eu sei e só por isso que não pedi um abraço, mesmo que possa estar gravemente machucando meu coração. – não podia negar que era impressionante o fato de que o humor já fazia parte de seu vocabulário, como se fosse impossível dizer algo se quer que não fosse movido a zombaria.

– Phil.. – Jessy, como sempre, repreendeu o irmão com um alerta assoprado, um fio de voz quase inexistente.

A ruiva ainda estava ali, com um celular dançando em suas mãos em meio a vibrações incessantes e só pude perceber isso quando o sopro de sua voz se fez presente no decorrer da minha conversa com Phil.

afterlife • jake donfort/duskwoodWhere stories live. Discover now