Capítulo 2

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Addison

- Nunca ouviu falar de mim? —eu ri desacreditada

  - Deveria?

Se fosse em qualquer outro momento, com qualquer outra entrevistada, eu já a teria colocado na rua. E por mais petulante que esta loira pareça ser, eu não consigo explicar o porquê, mas meredith me despertou uma vontade muito grande de continuar esse jogo com ela.

Você só pode estar perdendo sua essência, addison.

- Deveria sim senhorita grey, afinal, nunca ter ouvido falar da revista elegance queen, é realmente um absurdo. Nós não estamos entre as melhores, por coincidência. —voltei a colocar meus óculos sobre os olhos, e pude notar um respirar mais fundo vindo da parte da jovem a minha frente.

- Mas eu não disse que não conhecia a revista. A propósito, eu gosto muito de estar a par do mundo da moda.

- Mas disse que não me conhecia, o que é impossível, pois eu SOU a revista, sem mim, nada funciona. E... tem certeza de que você gosta de estar a par do mundo da moda? —ri de um jeito irônico, essa mulher só pode estar doida mesmo, já ouvi falar que as pessoas gostam de usar o all star sujo por moda, nunca entendi isso na verdade, mas o dela?? Meu Deus, está quase desintegrando!

Sentei em minha cadeira e dei sinal para que meredith fizesse o mesmo com a cadeira em sua frente. Encarei aquelas esmeraldas por longos segundos, e por mais que pareça bobagem, era um olhar viciante.

- Olhe, meredith, você já teve experiência com este tipo de trabalho??

- Não, mas garanto que posso aprender rápido.

Meredith parecia muito nervosa. Observei ela enrolar uma linha em seus dedos enquanto falava comigo. Aquilo parecia doer um pouco, mas acho que ela não notou, até por que seus olhos estavam fixados aos meus.

- Por que você quer esse emprego??

- Porque eu necessito dele. Não sou igual algumas pessoas que já nasceram em berço de ouro, e estão com a vida ganha. Não. Eu preciso ralar, e ralar muito ainda.

- Cuidado com as pessoas que você pensa que nasceram em berço de ouro. Cada um tem sua vida. Não cabe a senhorita rotula-lás.

Um silêncio desconfortável cresceu entre nós. Peguei o currículo dela e passei a ler calmamente. A garota era muito boa em todos os empregos que passou, aqui dizia que ela era ágil, eficaz, e... um arrepio subiu instantaneamente pelo meu corpo quando eu li o próximo tópico, "boa com as mãos"

- Boa com as mãos... —soltei sem pensar, e senti a droga das minhas bochechas queimarem. Odeio elas por isso, me entregam sempre.

- A senhora está bem?

Eu apenas assenti quieta.

- Boa com as mãos pois eu trabalhei durante dois anos em uma empresa que empacotava produtos de beleza, para exportar pro exterior. Eu era bem rápida mesmo, fico feliz que aquele idiota do meu che... opa, desculpe.

Eu ri fraco, meredith parecia ser uma mulher bem forte e, pelo visto, muito sincera. As mulheres que passaram por aqui querendo a vaga eram... não sei bem dizer, elas pareciam querer rastejar e beijar meus pés pela vaga. Meredith apenas parece o tipo de mulher que não se humilharia assim. Por mais que eu goste de toda essa idolatração, é bem mais legal ser desafiada. Eu gosto disso nas pessoas. Gostei dela.

Gostei?


- Meredith, você é diferente, de uma forma não muito legal, não se veste bem, isso é fato! Vejo, também, que gostou muito de me desafiar. Então... eu te ligo se precisar que você preencha a vaga.

- Ei ei, o seu trabalho é só ver se eu serei uma boa profissional, e não falar que não me visto bem e sou diferente de um jeito ruim. Talvez a única coisa ruim aqui não seja eu.

Fui obrigada a levantar de novo da mesa, e caminhar até ela.

- E o que você quer dizer com isso?? Que eu sou a coisa ruim??

- Se a carapuça serviu.

- Você é muito petulante...

Estávamos a um palmo de distância, e por breves segundos, pude sentir o cheiro doce vindo das ondulações de seus cabelos louros, e, vendo agora de perto, meredith tinha uma beleza surreal. Eu ficava só um pouco maior que ela, por conta dos saltos, claro. Mas ela era uma mulher e tanto.  Arrisquei olhar rapidamente para os seus lábios, só não achei que quando eu voltasse a encarar seus olhos, ela é quem estaria fitando os meus lábios.

- Você passou no teste, bem vinda a elegance queen—peguei em suas mãos de uma forma delicada, e desenrolei o pequeno fio de seus dedos. Eles estavam marcados

- Espere, eu... passei?? Não vai me fazer mais perguntas? Ou zoar minhas roupas? Ou então falar do meu tênis, pensa que não vi seu nariz torto para ele?

- Cale a boca, um instante. —Meredith olhou eu desenrolar o fio atentamente, depois subiu seu olhar, e eu entendi um obrigada tímido

- Achei que você fosse me matar, depois das coisas que te falei.

- Se fosse qualquer outra pessoa, eu mataria, pode ter certeza. Mas, as suas ex concorrentes eram tão iguais, eram comuns, elas tinham medo, receio, e, eu não vi nada disso em você. Exceto no começo, que você estava bem nervosa, não é? —eu disse enquanto balancei o pequeno fio na sua frente, e depois o descartei no lixo— você é um mistério, meredith. E eu gostaria muito de te desvendar.

Soltei as mãos dela e me afastei.

- Esteja aqui amanhã as 7:00. Obrigada. 

Eu sai da sala e todos encaravam meredith e eu de forma ansiosa. Olhei para minha segunda assistente, Elisa, e pedi para que ela encerrasse todas as outras entrevistas.

- Meredith começa amanhã.










(...)





Meredith

- Você conseguiu, mer!! Eu sabia! —Sofia me agarrou em um abraço apertado. Estávamos saindo da revista.

- Achei que não iria conseguir, te juro! Achei até que ia morrer dentro daquela sala. Uma vibe meio pânico.

Sofia deu uma gargalhada e atravessamos a rua, ela parou e ficou olhando para qualquer táxi que viesse primeiro para dar sinal. Por outro lado, eu parei e fiquei olhando o outro lado da rua, e observei cuidadosamente addison entrar em um carro muito chique. É claro que era dela, mas quem dirigia provavelmente era seu motorista particular. O que me surpreendeu mesmo, foi a forma de como nos olhamos calorosamente. Ela tirou seus óculos com cuidado, e levou a ponteira dele até seus lábios, sorriu, e entrou no carro. Meu corpo ficou super aquecido, e então, sem tirar os olhos do carro preto que ia se distanciando, perguntei depressa para Sofia:

- A senhora montgomery, é casada?

Quando estranhei o silêncio e decidi me virar para minha amiga, seus olhos estavam arregalados. Droga, meredith.

•O diabo veste grife•Where stories live. Discover now